Mulher, estás livre da tua doença
Num sábado Jesus estava ensinando na sinagoga. Estava ali uma mulher possuída, havia dezoito anos, por um espírito que a tornara inválida, “...Era tão curvada que não conseguia olhar para cima”. O pecador, preocupado com as coisas terrenas, sem buscar as do céu, é incapaz de olhar para cima: enquanto persegue os desejos que o levam para baixo, sua alma, vai perdendo sua posição ereta, se encurva e vê apenas o que que pensa incessantemente. Voltem-se para seus corações, queridos irmãos e irmãs, e examinem continuamente seus pensamentos e constatem o que não para de girar em seu espírito. Um pensa em honras, outro em dinheiro, outro em aumentar suas propriedades. Todas essas coisas são terrenas e, quando o espírito está voltado para as coisas terrenas, ele se desvia e perde sua referências em relação a coisas celestes e se encurva para as coisas terrestres. E como esta alma não se eleva para desejar os bens do céu , ela fica como esta mulher curvada, que simplesmente não consegue ver as coisas do alto.
O salmista descreveu muito bem a nossa curvatura quando disse de si mesmo, como um símbolo de toda a raça humana: “Estou encurvado e encolhido ao extremo”. O homem, embora criado para contemplar a Luz do alto, foi tirado do paraíso por causa de sua capacidade de pecar e, consequentemente, as trevas que reinam em sua alma o fazem perder o apetite pelas coisas do alto e coloca toda a sua atenção às que estão no nível terreno [...]. Embora o homem, perdendo a visão das coisas do celestes, pense apenas nas coisas deste mundo, ele sem dúvida é curvado e humilhado, mas não “excessivamente”. Agora, visto que não apenas as coisas deste mundo abaixam seus pensamentos, mas que também o prazer o afunda, ele não está apenas curvado, mas está “excessivamente curvado”.
São Gregório Magno
Homilias sobre o Evangelho n. 31
64º Papa da Igreja Católica e Doutor da Igreja (†604)