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Vamos parar de tentar “vender” o Evangelho

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A.PAES | Shutterstock

Robert McTeigue, SJ - publicado em 07/07/19

Um vendedor sempre vende o Evangelho encurtado. Mas aqui está uma maneira melhor de proceder

Qual é a marca registrada de um bom vendedor? Alguns dizem: “um bom vendedor é aquele que consegue vender-lhe algo de que você não precisa, como gelo para um esquimó!”

Outra definição: “um bom vendedor é capaz de lhe vender algo sobre o qual você pensa: como consegui viver sem isso até hoje?”. Exemplo: lembro que houve um tempo em que eu não tinha smartphone.

Mas como um bom evangelizador poderia “vender” o cristianismo? Bem, do ponto de vista do marketing, apregoar o cristianismo como um meio para, digamos, aumentar autoestima, bem-estar, riqueza (e as muitas outras formas do chamado “evangelho da prosperidade”) tem uma longa e variada história. É um erro que não desaparece.

Um motivo para não desaparecer é porque, em certo sentido, funciona. Em uma sociedade orientada para o consumidor, onde existem infinitas opções disponíveis para prazeres e satisfações (aparentes), a única maneira de a marca cristã obter “espaço na prateleira” na mente do consumidor é oferecer ao consumidor o que ele já quer, mas com algum tipo de logotipo cristão.

Mas o mundo será sempre mais divertido e eficaz na tarefa de oferecer bens mundanos.

Cristãos bem intencionados podem cair no risco de diminuir o Evangelho ou até se envergonhar, quando, por exemplo, comercializarem camisetas em que se lê: “Jesus é meu amigão”.

Temos sido alertados contra esse tipo de erro constantemente. Diz C.S. Lewis que um homem que primeiro tentasse adivinhar “o que o público quer”, acabaria pregando o cristianismo de forma tola.

Se os evangelizadores cristãos estiverem procurando “clientes”, ficarão envergonhados quando Jesus disser:

Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduzem à perdição e numerosos são os que por aí entram. Estreita, porém, é a porta e apertado o caminho da vida e raros são os que o encontram. (Mateus 7, 12-14)

O caminho que faz justiça às exigências do portão estreito foi descrito pelo crítico de arte John Ruskin:

Nenhum cavaleiro mentiroso ou sacerdote mentiroso prosperou em qualquer época, especialmente nas épocas mais obscuras. Os homens prosperaram apenas ao seguir um propósito abertamente declarado, pregando credos verdadeiramente amados e confiáveis.

Quem pode negar que estamos em tempos sombrios? Se o conteúdo de nossa pregação é para ser verdadeiramente o Evangelho, por certo temos pregadores que já estão se submetendo à disciplina necessária para encontrar e entrar na “porta estreita” de Cristo. Nossa pregação deve ser mais do que uma obra humana. O renomado pregador Charles Spurgeon ensinava:

O Evangelho é pregado aos ouvidos de todos os homens; mas só vem com poder para alguns. O poder que está no Evangelho não está na eloquência do pregador; de outro modo, os homens seriam conversores de almas. Nem está no aprendizado do pregador; do contrário, poderia consistir em sabedoria dos homens. Poderíamos pregar até que nossas línguas apodrecessem, até que esgotássemos nossos pulmões e morrêssemos, mas nunca uma alma seria convertida a menos que houvesse poder misterioso – o Espírito Santo mudando a vontade do homem. Ó senhores! Podemos pregar para muros de pedra ou pregar para a humanidade, contato que o Espírito Santo esteja com a palavra, para lhe dar poder para converter a alma.

Quando eu ensinava seminaristas, eu lhes dizia que a qualidade deles como confessores estaria diretamente relacionada à sua qualidade como penitentes. Somente os pecadores que encontrassem a graça salvadora de Cristo no sacramento teriam a generosidade e a compaixão necessárias para serem confessores justos e misericordiosos.

Da mesma forma, somente os pregadores que se reconhecem resgatados do pecado e resgatados por Cristo teriam o bom senso de buscar a unção do Espírito Santo antes de abrir suas bocas.

Se nos encontrarmos à procura de técnicas, truques, novidades ou brilho para “vender” o Evangelho, faríamos bem em considerar se acreditamos ou não que Jesus de Nazaré é o Cristo de Deus. Devemos perguntar se realmente acreditamos que apenas a “porta estreita” leva à vida. É mais provável que pareçamos credíveis para os futuros convertidos se nós mesmos já estivéssemos convertidos a Cristo.

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