Entrai na barca e ide para a outra margem...

Jesus obrigou os discípulos a subir na barca e a esperá-lo na outra margem enquanto despedia a multidão. A multidão não podia ir até a outra margem; não eram judeus no sentido espiritual da palavra, que se traduz como: “a gente da outra margem”. Esta obra foi reservada para os discípulos de Jesus: ir para a outra margem, ultrapassar o visível e corporal, as realidades temporais, e chegar, como primeiros, até o invisível e eterno. E, sem dúvida, os discípulos não puderam preceder a Jesus na outra margem; possivelmente queria fazê-los passar pela experiência de que sem ele não era possível chegar até ali; que barca é essa que Jesus obriga os discípulos subirem? Não seria a da luta contra as tentações e as circunstâncias difíceis? Logo subiu à montanha, em um lugar a parte para rezar. Por quem reza? Provavelmente pela multidão, para que, depois de terem comido os pães abençoados, não façam nada contrário a essa chamada de Jesus. Rezava também pelos discípulos, para que não lhes ocorresse nada de mau no mar por causa das ondas e do vento forte. Os discípulos, graças a oração que Jesus fez a seu Pai, não sofreram um dano sequer, enquanto o mar, as ondas e o vento se abatiam contra eles. Se um dia nós tivermos que enfrentar tentações inevitáveis, lembremo-nos que Jesus nos obrigou embarcar; não é possível alcançar a outra margem sem passar pela prova das ondas e do vento forte.

Orígenes

Asceta e teólogo (185?-253).