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Contemplação de Deus & Natureza e dignidade do amor

man hands praying to god with the bible and cross

Deemerwha studio | Shutterstock

Vanderlei de Lima - publicado em 19/03/23

É Guilherme de Saint-Thierry o mais intelectual dos escritores monásticos do século XII

Este é o título de uma obra da Cultor de Livros a reunir dois escritos de Guilherme de Saint-Thierry (1075/90-1148), abade cisterciense e doutor da contemplação.

De começo, faz-se útil lembrar que Guilherme é, segundo renomados estudiosos citados pelo Pe. João Paulo de Mendonça Dantas, na oportuna introdução às obras, um dos personagens mais importantes da teologia monástica, uma vez que o seu labor teológico centra-se na Sagrada Escritura e nos Padres da Igreja. Seus escritos se revestem de uma intelecção amorosa e uma contemplação adorante. Pois bem, tais qualidades são aptas a fazer bem à mente e ao corpo. É Guilherme o mais intelectual dos escritores monásticos do século XII (cf. p. 9-10).

Daí a questão: o que o livro ora publicado pela Cultor nos traz? – Traz-nos as duas primeiras obras de Guilherme de Saint-Thierry e que, à época da publicação, foram muito difundidas (cf. p. 20). Contemplação de Deus foi escrita por volta de 1121 e Natureza e dignidade do amor entre 1121 e 1122. Observemos, pois, o conteúdo de cada um desses tratados e as fontes que o abade cisterciense utilizou para compô-las.

A Contemplação de Deus está dividida em duas partes, ainda que contenha uma “unidade de alma” entre elas. “A primeira (1-8) é mais veemente, revela possivelmente a intimidade espiritual do autor, deixa transbordar o seu entusiasmo espiritual: nela se expressa o profundo desejo que habita no coração do homem: contemplar a Deus. A segunda parte (9-13) possui um caráter mais didático e doutrinal – o que não a torna menos bela –, em que o autor mostra como Deus realiza o desejo de sua criatura. Estamos diante de uma obra em que dialogam uma alma que busca contemplar a Deus e um Deus trinitário que é a fonte de todo bom desejo e do verdadeiro amor” (p. 21). Para a sua elaboração, Guilherme se valeu da Sagrada Escritura, da Liturgia Latina (Ofício Divino ou Liturgia das Horas), a já rica espiritualidade beneditina, a iniciante espiritualidade cisterciense de Bernardo de Claraval e, por fim, alguns poucos pontos dos Padres da Igreja (cf. p. 23).

A Natureza e dignidade do amor, como o próprio título demonstra, “se apresenta como um clássico da espiritualidade, na medida em que, de um modo pedagógico, explica com uma linguagem espiritual o tema sempre atual da importância do amor para a vida humana, sua origem, seu fim, as etapas do seu desenvolvimento. Tudo isso, com uma sensibilidade teológica e antropológica, que fazem de Guilherme, o abade de Saint-Thierry, um autor que merece ser conhecido por todas as gerações de cristãos” (p. 28).

Pergunta-se agora: Qual é o conteúdo desta obra e em quais fontes o renomado autor se alicerçou? – Responde-nos, uma vez mais, o Pe. Dantas que “o tema do tratado é a gênese e o crescimento do amor. Nesse tratado, uma de suas primeiras obras, já se vê delineado um elemento constante de seu pensamento relativo aos graus do amor: a simples vontade, o amor, a caridade e a sabedoria. Estes são didaticamente comparados aos períodos da vida humana: infância, juventude, maturidade e velhice. Essas etapas também indicarão o progresso na perfeição e na contemplação. O tratado poderia ser dividido do seguinte modo: I. Prólogo (n. 1-2); II. Nascimento do Amor: vontade (n. 3-4); III. Juventude: amor (n. 5-11); IV. Maturidade: a caridade, tempo de progresso (n. 12-25); V. Velhice: sabedoria (n. 26-45) e Epílogo (n. 45)” (p. 24).

As fontes de Guilherme para esta sua rica obra são a Sagrada Escritura, os Padres da Igreja, a Regra de São Bento e alguns autores profanos como Cícero, Horácio, Platão etc. (cf. p. 27-28). Importa notar que, no uso da Bíblia, o monge cisterciense muito se vale do que poderíamos chamar de defloratio, isto é, colher “na Escritura Sagrada as palavras que lhe permitem compor o buquê necessário para expressar o seu próprio pensamento” (p. 27).

E assim como Guilherme de Saint-Thierry conclui o seu Contemplação de Deus, concluamos este nosso modesto artigo: “Nós Te adoramos e Te bendizemos: a Ti a glória nos séculos. Amém!” (p. 57).

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