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São Bernardo de Claraval, o último dos Padres da Igreja

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"La vierge apparait a saint Bernard de Clairvaux", de Filippino Lippi (1486), Badia Fiorentina, Italie

Vanderlei de Lima - publicado em 22/08/22

Se São Bernardo foi do século XII, como pode ser, então, Padre da Igreja? O Papa Bento XVI responde

Este artigo apresenta o livro São Bernardo de Claraval: vida e obra do último dos Padres da Igreja escrito por Dom Luís Alberto Ruas Santos, O. Cist., abade emérito da Abadia Nossa Senhora de Santa Cruz, de Itaporanga (SP), lançado pela Editora Ecclesiae.

Embora com título novo, trata-se, na realidade, da segunda edição revista da obra Um monge que se impôs a seu tempo. Pequena introdução com antologia à vida de São Bernardo de Claraval, publicada, em 2001, numa coedição da Musa, de São Paulo, e da Lumen Christi, do Rio de Janeiro, conforme se lê na página de créditos da obra. 

O que se nota, logo de início, é o aumento de títulos de e sobre São Bernardo em português. Em 2001, eram três livros a respeito do santo e apenas um de sua autoria (cf. Um monge que se impôs a seu tempo, p. 191). Vinte anos depois, temos seis obras que tratam do santo – Dom Luís não catalogou o livro São Bernardo de Claraval, de Ailbe J. Luddy (Cultor de Livros, 2016), se o fizesse seriam sete – e onze que o santo mesmo escreveu (cf. São Bernardo de Claraval, p. 201-202).

Convém, por oportuno, observar, no título da obra, a inserção de São Bernardo (1090-1153) entre os Padres da Igreja e perguntar quem são esses Padres? – “Padres da Igreja são escritores (não necessariamente presbíteros ou bispos) que, nos primeiros séculos, contribuíram para a exata elaboração e a precisa formulação das verdades da fé em tempos de debates teológicos com escolas heréticas” (Dom Estêvão T. Bettencourt, OSB. História da Igreja. Rio de Janeiro: Mater Ecclesiae, 2012, p. 16). A rigor, existiram até o século VII no Ocidente e até o VIII no Oriente. 

Aqui surge outra questão: Se São Bernardo foi do século XII, como pode ser, então, Padre da Igreja? – O Papa Bento XVI, em sua Audiência Geral de 21/10/2009, nos responde o seguinte: o santo cisterciense foi “chamado ‘o último dos Padres’ da Igreja, porque no século XII, mais uma vez, renovou e tornou presente a grande teologia dos Padres”. Em outras palavras, seus ensinamentos são tão exímios que, mesmo em época tardia, o abade de Claraval mereceu tão nobre título. 

A presente obra de Dom Luís – sem contar o Prefácio (cf. p. 9-15) e a Apresentação (cf. p. 17-31) – está assim dividida: Introdução (p. 33-34), A vida de São Bernardo: um homem providencial num tempo difícil (p. 35-100), Síntese da doutrina espiritual de São Bernardo (p. 101-119), Atualidade de São Bernardo e dos cistercienses (p. 121-124), São Bernardo e a produção artística dos cistercienses (p. 125-144), Obras de São Bernardo (p. 145-147), Pequena Antologia (p. 149-199), Pequena bibliografia (p. 201-203), Breve cronologia (p. 205-207) e Mosteiros cistercienses no Brasil (p. 209-211). Eis porque se pode dizer que o livro ora apresentado traz rico material a quem deseja melhor conhecer o grande santo cisterciense do século XII e a sua Ordem religiosa.

Depois de emitir um juízo positivo sobre a Idade Média, Dom Luís demonstra que a Reforma Gregoriana (implementada pelo Papa Gregório VII) trouxe consigo, entre outros pontos, o eremitismo, a pobreza e a vida apostólica, pois se inspirava na comunhão fraterna das primeiras comunidades cristãs (cf. p. 19). Ora, “os mosteiros da Ordem Cisterciense ofereciam um alto grau de solidão, seja pelo afastamento da sociedade e da trama de seus relacionamentos, seja pela estrita disciplina de silêncio que neles vigorava, com longas horas dedicadas à lectio – leitura orante e meditada da Palavra de Deus – e à oração privada, e ao mesmo tempo o consolo de uma comunidade fraterna. Por outras palavras, havia na vida cisterciense uma boa dose de eremitismo dentro de um quadro de comunhão fraterna própria ao cenobitismo e ao ideal de vida apostólica. Enfim, os cistercienses quiseram ser pauperes Christi, pobres de Cristo, ou seja, pobres com o Cristo pobre e, com isso, encontraram a terceira tendência do monaquismo reformado do século XI” (p. 44).

Possa o livro São Bernardo de Claraval: vida e obra do último dos Padres da Igreja chegar, com a graça de Deus, a muitos leitores!

Vanderlei de Lima é eremita de Charles de Foucauld

Tags:
História da IgrejaPadresSantos
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