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Como se ataca a Igreja alegando defender a fé

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OSSERVATORE ROMANO / AFP

Francisco Borba Ribeiro Neto - publicado em 20/09/20

A oposição entre Bento XVI e Francisco vem sendo construída artificialmente, por grupos que desejam instrumentalizar o Papa Emérito para atacar seu sucessor

Recentemente, em Roma, manifestantes contrários ao uso de máscaras para proteção contra a COVID-19 agitavam bandeiras de Bento XVI e um ativista queimou uma foto do Papa Francisco. A associação entre a questão religiosa e as medidas de proteção contra a pandemia foi coisa de uns poucos extremistas. Independentemente das posições pessoais sobre o uso ou não de máscaras, da maior ou menor confiança que cada um deposita nas indicações da comunidade científica, é forçoso reconhecer que os dois papas não têm nada a ver com um gesto político de contestação às normas sanitárias adotadas pelos governos.

Contudo, e aqui sim vale uma reflexão mais aprofundada, a oposição entre Bento XVI e Francisco vem sendo construída artificialmente, por grupos que desejam instrumentalizar o Papa Emérito para atacar seu sucessor. São duas personalidades diferentes, que impulsionam a Igreja em sentidos diferentes, mas complementares e sempre ancorados no Evangelho e no amor a Cristo. O próprio Bento XVI, ao renunciar, deixou implícito que considerava chegado o momento da Igreja trilhar novos caminhos.

As muitas declarações de continuidade, afeto e obediência que um fez em relação ao outro têm pouca significância para quem já se decidiu a imaginar a Igreja dividida. Para esses, as notícias dadas pelo Vaticano e amplamente divulgadas são todas falsas, mais valem as “informações secretas” dadas pelos autores das fake news ou as análises rancorosas de quem se considera mais autorizado a falar pelo Espírito Santo que a própria Igreja. 

O Barrabás de Lagerkvist

O episódio me lembrou o Barrabás do livro de Pär Lagerkvist (Rio de Janeiro: Editora Delta, 1966), que se tornou filme, com o personagem título interpretado por Anthony Quinn. O autor imagina que Barrabás, após ser libertado no lugar de Jesus, nunca mais encontra a paz. Toda a sua vida subsequente é consumida tentando entender Àquele que foi crucificado em seu lugar. Mas não consegue aderir ao cristianismo. Quando Nero manda atear fogo a Roma, para acusar os cristãos, Barrabás une-se aos incendiários, acreditando que assim irá finalmente seguir a Cristo. Termina preso e condenado a morrer na cruz, como aqueles que ele – imaginando imitar – tinha ajudado a condenar.

Barrabás não vai além de seu mundo de cólera e ressentimento. Por isso, não consegue entender e seguir um Deus de amor. Em dados momentos, todos podemos agir como ele, nesses nossos tempos, marcados pela polarização, pela desilusão com as lideranças políticas e econômicas, com a insegurança diante dos limites da ciências – a qual nos havia sido apresentada como onipotente.

Quando caímos nessa tentação raivosa, nos tornamos vítimas de notícias falsas, análises tendenciosas, divisões e frustrações. Atacamos antes de compreender, condenamos sem amar e acabamos errando mesmo quando queremos acertar. A raiva e a condenação só conseguem destruir, às vezes destroem coisas ruins, às vezes destroem coisas boas, muitas vezes só destroem a própria pessoa enraivecida. Nunca constroem.

Um critério seguro

Como podemos escapar dessas armadilhas? Como evitar que nosso justo desejo de defender a Igreja, as verdades da fé ou o nosso próximo ameaçado sejam instrumentalizadas contra o próprio anúncio cristão? O cristianismo sempre aponta para a positividade, a capacidade de construir uma sociedade melhor, amar o nosso irmãos – mesmo quando discordamos dele.

Um caminho de pura condenação não está obrigatoriamente errado. Censurar um assassinato é justo e moralmente válido, para dar um exemplo bem evidente. Contudo, se essa condenação se esgota em si mesma, trata-se de um caminho ainda totalmente humano, onde a graça não se manifestou. Não importa se vem recheada de citações bíblicas, referências a filósofos católicos e documentos do Magistério ou dados sobre gravíssimas violações da dignidade da pessoa, ela ainda não está na rota do encontro com Cristo que muda toda a realidade… E pode tornar-se a porta para uma posição destrutiva que serve ao mal e nos afasta da fé e da Igreja, ainda que tenhamos entrado em seu caminho justamente com a intenção de viver mais a fé e nossa pertença eclesial.

O caminho verdadeiramente cristão sempre aponta para a beleza, o amor e a esperança. Nos torna mais capazes de acolher o nosso irmão, tanto em seus sofrimentos quanto em seus erros, nos faz viver em unidade com toda a Igreja e com nossos irmãos mais próximos. Esse é um critério seguro para seguirmos a Cristo.

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Bento XVIIgrejaPapa Francisco
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