“Concluídos os dias da sua purificação segundo a Lei de Moisés, levaram-no a Jerusalém para o apresentar ao Senhor, conforme o que está escrito na Lei do Senhor: “Todo primogênito do sexo masculino será consagrado ao Senhor” (Ex 13,2); e para oferecerem o sacrifício prescrito pela Lei do Senhor, um par de rolas ou dois pombinhos.”
Quarenta dias depois do Natal, a festa da Apresentação de Jesus no Templo comemora este acontecimento: Jesus é oferecido a Deus pelos seus pais. Neste dia, o Messias também vem para encontrar os fiéis. Pela boca do velho Simeão que o Espírito Santo inspira, é revelada a “Luz para iluminar as nações”. E com as suas palavras proféticas ele anuncia a oferta plenária de Jesus ao Pai na cruz e a sua vitória final sobre a morte (Lc 2, 32-35). Assim, na casa de Deus, naquele dia, se manifesta a Pessoa Consagrada do Pai que veio ao mundo para salvar todos os homens. E Maria, sua mãe, se une a ele no mesmo movimento de oblação pela salvação do mundo.
Além disso, a Apresentação de Jesus no Templo é um ícone eloquente da doação total de si a Deus por todos aqueles que, observando os conselhos evangélicos, são chamados a reproduzir na Igreja e no mundo “os traços do Jesus casto, pobre e obediente” (São João Paulo II, Exortação Apostólica sobre a Vida Consagrada). E a Virgem Maria, que oferece o Menino a Deus, exprime muito bem a atitude da Igreja que continua a oferecer os seus filhos e filhas ao Pai, associando-os à única oblação de Cristo, causa e modelo de toda a consagração na Igreja.
E, como a profetisa Ana que, como Simeão, esperava o Messias e vigiava no Templo, também a primeira vocação de quem segue a Cristo com o coração indiviso é estar em comunhão com ele, ouvindo sua palavra e louvando a Deus com humildade e firmeza. Sua vida encontrará então um profundo eco no coração dos homens. Além disso, São João Paulo II deseja “que a celebração do Dia da Vida Consagrada nesta festa litúrgica reúna os consagrados e o povo cristão para cantar, com a Virgem Maria, as maravilhas que o Senhor ainda realiza para seu filhos e suas filhas” (São João Paulo II, Mensagem para a 1ª Jornada de Vida Consagrada, 1997). Além disso, ele deseja que esta festa manifeste a todos que a vocação do povo santo de Deus é ser inteiramente consagrado a ele.
Por que um dia para a vida consagrada?
São João Paulo II viu nesta festa pelo menos três objetivos:
• “Em primeiro lugar, é belo e justo dar graças ao Senhor pelo grande dom da vida consagrada” (São João Paulo II, Mensagem para a 1ª Jornada de Vida Consagrada, 1997). Assim como Jesus, na sua obediência e consagração ao Pai, as pessoas consagradas nos mostram o quanto Deus está conosco, pela sua pertença plena ao único Senhor, pela sua forma de viver e trabalhar, pela sua dedicação para com os homens. Todos estes são sinais eloquentes, um forte anúncio da presença de Deus hoje no mundo. “Este é o primeiro serviço que a vida consagrada presta à Igreja e ao mundo”, sublinhou Bento XVI no dia 2 de fevereiro de 2006. No povo de Deus, as pessoas consagradas são como sentinelas que percebem e anunciam a nova vida já presente em nossa história”.
• “Em segundo lugar, o objetivo deste dia é tornar a vida consagrada mais conhecida e apreciada por todo o povo de Deus, dos bispos aos sacerdotes, dos leigos às próprias pessoas consagradas”, explicou São João Paulo II em 1997, no primeiro Dia da Vida Consagrada. Assim o expressou São João Paulo II às pessoas consagradas em 2 de fevereiro de 2000: “O testemunho escatológico pertence à essência da vossa vocação. Os votos de pobreza, obediência e castidade pelo Reino de Deus constituem uma mensagem que enviamos ao mundo sobre o destino final do homem. É uma mensagem preciosa: “Quem zela pelo cumprimento das promessas de Cristo é capaz de comunicar esperança aos irmãos, muitas vezes desanimados e pessimistas quanto ao futuro”.
