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Sexta-feira Santa: como falar as crianças sobre a Cruz? 

MODLITWA Z DZIECKIEM

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Edifa - publicado em 01/04/21

Crianças muito sensíveis podem ser profundamente afetadas pelo realismo de certos crucifixos ou por imagens de Jesus coberto de sangue

Às vezes hesitamos em falar mal da cruz às crianças, por medo de impressioná-las e dar-lhes uma imagem triste da fé cristã. Em si, não há nada de agradável na cruz: é o instrumento de uma tortura particularmente cruel e pode-se compreender a revolta de quem olha para ela sem saber o que significa. Se Jesus fosse um dos torturados entre outros, se fosse apenas um homem condenado à morte injustamente, seria de fato uma demonstração de um masoquismo doentio colocar crucifixos nas paredes de nossas casas e igrejas. Mas Jesus não é um homem como os outros, e se ele sofreu a crucificação, não é porque ele não pôde evitar. Filho de Deus, e o próprio Deus, ele ofereceu sua vida por amor a nós. Ele poderia ter eliminado aqueles que o mataram, mas livremente escolheu não fazer isso, a fim de salvá-los, de nos salvar. Por isso é importante, principalmente na Sexta-Feira Santa, conversar sobre o assunto com as crianças.

Não se demore em detalhes macabros, mas anuncie o amor do Senhor

A cruz é impressionante, é verdade. Crianças muito sensíveis podem ser profundamente afetadas pelo realismo de certos crucifixos ou por imagens de Jesus coberto de sangue, exausto e cheio de dores. Sob o pretexto de explicar o quanto Jesus nos amou, não vamos usar este tipo de representações: as crianças correm o risco de ficar marcadas apenas pelo horror dos tormentos infligidos a Jesus e ficar aterrorizadas por isso. Além disso, é importante evitar que muitos pais e catequistas se sintam tentados a falar o mínimo possível sobre a Paixão e a crucificação aos pequenos, passando rapidamente na Sexta-Feira Santa para ir diretamente à alegria da Páscoa.

A cruz não é um aspecto acessório de nossa fé. É um mistério central. “Nós, como nos lembra São Paulo, proclamamos um Messias crucificado”. (1 Cor 1, 23) Ou seja: anunciamos Jesus, que veio para nos revelar a infinita misericórdia de Deus. Falar da cruz não é demorar-se em detalhes macabros, mas é anunciar o amor do Senhor por cada um de nós: Ele, o Filho de Deus, o Todo-Poderoso, torna-se pobre e impotente entre as nossas mãos, para dar sua vida por amor. E a cruz é o sinal tangível desse amor.

Confie no Evangelho 

Para ajudar as crianças a entender esse mistério, não devemos nos confiar na descrição detalhada das torturas de Jesus, mas na Palavra de Deus! Não são as nossas palavras que os introduzirão no mistério da cruz, é o próprio Espírito Santo, por meio do que vamos dizer. O Senhor precisa de nós para se dar a conhecer aos nossos filhos, mas somos chamados, como São Paulo, a anunciar o Evangelho “sem recorrer à sabedoria da linguagem humana, que tornaria sem sentido a cruz de Cristo” (1 Cor 1, 17). “Também eu, quando fui ter convosco, irmãos, não fui com o prestígio da eloquência nem da sabedoria anunciar-vos o testemunho de Deus. Julguei não dever saber coisa alguma entre vós, senão Jesus Cristo, e Jesus Cristo crucificado” (1 Cor 2, 1-2).

Comecemos pelo próprio texto do Evangelho. Por exemplo, todas as noites desta semana, na hora de orar em família, podemos reler uma passagem da Paixão. Os mais jovens não vão ouvir tudo, talvez, nem entender tudo (nem nós), mas a palavra de Deus vai passar por eles. O que se esconde dos sábios e dos eruditos se revela aos pequenos, não o esqueçamos. Podemos mostrar a eles um crucifixo, que homenagearemos na Sexta-Feira Santa, no nosso cantinho de oração, por exemplo. O importante é viver isso em um clima de paz, amor e contemplação, não só no momento da oração, mas ao longo de toda a Semana Santa.

A cruz não pode ser separada da ressurreição

Enquanto damos mais ênfase na na cruz na Sexta-feira santa e na ressurreição no domingo de Páscoa, esses dois eventos são inseparáveis um do outro. É por isso que é bom, especialmente para as crianças, para quem três dias é uma eternidade, terminar as Estações da Cruz ou a oração familiar da Sexta-Feira Santa, anunciando a Ressurreição e a festa da Páscoa.

Se ignorarmos a Paixão de Jesus, o que podemos dizer sobre a ressurreição? Corremos o risco de reduzi-la a uma renovação da vida, como a da primavera após o inverno. Ao querermos tornar as coisas acessíveis às crianças, podemos correr o risco de distorcê-las.


PAPIEŻ FRANCISZEK

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Christine Ponsard

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