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O estado de taquicardia patológica após mais de um ano de pandemia

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Di Cryptographer|Shutterstock

Vitor Roberto Pugliesi Marques - publicado em 15/03/21

O Estado é estéril nos locais reais de disseminação do vírus e não consegue, de fato, fazer valer a lei e a ordem onde estas deveriam ser, de fato, aplicadas

Passados mais de um ano de pandemia pela Covid-19, vislumbramos, no Brasil, um cenário nada consolador. 

Vemos, com a ascensão do número de casos, esgotarem-se os insumos em saúde para o tratamento da infecção, sobretudo no que tange aos leitos de terapia intensiva. Verifica-se também o surgimento de novas variantes do coronavírus, fato que complica ainda mais o controle epidemiológico da infecção. Há dados que sugerem o arrastamento da pandemia – e arrastamento de forma severa – até 2022. Conforme projeções feitas pelo portal Covid-19, mantido o ritmo atual, o Brasil pode chegar a 15 milhões de infectados e a 100 mil novos casos por dia, na média móvel, antes do fim de março. 

O que se tem tentado fazer ao longo dos meses são, sobretudo, medidas de diminuição do contágio: uso de máscara, álcool em gel e distanciamento social. Todas essas medidas são as melhores armas que temos para o momento contra a pandemia, visto que, em termo de terapias de prevenção e tratamento, tudo ainda é incerto e carece de evidencias científicas. E certamente essas evidências científicas demorarão um pouco para advirem em literatura médica, pois o processo de investigação científica baseada em evidências demanda tempo e pesquisas em diversos níveis, a despeito dos esforços científicos mundiais para abreviarem esse tempo.

Enquanto isso, o que vemos é um verdadeiro caos econômico, social e espiritual em nossa sociedade. Há muitos anos, o Brasil não é um país fácil de se firmar um negócio. Mesmo muitos vendo em nós um povo criativo, temos uma das mais altas taxas tributárias do mundo e um maquinário burocrático estatal tão complexo que limita (e muito) a abertura de empresas e, consequentemente, de novos empregos. Com as medidas restritivas, o que se vê são situações de desemprego, fome e queda dos lucros, cujo impacto na economia ainda não temos como dimensionar. Mas, se a vida vem em primeiro lugar, o sacrifício é justo e deve ser incentivado. Similarmente, o convívio social, tão importante psicologicamente falando, teve de ser tolhido ou reestruturado (por exemplo, por meio de mídias sociais). Em termos espirituais, ver os espaços de cultos e celebração fechados é uma dor sem igual, sobretudo aos que têm a verdadeira fé no sopro do Espírito Santo em suas vidas. 

Situação de taquicardia

Fazendo, enquanto médico, uma comparação com o funcionamento cardíaco, nossa sociedade está em uma situação de taquicardia, ou seja, de aceleramento do coração. Quando há uma demanda por mais sangue no corpo, o coração aumenta a sua frequência de batimentos, com a finalidade de bombear mais sangue e manter as funções vitais. Assim temos feito, temos acelerado nossos esforços para conter a pandemia, mesmo que para isso os cortes firmes citados anteriormente sejam necessários. Entretanto, para manter a comparação, sabemos que, se a frequência cardíaca for elevada demais, paradoxalmente, o coração começa a diminuir o fluxo sanguíneo, pois ele inicia um processo de contratura não completa do músculo cardíaco, o que pode, inclusive, levar à morte. Esse é um processo patológico, que precisa ser remediado a fim de que se mantenha a frequência cardíaca que verdadeiramente é eficaz para manter o bombeamento do sangue.

O que entendo é que estamos atualmente em uma situação de taquicardia patológica. É certo que o comércio e as igrejas precisam manter medidas preventivas. Todavia, a pergunta que devemos fazer é: são esses locais que, seguindo as recomendações sanitárias adequadamente, estão aumentando a disseminação do coronavírus? Vemos claramente que não. Constatam-se, todos os dias, situações como: festas clandestinas com abraços e beijos, transporte público lotado com trabalhadores (como sempre) digladiando-se por um espaço e as “cracolândias” com inúmeros usuários sem máscaras. Certamente, esses é que são os locais reais de disseminação do vírus e o epicentro dos números ruins da pandemia. Mas o Estado é estéril nesses ambientes e não consegue, de fato, fazer valer a lei e a ordem onde estas deveriam ser, de fato, aplicadas. E para dar a devida “maquiagem” de efetividade, ele penaliza o comércio e os locais de culto com um rigor descabido e ineficaz.

Deste modo, entendemos que a pandemia vai se estender por um período incerto de tempo e teremos de aprender a conviver com ela por um tempo razoável. Teremos, por mais incomodo que seja, de nos adaptar ao uso de máscara, álcool em gel e distanciamento social. Entretanto, teremos também de estabelecer nossas ações de modo a não flagelar o comércio e os espaços de culto, que seguem as devidas orientações, de modo patológico, ou seja, por meio de proibições radicais do exercício de suas necessárias atividades. Essa postura intransigente de alguns governantes só serve para aumentar a descrença do povo na real efetividade do Estado em defender os cidadãos de bem, inclusive contra a disseminação da Covid-19. 


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