E acrescentar: “A vida consagrada é uma memória viva do Filho pertencente totalmente ao Pai, que é visto, vivido e apresentado como o único amor (a virgindade), como a única riqueza (a pobreza), como a única realização (a obediência). Esta forma de vida abraçada por Cristo e transformada em presente pela vida consagrada é de grande importância para a vida da Igreja; expressa de fato a resistência de uma pessoa para com Deus, que é Tudo, por uma vida no seguimento de Cristo, na luz e na força do Espírito Santo. O conhecimento e o amor pela vida consagrada surgem, portanto, de um aprofundamento das exigências radicais inerentes à mensagem evangélica: a meta da vida do cristão é pertencer ao Pai, à imitação de Cristo, sob a ação do Espírito. Ao contemplar o dom da vida consagrada, a Igreja contempla a sua vocação mais profunda, a de pertencer apenas ao seu Senhor. Por isso afirmo que a consagração especial da vida consagrada está a serviço da consagração batismal de todos os fiéis, porque Deus deve ser tudo em todos”.
• O terceiro motivo diz respeito às próprias pessoas consagradas: “Elas são convidadas a celebrar juntas e solenemente as maravilhas que o Senhor realizou em suas vidas”, explicou São João Paulo II na primeira Jornada de Vida Consagrada. São convidadas a refletir sobre o dom recebido, a descobrir, num olhar de fé cada vez mais puro, o esplendor da beleza divina difundida pelo Espírito em sua forma de vida, a tomar consciência de sua missão incomparável na Igreja para a vida do mundo.
Os frutos da missão
Num mundo marcado por tantos compromissos e distrações, por deveres absorventes e realidades cativantes, este dia certamente ajuda a evidenciar com mais intensidade e urgência a responsabilidade que os homens e mulheres consagrados têm de encarnar com alegria e serenidade a vida e a mensagem do Filho de Deus. Eles anunciarão assim ao nosso mundo, nas mais diversas situações, que em última instância o Senhor é para o homem verdadeiro amor, verdadeira riqueza, o caminho mais seguro para a realização. Uma vida consagrada cheia de alegria e no Espírito Santo, nos caminhos da missão, é o maior serviço que hoje se presta ao homem. E o seu principal ensinamento, que subjaz e sustenta todas as missões próprias dos vários carismas, é este: “O homem contemporâneo escuta mais as testemunhas do que os mestres ou, se escuta os mestres, é porque são testemunhas” (São Paulo VI, Exortação Apostólica para a Evangelização do Mundo Moderno, 1975, n. 41).
Para São João Paulo II, a instituição deste dia na festa da Apresentação do Senhor no Templo, portanto, apoiou a missão da Igreja. Em primeiro lugar à sua missão no mundo, para que quem ainda não conheceu a Cristo, possa aproximar-se dele por meio daquelas pessoas que, pelo dom total de si mesmas, testemunham que Cristo é o único Filho, enviado do pai. O Papa destacou que a nova evangelização se torna possível e efetiva graças a pessoas que, antes de tudo se auto evangelizam, “podem apresentar o Evangelho em sua plenitude e mostrar o rosto materno da Igreja, serva dos homens, no nosso tempo “.
Oração de Bento XVI pelas pessoas consagradas
Também foi assegurado um apoio concreto à pastoral das Igrejas locais desta forma: “Podem por vezes ser tentados, como Marta, a considerar a missão sobretudo nas muitas coisas a fazer e as que devem ser feitas, naturalmente. Mas este dia lembra a todos que é escolhendo o papel de Maria que podemos dar frutos abundantes na vinha do Senhor. A Virgem Maria, que teve o grande privilégio de apresentar ao Pai, Jesus Cristo, seu Filho unigênito, como oferta pura e santa, nos guarde em ação de graças ao Senhor pelo dom da vida consagrada e pelas maravilhas que realizou para o bem de toda a humanidade”, disse ele em 1997.
E Bento XVI, em 2 de fevereiro de 2006, formulou esta oração e se dirigiu às pessoas consagradas:
Que o Senhor renove a cada dia
em cada pessoa consagrada
a resposta alegre ao seu amor livre e fiel.
Como velas acesas,
faça brilhar sempre e em todo lugar
o amor de Cristo, luz do mundo.
Que a Bem-Aventurada Virgem Maria, a mulher consagrada,
os ajude a viver plenamente sua vocação e missão especiais
na Igreja para a salvação do mundo.
Amém

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Marie-Christine Lafon