O Papa Francisco acaba de lançar a exortação apostólica “Laudate Deum“, que ele próprio descreve como uma espécie de continuação da sua carta encíclica “Laudato Si’“, publicada em 2015.
Ambos os documentos abordam o cuidado da criação, com ênfase na boa gestão dos recursos do planeta Terra – que o papa define como a nossa “casa comum”. A recém-lançada “Laudate Deum” traz particular destaque à urgência de medidas eficazes para se lidar com as alterações do clima do planeta. No portal oficial do Vaticano, a exortação é apresentada como destinada “a todas as pessoas de boa vontade sobre a crise climática”.
Uma primeira diferença entre os dois textos é a sua distinta classificação entre os vários tipos de documentos pontifícios: enquanto a “Laudato Si’” é uma carta encíclica, a “Laudate Deum” é uma exortação apostólica.
Encíclica? Exortação?
Existem diversos tipos de documentos pontifícios: bula, motu proprio, carta encíclica, exortação apostólica e constituição. O papa os publica conforme o tipo de assunto que pretende abordar (doutrina, disciplina, governo, entre outros) e a própria abordagem que quer dar ao tema (expositiva, exortativa etc.).
- As cartas encíclicas, ou simplesmente encíclicas, se originam das epístolas que os bispos enviavam entre si para garantir a unidade da doutrina – daí o nome “encíclica”, que quer dizer, basicamente, “circular”. De fato, como bispo de Roma, o papa dirige as suas encíclicas a todos os bispos do mundo e, por meio deles, a todos os fiéis, exercendo assim o seu magistério ordinário.
- Já as exortações apostólicas transmitem um ensinamento do papa a respeito de algum tema pontual, visando incentivar os fiéis a vivê-lo mais plenamente no seu dia-a-dia – por isso mesmo trazem o nome de “exortação”.
Laudato? Laudate?
Outra diferença que tem despertado curiosidade e algumas dúvidas é quanto ao título correto da “Laudato Si’” e da “Laudate Deum“. Por que uma é “laudato” e a outra é “laudate“?
- “Laudato Si’” é um título em italiano – mais precisamente, numa vertente arcaica, falada nos tempos de São Francisco de Assis. O título vem de um cântico de louvor a Deus entoado por esse grande santo: “Laudato si’ mi’ Signore“, isto é, “Louvado sejas, meu Senhor”.
- “Laudate Deum” é um título em latim e significa “Louvai a Deus”.
Ambos os títulos, conforme é comum em documentos pontifícios dessa natureza, procedem das primeiras duas palavras de cada documento.
A “Laudato Si’” começa assim:
«LAUDATO SI’, mi’ Signore – Louvado sejas, meu Senhor», cantava São Francisco de Assis. Neste gracioso cântico, recordava-nos que a nossa casa comum se pode comparar ora a uma irmã, com quem partilhamos a existência, ora a uma boa mãe, que nos acolhe nos seus braços: «Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã, a mãe terra, que nos sustenta e governa e produz variados frutos com flores coloridas e verduras».
Já a “Laudate Deum” traz o seguinte primeiro parágrafo:
«LOUVAI A DEUS por todas as suas criaturas»: foi este o convite que São Francisco de Assis fez com a sua vida, os seus cânticos e os seus gestos. Retomou assim a proposta dos salmos da Bíblia e reproduziu a sensibilidade de Jesus para com as criaturas de seu Pai: «Olhai como crescem os lírios do campo: não trabalham nem fiam! Pois Eu vos digo: Nem Salomão, em toda a sua magnificência, se vestiu como qualquer deles» (Mt 6, 28-29). «Não se vendem cinco pássaros por duas pequeninas moedas? Contudo, nenhum deles passa despercebido diante de Deus» (Lc 12, 6). Como deixar de admirar esta ternura de Jesus por todos os seres que nos acompanham no nosso caminho?
