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Direto do confessionário: por que a compaixão é desgastante?

GIRL, CONFESSION

Pascal Deloche | Godong

Pe. Taylor Colwell - publicado em 30/08/23

Ouvir confissões, com todas as suas particularidades teológicas e pastorais, é também um exercício de ampla experiência humana de compaixão

Uma mudança importante na vida de um padre recém-ordenado é começar a ouvir confissões. Embora o tempo gasto no confessionário possa variar de uma a várias horas por semana, mesmo apenas uma hora dedicada ao ofício pode ser bastante desgastante, especialmente no início. Mesmo assim, é um grande exercício de compaixão.

É um privilégio e uma graça singular oferecer o sacramento. Já testemunhei muitas confissões comoventes e profundamente edificantes no meu curto período como sacerdote. Ao mesmo tempo, é realmente desgastante. Muitas vezes saio com uma leve dor de cabeça e uma sensação de tensão física geral. 

Mas por que ouvir confissões pode deixar um padre tão exausto? Um fator é, certamente, o foco necessário para ouvir com precisão as informações sensíveis e importantes transmitidas por outra pessoa sobre sua vida mais íntima. Outro ponto é a expectativa de que o sacerdote dirija algumas palavras de conselho úteis ao penitente, embora estas devam ser breves e modestas.    

A verdadeira razão, a meu ver, é o esforço do coração, da mente e da alma que ocorre quando compartilhamos dos fardos de outra pessoa. Sempre que nos permitimos participar das lutas dos outros, ouvindo atentamente e expressando a nossa compaixão, isso tem um certo preço. Tal compaixão significa abrir-nos para receber o fardo do outro como se fosse nosso. 

Isso acontece muitas vezes nas relações com familiares e amigos próximos, aqueles que recorrem a nós quando estão em dificuldades. Também pode acontecer que conhecidos ou mesmo estranhos nos procurem num momento de vulnerabilidade, quando a sua luta se torna evidente. Sempre que isso ocorre há um preço a ser pago, porque permitir que outra pessoa transfira o fardo para os nossos ombros faz com que esse fardo seja nosso também. Não é mais apenas um problema “deles”. 

Embora o papel do confessor seja principalmente teológico e sacramental, também é humano. O sacerdote atua como representante de Jesus, recebendo os pecados do penitente e concedendo o perdão do Senhor — mas só pode fazê-lo como homem. Em cada confissão, há um homem sentado do outro lado da tela, que se abriu a todos e concordou em assumir seus fardos, mesmo que apenas por alguns momentos.

Ouvir confissões, com todas as suas particularidades teológicas e pastorais, é também um exercício de ampla experiência humana de compaixão. 

Não tenha medo de continuar se abrindo à compaixão. Embora possa ser desgastante, é uma parte essencial de uma vida plenamente humana e cristã.

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