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Como bem viver o início do casamento?

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Pink Panda - Shutterstock

Edifa - publicado em 24/11/20

O primeiro ano de casamento é o tempo da descoberta das alegrias, mas também das pequenas irritações. Mesmo que não aja uma receita pronta para "sobreviver" a esta importante fase da vida do jovem casal, algumas dicas podem ser muito úteis! 

Depois da efervescência da preparação para o casamento, a euforia do Dia D, a alegria da lua de mel, começa o quotidiano a dois. E às vezes não é tão simples. O padre francês Alexis Leproux costuma acompanhar noivos e recém-casados. Momentos tristes, aborrecimentos, abertura à vida… é com paixão e franqueza que olhamos o primeiro ano de casamento.

Após o dia do casamento, alguns casais experimentam o que é chamado de “tristeza pós casamento”. Como lidar com essa possível depressão? Isto é sério?

Essa sensação existe de fato e é natural. Quando estamos nos preparando para o casamento, vivemos um dinamismo particular. Uma vez que o evento tenha passado, você deve embarcar em uma nova lógica. Às vezes, você tem galhos que florirão mais tarde. Isso não significa que eles estão mortos. Simplesmente, a sazonalidade de nossas almas é diferente daquela de nossas mentes. Além disso, sempre há uma lacuna entre nossa imaginação e a realidade. Essa diferença pode ser agradavelmente surpreendente, mas também pode decepcionar. No entanto, sentir-se desapontado não significa que tenhamos a vocação errada.

O primeiro ano é o de descobrir alegrias, mas também pequenos aborrecimentos. Como fazer para que eles não envenenem a vida a dois?

Os incômodos que vivemos ao morar com alguém são uma boa maneira de nos descentralizar e nos afastar do nosso egoísmo. Do barulho do mosquito ao choro da criança, passando pelo comportamento do cônjuge que pode incomodar, as irritações são, na verdade, um convite a reconhecer que não se vive sempre no seu “pequeno eu”. Podemos chamar isso de uma forma de resiliência; torna possível amolecer nossa alma, treinar nossa inteligência e nossa vontade para carregar a realidade. Estejamos certos: quanto mais estivermos acostumados a superar pequenos aborrecimentos, mais seremos educados para superar as grandes provações.

Portanto, nunca devemos procurar corrigir o comportamento do cônjuge?

Cuidado, antes de mais nada, para não confundir as pequenas complicações do dia a dia com comportamentos inaceitáveis. Então, os aborrecimentos não são inevitáveis, mas com pedagogia e humor podemos tentar melhorar alguns pontos. Mas em algumas situações você pode ficar irritado com atitudes que provavelmente não mudarão. Duas soluções estarão disponíveis para você. Ou o motivo do seu aborrecimento vai te deixar obcecado e você vai acabar se irritando com tudo e o tempo todo, ou você busca ocasiões de se descentralizar e assim será feliz.

Aprender a se comunicar bem, esse é o segredo de um casamento bem-sucedido?

Ouvir e falar com eficácia estabelece a comunhão entre os esposos. E funciona! Um casal que, no primeiro ano de casamento, se entrega ao trabalho, passa o tempo com os amigos ou fica na superfície de si mesmo, perderia as forças e se colocaria em perigo. As primeiras etapas da convivência são essenciais para estabelecer hábitos de doação ao outro e de comunicação. Uma pequena pedra no sapato pode tornar uma caminhada dolorosa, senão impossível. Se um dos cônjuges não se dá ao trabalho de se comunicar com o outro para explicar o que o está incomodando, essa pedrinha pode causar danos. Podemos facilmente imaginar o que acontecerá quando as grandes pedras chegarem!

Então o tempo nunca resolve nada?

O tempo consolida o que eu faço, para o bem e para o mal. Este é o princípio do vício e da virtude. Não há mistério: se eu me acostumar a falar as pequenas coisas no primeiro ano, partilharei sobre as grandes no vigésimo.

Saber ouvir também é uma arte

Absolutamente. O homem e a mulher têm antenas diferentes – o que nem sempre ajuda muito. A entrada na conjugalidade é um exercício de escuta que, mais uma vez, requer um verdadeiro esforço. Cada cônjuge deve ser capaz de dizer a si mesmo: “Sinto-me ouvido”. Porque da qualidade da escuta e da fala – que forja a intimidade de coração a coração – resulta também a qualidade da comunhão dos corpos.

O que você quer dizer ?

O coração a coração cria intimidade, confiança e alegria. Os gestos do corpo são uma tradução do que acontece na alma. Eles são o sinal carnal do que foi trabalhado no segredo dos corações. Uma união carnal de esposos que não reflete a intimidade dos corações trairia a dimensão verdadeiramente pessoal da sexualidade. Não há grande futuro para a intimidade sexual que não esteja enraizada em um dom pessoal de si mesmo.

Um relacionamento carnal que não iria bem seria, portanto, um sinal de preocupação?

