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Religião
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A confusão entre ecumenismo e sincretismo

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Vitor Roberto Pugliesi Marques - publicado em 12/12/21

Sempre alerto para que não caiamos na tentação de que se poderia colocar todas as religiões em um mesmo balaio, fazer uma mistura entre elas e, assim, tirar uma religião global única

Dentre as obras que mais me são caras, desde os tempos de adolescência, está o livro “A Viagem de Théo”, da escritora francesa Catherine Clément. 

Trata-se de um romance no qual a autora vai narrar a viagem de tia Marthe, com seu sobrinho Théo, pelo mundo das diversas religiões, após ele ter sido diagnosticado por uma doença grave. No curso dessa viagem, os personagens visitam locais de forte religiosidade, tais como Roma, Jerusalém, Índia, China e Japão. Entretanto, há uma pitada a mais de tempero quando passam pelo Brasil, pois é onde a tia Marthe encontra um possível amor. A autora certamente valeu-se de um conhecimento prévio assaz profundo sobre as religiões, pois há uma fundamentação teórica muito admirável em cada uma das páginas.

Sincretismo

Todavia, paralelo à indicação de leitura (que recomendo fortemente), sempre alerto para que não caiamos na tentação de chegar a uma perigosa conclusão: a de que se poderia colocar todas as religiões em um mesmo balaio, fazer uma mistura entre elas e, assim, tirar uma religião global única. Colocando todas as religiões em paralelo, há a sugestão, no livro, de pé de igualdade entre as diversas crenças, sendo descrito que em todas religiões há prós e contras; portanto todas são igualmente boas e levam à verdade de Deus. Ora, nessa linha de raciocínio, por que não pegar o melhor de cada uma e fazer uma religião só para o mundo todo? A esse pensamento de mistura dá-se o nome de sincretismo. No Brasil, é bem notada essa realidade de sincretismo, sobretudo nas religiões afro-brasileiras em que as divindades africanas (os orixás) assumem nomes e imagens de santos católicos. Mas não só nos cultos africanos; grande parte dos brasileiros convive bem transitando entre cultos protestante, católico e espírita, reunindo o que acha de melhor em cada uma dessas doutrinas divergentes. 

Verdade única

Vai nos ensinar o Catecismo da Igreja Católica que, de fato, “muitos elementos de santificação e de verdade existem fora dos limites visíveis da Igreja Católica” (Catecismo da Igreja Católica, n. 819) e é desejo de toda a Igreja a unidade dos cristãos. Todavia, devemos entender que, enquanto nos diversos cultos encontram-se esparsos os elementos de santificação e verdade, é apenas na Igreja Católica que se tem todos eles reunidos de modo completo e perfeito, pois a Igreja não é obra de mãos humanas, mas, sim, fruto do nosso Divino Senhor Jesus Cristo. Deste modo, são os princípios da Igreja o prisma pelo qual o católico deve dialogar com as demais religiões. Sendo assim, não é possível defender o sincretismo. Tendo conhecimento e convicção de tudo o que crê e ensina a Igreja, deve-se buscar os elementos em comum nas demais religiões para iniciar um diálogo saudável, fenômeno ao qual chamamos de ecumenismo (quando ocorre entre credos cristãos) e diálogo inter-religioso (quanto ocorre entre credos cristãos e não cristãos). Deve-se ter em mente, todavia, que esse diálogo só será plenamente saudável se levar o outro a contemplar a Verdade única, que é a fé em Jesus Cristo e na sua Esposa, a Igreja Católica. 

Verdadeiro ecumenismo

Entre os pontos de maior destaque do pontificado de São João Paulo II está a criação dos encontros ecumênicos de Assis, em 1986, que reuniram sacerdotes de várias confissões cristãs, incluindo os ortodoxos, e, ainda, representantes de outros credos. Em seu discurso proferido na Basílica de São Francisco, em Assis, em 27 de outubro de 1986, há elementos fundamentais para o diálogo ecumênico, destes destaco dois. O primeiro é quando diz o Santo Padre: “Professo de novo a minha convicção, partilhada por todos os cristãos, que em Jesus Cristo, o Salvador de todos, podemos encontrar a verdadeira paz”. Qualquer tentativa de se encontrar a paz que não passe pela pessoa de Jesus Cristo não é frutífera e leva à pseudo-paz. Não podemos, assim, abrir mão de elementos fundamentais da fé, se quisermos a verdadeira paz, tais como a defesa da vida desde sua concepção até o seu declínio natural e dos valores evangélicos sobre a família, o homem e a mulher etc. Segundo ponto de destaque é quando diz: “Sim, todos nós consideramos a consciência e a obediência como um elemento essencial no caminho para um mundo melhor e em paz”. Tendo em nossos corações os valores católicos legítimos, temos de dar voz aos ditames de nossa consciência e refutar tudo aquilo que possa, de algum modo, não estar de acordo com o que a Igreja define e defende. 

Que saibamos sempre realizar o verdadeiro ecumenismo, pois somente quando ele é verdadeiramente desempenhado é capaz de gerar frutos de bem para a Igreja e para todo o mundo.  

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