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Os orfanatos podem se tornar um negócio do passado

ORPHAN STANDING IN DOORWAY

Lynne Dobson | Miracle Foundation

John Burger - publicado em 29/09/18

Catholic Relief Services e Miracle Foundation conduzem o caminho para a transformação das instituições de acolhimento de crianças

Seja qual for a imagem que vem à mente quando a palavra “órfão” é mencionada, os orfanatos estão mudando e podem se tornar algo do passado.

Há uma percepção cada vez maior de que muitos “órfãos” hoje têm pelo menos um pai vivo, e que, se possível, voltar para casa seria muito mais benéfico do que ficar em uma instituição.

Especialistas na área imaginam um dia em que os orfanatos receberão apenas as crianças que realmente precisam estar lá, e as instituições são transformadas em centros comunitários onde as famílias podem recorrer ao apoio que precisam para manter seus filhos em casa.

Após o devastador terremoto no Haiti em 2010, o número de crianças nos orfanatos aumentou “exponencialmente” por causa da separação familiar, disse Shannon Senefeld, da Catholic Relief Services (CRS). Mas a CRS, a agência de ajuda externa e desenvolvimento da Igreja Católica nos Estados Unidos, conseguiu reunir muitas crianças com seus pais através do “rastreamento familiar”.

“Então começamos a pensar que isso poderia ser possível em outros lugares também”, disse Senefeld, o vice-presidente de impacto e garantia de qualidade do programa da CRS. “Nós descobrimos que ainda havia muitos pais visitando crianças em orfanatos… ou as crianças voltavam para suas casas para uma visita. Começamos a pensar: ‘Por que eles estão em orfanatos se não são realmente órfãos?’”.

“Então fizemos essa pesquisa na Zâmbia e descobrimos que muitas crianças viviam em orfanatos por causa da pobreza”, disse Senefeld em uma entrevista.

“Suas famílias pensavam que as crianças poderiam ter acesso a uma educação ou cuidados de saúde se fossem colocadas em um orfanato. Então isso se tornou uma alternativa para os pais que não tinham recursos disponíveis em suas casas. Muitos achavam que seria uma solução temporária até conseguirem reunir recursos. Mas eles quase nunca conseguiram reunir os recursos de que precisavam. Assim, as crianças ficaram cada vez mais distantes de suas casas, suas famílias e suas comunidades”.

Separadamente, depois de visitar a Índia em 2000 e ver algumas condições muito ruins nos orfanatos, Caroline Boudreaux desistiu de uma carreira empresarial bem sucedida para fundar a Miracle Foundation. A fundação, com sede em Austin, Texas, ajuda a transformar orfanatos em países em desenvolvimento e ajuda a levar os filhos de volta para casa.

“Muitas pessoas pensam que se colocarem seus filhos em uma instituição eles serão alimentados e educados, mas, muitas vezes, [os orfanatos] não têm pessoas suficientes para cuidar deles e amá-los, então estão perdendo um dos componentes mais básicos de ser um ser humano, que é essa pertença ou afeto”, disse Boudreaux em uma entrevista.

Para os órfãos que não têm para onde ir, a Miracle Foundation ajuda a garantir que os orfanatos estejam de acordo com os padrões internacionais. A fundação desenvolveu diretrizes baseadas em 12 dos 141 “direitos da criança” na Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança.

“Um deles é o direito de viver com seus pais ou parentes, se possível”, disse Boudreaux. “Fazemos uma avaliação de todas as crianças (em um orfanato particular) e descobrimos: eles têm pai e mãe? Eles podem ir para casa? Eles têm uma mãe solteira e ela só precisa de nós para pagar a escola para que as crianças possam voltar para casa?”.

A fundação também faz uma avaliação de saúde e rastreia coisas como altura, peso e a quantidade de ferro no sangue. Eles acompanham as vacinas e observam a anemia.

“Nós nos associamos com um médico local ou nutricionista, e eles apresentam um novo cardápio e começamos a alimentar as crianças com um cardápio melhor, incluindo frutas e vegetais frescos. Você literalmente vê a altura e o peso da criança subir na tabela de crescimento”, explicou Boudreaux.

A Miracle Foundation descobriu que a proporção média de cuidador por criança em orfanatos em países em desenvolvimento é de 1 cuidador para 80 crianças. Estão trabalhando para reduzir isso para 1 cuidador para 20 crianças. Também é importante apoiar o pessoal do orfanato, especialmente os cuidadores, disse Boudreaux.

“Há quanto tempo esse cuidador está lá? Qual é o nível de educação desse cuidador? O cuidador é pago em cheque ou em dinheiro? Eles têm uma maneira de economizar dinheiro e eles têm uma conta bancária?”, são algumas das questões que a fundação examina.

“Treinamos os cuidadores todos os meses, no desenvolvimento da criança e como disciplinar as crianças”, disse ela, acrescentando que a fundação trata o orfanato “como uma empresa” para promover mais profissionalismo. “É como uma franquia. Todos têm o mesmo modelo comercial”, afirmou. “Nós os ajudamos a encontrar um contador; nós conseguimos software de computador. Todos têm o mesmo programa. Como você acompanha a trajetória de 160 crianças? Nós ensinamos a eles como angariar fundos”.

Outro aspecto é orientar o pessoal do orfanato sobre como levar as crianças de volta para casa e como responder aos pedidos de admissão para que cada instituição não fique sobrecarregada. “Então, quando a próxima família entra no orfanato e diz ‘Pegue meu bebê, eu sou muito pobre’, a doce freira não vai dizer, ‘Com certeza, eu vou fazer isso’. Precisamos dar a ela a linguagem e as políticas para manter as crianças fora das instituições”.

Neste momento, a fundação está trabalhando com orfanatos na Índia, Uganda, Quênia, Serra Leoa e Etiópia, mas espera começar a trabalhar com orfanatos na Nicarágua e na Guatemala. “Neste momento, trabalhamos com 50 orfanatos e esperamos chegar a 75 no final do ano”, disse Boudreaux.

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