Um homem plantou uma vinha...

A vinha do Senhor, diz o profeta, é a casa de Israel. Ora, esta casa somos nós [...] e como somos Israel, também somos a vinha do Senhor. Vigiemos, pois, para que não nasça de nossos sarmentos o fruto da raiva, em vez da doce uva, para que não diga: “Esperava uvas e deu uvas azedas”. Que terra tão ingrata! Ela, que devia dar a seu mestre frutos de doçura, o perfurou com espinhos afiados. Assim, seus inimigos, aqueles que deveriam ter acolhido seu Salvador com toda a devoção de sua fé, o coroaram com os espinhos da paixão. Para eles, essa coroa significava ultraje e injúria, mas, aos olhos do Senhor, era a coroa das virtudes [...]. Prestai atenção, irmãos, para que não seja dito a vosso propósito: “Eu esperava bons frutos e deram uvas azedas”. Tenhamos cuidado para que nossas más ações não firam a cabeça do Salvador como espinhos cruéis. Existem espinhos do coração que feriram até a própria palavra de Deus, como diz o Senhor no Evangelho quando narra que a semente do semeador caiu entre os espinhos, eles cresceram e sufocaram a semente. [...]. Vigiai, pois, para que a vossa vinha não produza espinhos em vez de cachos, para que a vossa vindima não dê vinagre em vez de vinho. Quem quer que faça a colheita da uva sem distribuir aos pobres seus bens, coleta vinagre em vez de vinho. E quem coloca a sua colheita nos celeiros, sem dar alimento aos necessitados, não colhe o fruto da esmola, mas o restolho da ganância.
São Máximo de Turim
Sermão: Espinhos do Coração para a festa de San Cipriano
Bispo de Turim e escritor eclesiástico (†423?)