São Donato de Arezzo

A tradição diz que o relato da morte deste santo bispo foi escrito por seu sucessor, o bispo Severino. Contudo, pairam muitas dúvidas sobre alguns elementos de sua vida: em muitos documentos antigos, por exemplo, São Donato é chamado de “bispo e confessor”, ou seja, não seria um santo mártir. Em todo caso, a tradição antiga vê nele uma testemunha da fé no Cristo. Nascido na Nicomédia, Donato foi para Roma ainda criança e foi educado na cidade eterna. Seu companheiro de estudos foi ninguém menos que Juliano, membro da família do já falecido imperador Constantino. Apesar disso, Juliano se tornaria mais tarde, o último imperador pagão de Roma. Isso num período em que o cristianismo havia se tornado já uma religião aceita pelo império desde os tempos de seu tio, Constantino. De fato, muito mais tarde, para ilustrar o mistério da liberdade humana, São Pedro Damião (1007-1072) chegou a se referir aos dois, Donato e Juliano com estas palavras: “Eis que no campo de Senhor crescem juntos dois rebentos, Donato e Juliano, entretanto, um deles se tornará um cedro do Paraíso, ao passo que o outro será um carvão para as chamas eternas”. Efetivamente, quando Juliano se tornou imperador, muito provavelmente numa jogada política, ele abraçou os velhos costumes do império, tencionava reagrupar velhas forças em torno de si. Para isso, chegou a adotar várias leis restritivas contra os cristãos. Nesse clima de nova perseguição, na cidade de Roma seus genitores foram mortos, bem como o velho tutor, o Presbítero Pimênio, que havia ensinado a Juliano e a Donato. Aliás, diante desse quadro, Donato fugiu para a cidade de Arezzo e foi acolhido pelo monge Hilariano: aí viveu em oração e penitência, dedicando-se também à pregação ao povo e se tornando o bispo da cidade. Fala-se de vários milagres que teriam ocorrido durante sua vida de pregador do evangelho. Um deles diz que, enquanto São Donato presidia a eucaristia e o diácono distribuía num cálice de vidro o Sangue de Cristo entre os presentes, um grupo de pagãos entrou com violência na igreja. O cálice com o precioso sangue foi arremessado contra o chão e se quebrou. O bispo Donato recolhe os pedaços e, juntando-os milagrosamente, continua a distribuição da comunhão. Está tão concentrado nisso que não percebe que falta o pedaço do fundo o cálice e que o Sangue de Cristo paira como se o cálice estivesse intacto. Diz-se que muitos pagãos que participaram desse ato violento se converteram ao cristianismo. Apesar de tudo isso, o prefeito romano da cidade o manda prender por ser cristão. Segundo a tradição, ele teria sido decapitado no dia 7 de agosto do ano 362. É considerado padroeiro da cidade de Arezzo e as relíquias de seu corpo são guardadas na Catedral da cidade.