Não necessariamente. Dar-se carnalmente a outra pessoa sem amor total é obviamente um problema sério. Mas sendo o corpo uma “máquina” extremamente delicada, uma bela intimidade sexual envolve um caminho de aprendizagem que pode levar tempo. Mais uma vez, é normal que haja uma lacuna entre sua imaginação e a realidade. Por outro lado, o importante é que os cônjuges possam sempre falar com simplicidade sobre o assunto.

No dia a dia, há sinais que devem alertar os noivos?

Devemos atentar ao cansaço. Os cônjuges devem buscar o equilíbrio entre o cansaço saudável do dever cumprido e o descanso necessário à comunhão das pessoas – o que pressupõe ter energia. Portanto, é bom remover tudo o que nos cansa e não é essencial.

Você sabe que muitos jovens casais dedicam os primeiros anos do casamento à carreira…

Sim, e acho perigoso que a carreira possa assumir o controle. Porque ninguém sabe se ainda estará vivo em dois anos. Colocar na cabeça a ideia de que você não vai ver muito sua mulher ou seus filhos para trabalhar cada vez mais me lembra o homem rico que guardou todo o seu trigo em seus celeiros e que descobre: “Esta noite você vai morrer”.

Mas é responsabilidade dos pais zelar pelo bem material dos filhos!

Você precisa planejar, de fato, mas primeiro você tem que planejar coisas para amar a si mesmo! Não esqueçamos que só o amor dá a saborear a verdadeira vida! Se você colocar as preocupações mundanas em primeiro lugar ao invés do perdão, ouvindo e amando sua esposa, seu marido e seus filhos, você verá rapidamente sua família enfraquecer. A conta bancária pode estar cheia, mas você corre o risco de não ter com quem desfrutá-la. Que os jovens casais vivam plenamente o que precisam viver juntos e assim serão a pedra angular de sua família.

Você mencionou o perdão. Assim como o Papa, o senhor também aconselha que não vamos para a cama sem nos perdoarmos?

Imagine uma coisa, ninguém deixa uma lata de lixo aberta na cozinha, onde os mosquitos se multiplicam, porque entendemos que depois será muito difícil se livrar dos mosquitos. É o mesmo com nossas almas. Em um relacionamento, existem mil pequenas coisas de que não gostamos totalmente; aqueles momentos em que conversamos muito – ou não o suficiente -, quando ficamos de mau humor, em que ficávamos com raiva. Ao retirarmos uma lata de lixo fedorenta, devemos adquirir o hábito de retirar também tudo o que não seja caridade. Pois se cada um só vir seu lado, se encerrando em seu mundinho de mediocridade e se camuflando debaixo da cama, posso garantir que no dia em que chegar a grande corrente de ar, todo o fedor se espalha e o ambiente é irrespirável.

Como pensar na questão dos filhos no primeiro ano de casamento?

Esse é um ponto crucial. Em muitos lares jovens, ouço este testemunho: “Primeiro nos construiremos, depois pensaremos nos filhos”, como se o surgimento de uma nova vida se opusesse ao crescimento do casal. Devemos ter o cuidado de não avançar excluindo desde o início um dos dois bens fundamentais do casal: a abertura à vida. Do contrário, o risco seria cortar a vida conjugal da dimensão essencial da generosidade, da liberdade e do inesperado. Esse reflexo costuma ser um erro de cálculo, principalmente no primeiro ano, que pode levar o casal a se isolar. Oro também por aqueles que, durante este primeiro ano de casamento e depois, têm dificuldade em ter filhos.

Os casais podem ter bons motivos para adiar um projeto de materninade/paterniadade. A ajuda humanitária, por exemplo?

Se um casal se casa, é para viver o sacramento do matrimônio e, portanto, para viver a comunhão dos cônjuges, para se abrir à vida. A Igreja nunca deixa de recordar este vínculo inseparável entre a união dos esposos e a abertura à vida. Sair para fazer um trabalho humanitário não pode impedir um casal de viver essa promessa de doação total, uma promessa sem volta e para sempre.

Isso não significa que você precise se pressionar para ter filhos no dia seguinte ao casamento. Mas a abertura à vida continua a ser um ponto vital, que reflete a maturidade do casal, chamado a participar da obra criadora de Deus. Tenha cuidado, portanto, para dar a cada coisa o seu devido lugar!

Os casais jovens podem desejar servir. Este é o momento certo para se envolver?

Construir uma família leva tempo. Essa é a prioridade dos primeiros anos. Nunca se deve apagar o pavio do serviço, mas também não é necessariamente bom acender tudo de uma vez. Por isso, é bom discernir juntos, à luz do amor conjugal, a ordem e a medida dos compromissos.

Como os casais que viveram juntos antes do casamento podem ter um começo real?

Este é um assunto importante. Uma das soluções é que procurem, antes do casamento, encontrar um estado de vida correspondente ao que a Igreja pede para viver durante o noivado. O trabalho é, portanto, realizado progressivamente mas de forma intensa. A celebração do sacramento, no entanto, mantém sua própria força. Ela dá aos esposos o Espírito Santo que doravante os une na verdade do seu amor e os mantém para sempre neste sagrado vínculo com Deus.


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