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Armênia e Azerbaijão: um resumo sobre o que está ocorrendo contra os cristãos

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Francisco Vêneto - publicado em 18/11/20
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Mais uma vez esse povo cristão perseguido é forçado a fugir de sua terra, levando até os corpos de seus antepassados para que não sejam profanadosArmênia e Azerbaijão: um resumo sobre o que está ocorrendo contra os cristãos daquelas terras, que, mais uma vez perseguidos, estão sendo forçados a fugir levando até os corpos de seus antepassados para que não sejam profanados.

As raízes do conflito no século XX

Durante grande parte do século XX, a Armênia e o Azerbaijão fizeram parte da falida União Soviética, um insustentável agregado de países antes independentes, com história e cultura completamente diferentes entre si, que passaram a ficar sujeitos ao governo central de Moscou. Ao longo desse período, o ditador comunista soviético Joseph Stalin promoveu o que chamava de “mistura de etnias”. Era uma forma de diluir as diversidades culturais, principalmente religiosas, e, supostamente, facilitar a homogeneização de todos os cidadãos soviéticos sob o modelo uniformista do comunismo. Com essa diretriz ideológica, Stalin colocou o território de Karabakh, histórica e culturalmente armênio e cristão, sob a administração da República Soviética do Azerbaijão, de população muçulmana.

Após a ruína e o desmembramento da União Soviética, os rancores nacionalistas explodiram em grande parte do antigo território soviético. No Azerbaijão, o sentimento antiarmênio levou a massacres contra a população armênia em várias cidades, incluindo a capital Baku. Neste cenário, a então região autônoma de Karabakh se autoproclamou independente do Azerbaijão, já que tinha não apenas uma população de maioria armênia, mas também toda uma história milenar ligada ao cristianismo. A independência não foi reconhecido pelo Azerbaijão, o que deu início a uma guerra entre esse país e a Armênia, apoiadora da independência de Karabakh.

A guerra de 2020

Em 2020, apesar da pandemia do coronavírus que manteve grande parte do planeta confinada em casa ou com sérias restrições de movimento, Armênia e Azerbaijão voltaram à guerra pelo controle do território de Nagorno-Karabakh. Após semanas de conflito, mortes e destruição, os dois países assinaram um acordo, em 9 de novembro, mediado pela Rússia e pela Turquia.

O acordo entre Armênia e Azerbaijão

Muitos armênios, porém, ficaram decepcionados e indignados com os termos desse acordo. Entre as condições do armistício, afinal, ficou estabelecido que o Azerbaijão conservaria os territórios conquistados na guerra e que as tropas russas ficariam instaladas em Nagorno-Karabakh durante cinco anos, a fim de manter a paz. O povo armênio enxerga o acordo como traição aos seus milhares de mortos e como abandono dos armênios que vivem em Karabakh.

A fuga dos armênios de Karabakh

Sabendo que passarão ao controle político do Azerbaijão, os armênios étnicos residentes em Nagorno-Karabakh estão compreensivelmente preocupados com a sua segurança, considerando até mesmo o risco de genocídio. A maioria desses residentes já está saindo do território rumo à Armênia, levando consigo tudo o que podem – inclusive os corpos de seus antepassados, para evitar que sofram profanação!


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Patrimônio cristão em perigo

O patrimônio cultural e religioso do povo armênio em Nagorno-Karabakh também entra em sério perigo: as igrejas podem ser destruídas ou transformadas em mesquitas e muitos locais cristãos, inclusive cemitérios, podem ser profanados. De fato, o Azerbaijão já foi denunciado pela Armênia por destruir um cemitério cristão na república autônoma do Naquichevão. Vídeos comprovaram a destruição dos túmulos e das tradicionais cruzes armênias de pedra.

A crise política e social na Armênia…

Em decorrência dos termos do acordo pelo fim do conflito, uma grave crise política se instaura na Armênia, com os partidos da oposição já exigindo a renúncia do primeiro-ministro. Protestos e manifestações violentas são esperados nas ruas do país, gerando instabilidade e aumentando a crise.

…e a piora da crise econômica

Além disso, a onda migratória de armênios forçados a sair de Nagorno-Karabak para o território oficial da Armênia deve ter impacto no aumento da pobreza no país: as pessoas deslocadas serão acolhidas por parentes, amigos ou conhecidos, aumentando a pressão por recursos que já são escassos. O desemprego já é alto e piorou com a crise da pandemia, que afetou com força o turismo. Além disso, o governo teve grandes gastos militares e, em decorrência, não conseguirá prestar auxílios econômicos suficientes à população.

Famílias destruídas

Grande número de famílias armênias perdeu familiares na guerra ou tem parentes mutilados para sempre.

O trauma do genocídio armênio de 1915

Todo esse panorama evoca de modo inevitável o genocídio sofrido pela Armênia em 1915 sob as forças do Império Otomano, que viria a ruir pouco tempo depois e daria lugar à atual República da Turquia. O sentimento de injustiça é muito presente no povo armênio vitimado pelas atrocidades daquele período. O trauma se torna aina mais profundo porque os perpetradores do genocídio insistem até hoje em negar que ele tenha acontecido: o governo turco jamais admitiu o genocídio e, ademais, se considera ofendido por esta acusação. A reivindicação de justiça faz parte não apenas das datas anuais que recordam o genocídio, mas também das conversas cotidianas dos armênios. A ferida, que continuava aberta e doendo, piora agora com mais sensação de injustiça e perseguição.



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Abandono internacional

Em declarações à fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre, o pe. Bernardo de Nardo denunciou “a hipocrisia de muitos governos que, enquanto promovem a paz em seus discursos, vendem armamento” para fomentar as guerras. O missionário argentino está na Armênia há três anos. Ele complementa a respeito dos governos estrangeiros:

“Eles mostram que têm muito mais interesse no petróleo e no gás desses países do que na vida das pessoas. É possível notar um claro expansionismo islâmico, apoiado por muitos países, e o desejo de que, na Ásia, antigos povos cristãos, como o armênio, desapareçam”.

De fato, o povo armênio se sente “esquecido e traído pela comunidade internacional, sempre mais interessada nos jogos geopolíticos do que na verdade, justiça e paz”, conforme as palavras do missionário católico.

Colaboração da Igreja Católica

O mesmo pe. Bernardo comenta que os católicos são minoria entre os cristãos armênios, que, tradicionalmente, mantêm a sua Igreja Apostólica Armênia. Ele destaca, no entanto, que a relação com a Santa Sé é de respeito mútuo, com as duas tradições cooperando em diversas questões em comum. No tocante à caridade e ajuda humanitária, a Igreja Católica serve aos armênios de modo particularmente intenso mediante a Legião de Maria e a congregação das Missionárias da Caridade, da Santa Madre Teresa de Calcutá.

Um futuro de justiça e paz?

O sacerdote finaliza:

“O povo armênio sempre ressurgiu em meio a calamidades indescritíveis e o fez em paz, sem vingança nem ressentimento, apenas exigindo justiça e sempre nas mãos do amor misericordioso de Jesus e Maria. Agora eles o farão mais uma vez. E, novamente, serão um exemplo para o mundo”.

O que não impede, diga-se de passagem, que as atrocidades contra os armênios sejam firmemente denunciadas perante o mundo e que a justiça em seu favor seja exigida e realizada.



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