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Falsa companhia aérea mostra como a imprensa pode divulgar fake news

Mom Air

Captura de Tela https://momair.is/

Francisco Vêneto - publicado em 23/11/20

6 mil pessoas chegaram a reservar passagens numa empresa que não existe: era um "experimento social"

Falsa companhia aérea mostra como a imprensa pode divulgar fake news e demonstra que, graças à disseminação de “notícias” não verificadas, milhares de pessoas podem ser facilmente enganadas.

O chamativo episódio aconteceu na Islândia, onde começou a ser divulgado o lançamento da empresa aérea Mom Air. Segundo a divulgação, a companhia ofereceria preços incomparavelmente mais baixos do que a concorrência, como viagens da Islândia à Inglaterra por valores inferiores ao equivalente a 400 reais.

A empresa adotaria o modelo low cost: para permitir as passagens baratas, ela cobraria por praticamente qualquer outro tipo de serviço. Normalmente, os serviços que são cobrados à parte se referem, por exemplo, à bagagem despachada e às refeições servidas a bordo. No caso da Mom Air, no entanto, seriam cobrados serviços tão surpreendentes como o uso de papel higiênico e de sabão líquido nos banheiros. Além disso, a companhia cobraria pela liberação de tomadas para carregar aparelhos eletrônicos, escolha de assento e até mesmo pelo colete salva-vidas (!)

A divulgação obteve resultados bastante significativos.

A suposta nova empresa lançou um site de aparência profissional, que chegou a ser elogiado como mais bonito e prático do que o de muitas empresas aéreas reais. Além disso, o envio massivo de comunicados a jornais, revistas e sites focados no setor aéreo ampliaram bastante a repercussão. A Mom Air conseguiu milhares de seguidores nas redes sociais e garantiu pelo menos 6 mil reservas de passagens aéreas, o suficiente para lotar 49 aviões com capacidade para 122 passageiros cada um.

O modelo low cost não era novidade alguma na Islândia, país que, até pouco tempo atrás, contava com a Wow Air. Esta empresa conectava Europa a Estados Unidos e Canadá com aviões menores do que os usados normalmente para cruzar o Atlântico. De fato, aeronaves como os A320 têm custo de leasing mais barato e requerem menos manutenção e menos tripulantes. Portanto, o seu custo geral é menor, o que permitia que a Wow Air cobrasse tarifas mais baixas. A empresa operou de 2012 a 2019, mas a pesada concorrência nas rotas transatlânticas não permitiu que ela se mantivesse competitiva o suficiente para que as contas fechassem no azul. A falência da Wow Air teve grande repercussão mundial porque deixou mais claras as limitações do modelo de baixo custo para rotas de longa distância.

Nada disso impediu, porém, que o “surgimento” da Mom Air fosse acolhido com entusiasmo pelos viajantes interessados em pagar menos, ainda que, para isto, não tivessem acesso a praticamente nenhum serviço durante o voo.

O “lançamento” da nova companhia corria muito bem até que o seu presidente, Oddur Eysteinn Fridriksson, declarou que tudo não passava de um atrevido “experimento social”. Oddur, que é artista e não executivo, explicou:

“Queríamos mostrar que a nossa realidade é obscura, que somos levados pelo marketing e que, simplesmente montando um website e enviando comunicados à imprensa, conseguimos virar o mundo de cabeça para baixo”.

A alusão à cabeça para baixo é irônica, já que “Mom” é apenas o nome da “Wow” literalmente virado.

Oddur, aliás, é filho de um dos profissionais que trabalharam na identidade visual da antiga Wow Air. Além do capricho no layout da “nova empresa”, o jovem adicionou ideias descabeladas como a venda de coletes salva-vidas e até a realização de voos “100% covid”, exclusivos para passageiros que tivessem testado positivo para o coronavírus.

As pessoas que reservaram passagens não receberam cobrança alguma. O “preço” que elas pagaram foi o de sentir na pele o quanto pode ser assustadoramente fácil ser enganadas por uma divulgação massiva e por uma boa estratégia de marketing, daquelas cuja veracidade a imprensa não se dá ao trabalho de averiguar antes de impulsionar.

Com informações de Aeroin e da CNN


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