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Seu perfeccionismo está arruinando sua vida? Aprenda a deixar-se levar

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© Andrey_Popov

Edifa - publicado em 10/02/20

Se o perfeccionismo é um poderoso motor de sucesso, também pode arruinar a vida de quem tem demandas muito altas de perfeição. Existem alguns conselhos a seguir se o seu desejo de perfeição arruína a sua vida diária e a das pessoas ao seu redor

Os cristãos são chamados à perfeição (Mt 5, 48) em pobreza e desapego. Mas, às vezes, o desejo de perfeição pode envenenar a vida de uma pessoa. Dúvida, obsessão pelos detalhes, medo de errar ou fracassar, pode tirá-lo do essencial. O psiquiatra Frédéric Fanget revela algumas dicas simples para aplicar em sua vida cotidiana para ser um perfeccionista feliz.

O que é o perfeccionismo?

Uma pequena voz interior que diz “sempre melhor”, “sempre mais”, “um pouco mais”. É um motor que estimula, ajuda a perseverar e ter sucesso. Mas se não tem limites, o perfeccionismo pode se tornar tirânico, causando um estresse nocivo à nossa saúde ou nos paralisar. O perfeccionismo cria “deficientes do prazer”. A pessoa não saboreia seus sucessos, já voltada para um objetivo mais ambicioso. Ela está sob pressão permanente. O erro a aterroriza e leva a meticulosidade excessiva. Ela não sabe priorizar e perde uma quantidade incrível de tempo em detalhes.

O perfeccionismo é frequentemente uma má resposta à ansiedade. A pessoa afetada é vítima de seu permanente “sim, mas“. Parece difícil para ela aceitar o que realizou ou que algo de bom aconteceu com ela. Imediatamente, coloca um “mas” em todas as coisas, o que leva à ladainha habitual de seus erros ou falhas. Uma das minhas pacientes contou que repetiria esse “mas” até trinta e sete vezes por dia! Encorajei-a a dar um ponto final depois do “sim” e provar a emoção positiva sentida quando fala bem de si mesma, sem se auto denegrir ou minimizar seu sucesso. É esse “mas” que destrói a autoestima e empurra o perfeccionista a fazer ainda mais. Ele deve aprender a se contentar com o bom, com o “sim”, sem se pressionar para a perfeição.

O perfeccionismo afeta todo o mundo?

O perfeccionismo diz respeito tanto às mulheres quanto aos homens, especialmente no nível profissional. O desejo de agradar ao seu superior, de subir na hierarquia, de ganhar mais dinheiro, pode causar estresse perene. Insônia e irritabilidade passam a afetar a família. Às vezes, esse estresse pode se transformar em esgotamento. Mas a exigência com si mesmo também pode se manifestar no lazer, principalmente nos esportes. O desempenho tem precedência sobre o prazer e o relaxamento.

Existem três fatores que favorecem a aparência do perfeccionismo em uma pessoa, geralmente desde a infância. O primeiro corresponde a um estilo de personalidade: aqueles que pensam (às vezes equivocadamente) que é esperado deles alcançar um resultado. O segundo ocorre por imitação, quando um dos dois pais é perfeccionista. Já o terceiro fator é quando o filho deseja proteger os pais. Em caso de dificuldades conjugais ou familiares, ele se força a desenvolver uma imagem de sábio para não aumentar os problemas em casa.

Tudo isso se desenvolve segundo um contexto. Mas no seio de uma mesma família, nem todos são perfeccionistas.

Fatores sociais são adicionados à personalidade de cada um. Sem querer, eles cultivam o germe do perfeccionismo. A escola também funciona como um aperfeiçoador do perfeccionismo pois nos estimula ao “podemos fazer melhor”. Além disso, nosso tempo e sociedade incentivam a falha zero. A sociedade exige um corpo perfeito, sexualidade, trabalho perfeitos. Erros dificilmente são perdoados. Todos devem ter sucesso pessoal e profissional. Dependendo da sua personalidade, sua educação, sua história, você é mais ou menos sensível a essas pressões.

