O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reavivou a tensão nesta quinta-feira (29) ao cancelar, de última hora, o seu encontro com seu homólogo russo, Vladimir Putin, horas antes do início oficial em Buenos Aires da reunião de cúpula do G20.
“Me baseando no fato de que os navios e os marinheiros não foram devolvidos à Ucrânia da Rússia, decidi que seria melhor para todas as partes envolvidas cancelar a minha reunião previamente programada na Argentina com o presidente Vladimir Putin”, escreveu Trump no Twitter.
Entretanto, acrescentou, confia ter “uma reunião significativa” com o líder russo “assim que essa situação se resolver”.
O encontro era um dos pontos fortes do evento, que acontecerá na sexta-feira e no sábado, 10 anos após a criação do fórum, que reúne economias desenvolvidas e emergentes desde 2008.
Mas o agravamento do conflito entre Rússia e Ucrânia forçou o presidente americano a se distanciar de Putin, depois que a Guarda Costeira russa tomou o controle de três navios da Marinha ucraniana no Mar Negro, perto da península ucraniana da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014, disparando contra eles e deixando três feridos entre os marinheiros a bordo.
“Assim é como agem os grandes líderes”, celebrou o presidente ucraniano, Petro Poroshenko, no Twitter. Mas a notícia caiu como um balde de água fria no Kremlin, e um porta-voz esclareceu que Moscou ainda não foi oficialmente informado.
Os presidentes americano e russo se reuniram quatro vezes desde que Trump chegou à Casa Branca, mas apenas uma vez durante uma cúpula, em Helsinque em junho deste ano.
Em seus encontros, os dois presidentes manifestaram a sua intenção de iniciar uma nova etapa nas relações entre Washington e Moscou. Porém, a investigação sobre uma suposta ingerência da Rússia na campanha presidencial americana de 2016 provoca muita tensão nos Estados Unidos.
– Multilateralismo em jogo –
Os líderes das principais economias do planeta desembarcam em Buenos Aires para participar da cúpula, marcada por uma guerra comercial entre Estados Unidos e China, as duas maiores economias do planeta.É, portanto, a reunião entre o presidente americano e seu homólogo chinês, Xi Jinping, que ganha todos os holofotes.
Nesta quinta-feira, o presidente americano já impôs a sua agenda e anunciou que um acordo comercial com Pequim estava próximo. Mas imediatamente esfriou as esperanças de avanços: “acho que estamos muito perto de fazer algo com a China, mas não sei se quero fazê-lo”, disse Trump a jornalistas da Casa Branca antes de iniciar sua viagem.
Os mercados esperam que se possa chegar a um acordo antes do fim do ano, quando as tarifas alfandegárias americanas aumentarem significativamente.
Os Estados Unidos farão um gesto comercial significativo quando, no âmbito desta cúpula, assinar o novo tratado comercial com México e Canadá, que substituirá o Nafta, rejeitado por Trump após 24 anos de vigência.
E nas ruas já são preparados protestos previstos para sexta-feira.
“O G20 é onde os poderosos do mundo se reúnem para planejar o aprofundamento do capitalismo. (…) Não é por acaso que excluam os próprios habitantes do uso do espaço público”, disse à AFP Juliana Díaz, uma argentina que participa de um dos eventos críticos a um G20, que deixou bloqueada boa parte da cidade.
– O clima na pauta –
Trump também deverá medir forças com o presidente da França, Emmanuel Macron, que pretende incluir nos primeiros pontos da agenda do G20 o aquecimento global, antes da conferência climática das Nações Unidas, COP24, em 2 de dezembro na Polônia.
O republicano, um crítico feroz do conceito de mudanças climáticas, retirou seu país dos acordos ambientais de Paris em junho de 2017, pouco depois de chegar à Casa Branca.
As atenções também estarão voltadas para o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohamed bin Salman. A pedido da Human Rights Watch, a Justiça local abriu uma investigação sobre Salman, envolvido no escândalo sobre o assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi, que trabalhava para o Washington Post, no consulado de Riad em Istambul.
Em meio a essas tensões geopolíticas, a cúpula terá espaço para um momento histórico.
A primeira-ministra britânica, Theresa May, chegará a Buenos Aires como a primeira líder britânica a pisar em solo argentino desde a Guerra das Malvinas, em 1982.
(AFP)