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A voz inata da consciência

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By Eugenio Marongiu/Shutterstock

Vanderlei de Lima - publicado em 26/09/21

Não seria a voz dos homens, nem seria uma voz premeditada por mim, mas seria uma voz anterior

Este artigo traz três eloquentes testemunhos sobre a voz da consciência a falar em nós nos mais diversos momentos. Estão em nosso livro Obedecer antes a Deus que aos homens: a objeção de consciência como um direito humano fundamental, da Cultor de Livros, 2021, p. 41-43. 

1. A sós no consultório médico

Na noite escura, o curioso entra em um consultório médico vazio a fim de tentar ver alguns fichários de pacientes. Eis, porém, que, no mais profundo do seu ser, algo parece dizer-lhe: “Você é responsável por uma ação má!”. Daí, nasce sua interessante reflexão: “Dizia que me sinto responsável! Mas diante de quem? Não perante as paredes, nem perante o gato que me contemplava solenemente, quando eu percorria o fichário do médico. Só posso ser responsável diante de uma pessoa. Então dirá alguém:… diante da sociedade. Ou, mais precisamente, diante das pessoas com as quais convivo. Elas têm confiança em mim; tratam-me como um tipo leal e correto. Ora, eu já não sou o que elas pensam. Sinto que há um desnível entre o que parece ser e o que realmente sou. Isto me incomoda. Preciso ser autêntico, isto é, idêntico à imagem que a sociedade tem de mim…”. 

“Sem dúvida! Mas por que é que outro homem – ou o conjunto dos outros homens – tem o poder de me constranger a ser autêntico, a ser aquilo que eu pareço ser? – talvez porque a sociedade está baseada na confiança mútua e na preocupação de não se fazer a outrem o que não quer para si mesmo? Sim; não há dúvida. Mas não basta isso. Não poderia eu simplesmente evitar as más impressões e os escândalos do meu comportamento externo? Bastaria, para tanto, que eu me dissimulasse sobre a hipocrisia. E, no caso preciso em que me vejo, não bastaria que, após ter devassado indiscretamente o fichário do médico, eu guardasse com zelo o segredo violado?” 

“Talvez pudesse, sim, salvar desse modo hipócrita as aparências de honestidade. Mas reconheço que isto não me satisfaça. Ainda que os homens me aprovassem ou me deixassem passar impune, eu ouviria dentro de mim uma voz de censura severa. Não seria a voz dos homens, nem seria uma voz premeditada por mim, mas seria uma voz anterior a qualquer deliberação minha: seria a chamada ‘voz da consciência’” (Trecho adaptado do livro J. Javaux, Prouver Dieu, p. 60-62, apud Dom Estêvão T. Bettencourt. Curso de Filosofia. Rio de Janeiro: Mater Ecclesiae, 1994, p. 206).

2. É Deus quem fala

“A consciência moral não é algo que o homem cria ou suscita dentro de si. É algo de congênito, que começa a falar desde que a criança chega ao uso da razão. Às vezes, o criminoso quisera extingui-la ou sufocá-la, porque ela remorde dolorosamente à revelia do sujeito. Por isto se diz que é a voz de Deus no íntimo de cada indivíduo, ou melhor: é a prolongação da lei eterna ou do amor ao bem que existe em Deus desde toda a eternidade e que, à semelhança de um raio de luz, vem atingir cada ser humano, a fim de orientá-lo na terra” (Dom Estêvão T. Bettencourt. Curso de Teologia Moral. Rio de Janeiro, 1986, p. 27).

3. O alerta interior

Em linguagem jovial, testemunha Elisa Hulshof: “Minha consciência é a voz que berra incansavelmente nos meus ouvidos, é a que me mantém inquieta, é a que me culpa por não fazer nada, por fazer tão pouco, por estar indolente. É quem me deixa arrependida e envergonhada de mim mesma. É a razão que me sacode sem rodeios, sem papas na língua, tão clara e tão sensata que chega a ser cômica. Eu rio frequentemente comigo mesma e tenho orgulho, não de mim, mas da minha consciência, tão lúcida e tão fervorosa que é lastimável eu não obedecer-lhe mais frequentemente. Mas ela não se cala, e eu não posso estar nunca acomodada. Quando me distraio e caio, preciso me levantar rápido para não continuar a ouvi-la gritar em minha cabeça. Quando estou acomodada, preciso me remexer para não ouvir as barbaridades rudes que ela despeja sobre mim” (A cor do trigo. São Paulo: Cultor de Livros, 2013, p. 122-123).

Queira, pois, ler com atenção o livro Obedecer antes a Deus que aos homens. Seu conteúdo é importantíssimo para os nossos dias.

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