Estudantes dedicados e trabalhos de casa bem feitos?

Há o bom e o mau perfeccionismo. Ele é bom se for usado para alguma coisa. Imagine um cirurgião que opera um olho “aproximadamente” da forma corrta, ou um piloto de avião que não controla bem suas telas. O bom perfeccionismo é construtivo. Isso me permitiu ter sucesso na medicina, me destacar nas minhas aulas, conhecendo-as com a ponta dos meus dedos. Mas se eu tivesse levado o perfeccionismo à minha vida quotidiana, às minhas faturas ou meus e-mails, eu teria ficado doente. Esta é a chave: adapte seu perfeccionismo ao que você quer fazer com ele.

Mas o perfeccionista sabe exatamente quem ele é, o que ele quer?

Não, e é esse o problema. Perseguindo uma imagem de perfeição, ele não é mais ele mesmo. Ele se afasta da realidade, de seus desejos, de suas necessidades e acaba não tendo mais consciência disso. O perfeccionista inibe seus sentimentos e esconde suas preocupações, seus limites. Redescobrir o ser interior requer consciência. Temos o direito de estar cansados, de mau humor, estressados. Você tem o direito de mostrar fraqueza e pedir ajuda.

Como reagir diante de uma criança perfeccionista que se impõe exigências muito altas?

Peça a ele para nomear pessoas que ele gosta e que não são perfeitas. Saliente também que os erros ajudam a experimentar, às vezes mais do que sucesso. Não faça um drama quando estiver errado e mostre que esse erro pode ser uma fonte de progresso. Dê à criança o sentido dos meios, mais do que de resultados. Quando ela tirar uma boa nota, ela deve ser ajudada a perceber que reler sua lição três vezes, em vez de dez, seria suficiente. O essencial é que ela abandone o desejo do “100% de perfeição”, mostrando que ela não será menos inteligente se não for perfeita. Também é importante observar os momentos de lazer, cujo requisito essencial tantas vezes parece ser o desempenho. Dança, piano, judô devem ser encarados como um momento de relaxamento e não se transformar em uma nova corrida por diplomas.

Como se tornar menos exigente?

O método de descentralização funciona bem com perfeccionistas, porque se eles são muito exigentes consigo mesmos, não costumam esperar o mesmo dos outros.

Desistir de um excesso de perfeccionismo, leva tempo?

Sim, isso é feito pouco a pouco. Depois de identificar todas as áreas em que seu perfeccionismo é praticado, a pessoa escolhe aquela em que diminuirá sua exigência. Cuidado: não seria realista querer abandonar o perfeccionismo de uma vez só! A redução das exigências já é uma vitória, o primeiro golpe para acabar com o perfeccionismo. A pessoa fica mais relaxada, mais satisfeita consigo mesma, mais confiante.

Última dica: devemos tentar evitar cair no “perfeccionismo terapêutico”. Alcançar um quarto do progresso em seis meses ou um ano é mais que suficiente.

Aceitar-se com seus limites ilumina a vida?

Para ser bem-sucedido, o perfeccionista perde o essencial. Para conscientizar meu paciente, faço-o anotar todas as suas atividades da semana. Então pergunto a ele sobre seus objetivos de vida: o que ele se arrependeria de não ter feito se morresse amanhã? Muitas vezes, ele responde: cuidando de sua esposa, filhos, etc. Por isso, pergunto quanto tempo ele passou nesta semana nessas prioridades. E ele descobre que não fez nada que realmente importa ao seu coração. O perfeccionista procura se livrar primeiro daquilo que é chato, e aí não tem mais tempo para seus objetivos reais. Ele vive às margens da sua própria vida. Quando percebem isso, algumas pessoas tem um verdadeiro choque de realidade. Manter os seus objetivos à vista e investir no essencial: esta é uma boa resolução a ser tomada!

Stéphanie Combe

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