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Deus, Covid-19 e sofrimento: se Deus é bom, por que permite o mal?

RIO

Allan Carvalho | AGIF

Miriam Diez Bosch - publicado em 15/05/20

Muitos se perguntam sobre a pandemia, quando "na realidade sempre existiram pragas e pestes: a vida humana é frágil

Em tempos difíceis, as pessoas geralmente se aproximam de Deus, mas também pode acontecer o contrário.

É o que explica o filósofo Miguel Pastorino, protagonista do recente webinar organizado por Aleteia.org, neste caso dedicado ao tema do sofrimento e à Covid-19.

Pastorino, professor da Universidade Católica do Uruguai e especialista em seitas, iniciou sua conversa virtual, à qual se juntaram pessoas de diferentes países, reconhecendo que “com o coronavírus, a questão sobre Deus ‘permitir o sofrimento’ ganhou relevância novamente”.

O especialista começou afirmando que “há pessoas que veem a Deus nessas crises”, mas ao mesmo tempo, o momento é “usado como argumento para mudar para o ateísmo”.

Miguel Pastorino, que é membro fundador da Rede Ibero-americana de Estudo de Seitas (RIES), observa que “a filosofia, desde suas origens, tem discutido como compatibilizar a ideia de um Deus bom com a existência de sofrimento, injustiça e maldade”.

Ele questiona: “que imagem temos de Deus?”

E estende isso a todas as religiões: a distorção da imagem de Deus é um problema que transcendeu a uma religião específica.

Fragilidade humana

Muitos se perguntam sobre a pandemia, quando “na realidade sempre existiram pragas e pestes: a vida humana é frágil, mas parece que descobrimos hoje que ficamos doentes e morremos…”, diz Pastorino.

“É essa visão global de um novo fenômeno que parece nos lembrar que somos mortais” e, portanto, “as grandes questões da história da filosofia surgem hoje também”.

Ele convidou a rever algumas imagens de Deus que não são compatíveis com o Evangelho e a fé cristã. Disse que filósofos como Marx ou Nietzsche “combatem uma imagem de Deus pintado como um monstro sádico que deseja que os homens sofram, e os cristãos também devem combater essa imagem”.

“Marx vê a religião como o ópio do povo porque ela legitimaria a pobreza”. Mas Deus não quer que as pessoas sejam pobres, disse Pastorino.

“Deus ama e é amor, Ele cria um espaço de liberdade e nem tudo o que acontece é vontade de Deus, nem tudo o que acontece é desejado por Deus.”

“Provoca um curto-circuito essa ideia grega de um Deus onipotente, mas se formos à Bíblia, vemos que Deus é Jesus, que se entrega por nós e é morto… mas isso não é compatível com a imagem do Deus que ‘dirige’ o destino do homem”.

Pastorino colocou então uma pergunta: tudo o que acontece no mundo é desejado por Deus?

“Estaríamos nas mãos de um tipo difícil”, ele respondeu. “Imagine se Deus, o Pai, queria que Jesus fosse humilhado e crucificado; é isso que um pai quer para seu único filho? Se esta é a imagem que temos de Deus, “não pensemos em pedir algo a Ele!”

Amor infinito

Mas não, este não é o Deus de Jesus Cristo: “A vontade de Deus é que Deus quer amar. E se, ao amar até o fim, eles vão matá-lo dessa maneira, que assim o façam, mas eu vou amá-los até o fim”, disse ele.

“Deus faz do mal uma oportunidade para o bem, mas Deus não ordena, a diferença é sutil: que Deus permita que algo não é o mesmo que dizer que Deus deseja positivamente”.

“Às vezes existem ateus pelo mau testemunho dos cristãos, porque pregamos um Deus que faz você querer fugir”, acrescentou.

“A fé nos ensina que Deus é amor infinito”, explicou.

“Deus nos ama, nos acompanha, sofre conosco; quem ama você, sofre com o que você sofre, não está do outro lado da rua dizendo o que você precisa fazer.”

“Rezar é abandonar-se em Deus, confiando e sabendo que quando rezo é que estou me aproximando de Deus”, disse neste webinar que foi moderado pela jornalista Inma Álvarez, editora da edição em espanhol da Aleteia.

Pastorino disse ainda: “a oração tem mais a ver com o abandono do que com pedir coisas”.

“Tornamos a oração instrumental para alcançar as coisas, mas isso é muito infantil; a oração é mais profunda, é o encontro de amor com Deus”.

Pastorino sugeriu rever a si mesmo, tentando encontrar o Deus que é o amor, o Deus do Evangelho. O Evangelho é uma boa notícia, não um manual de moral”, concluiu.

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