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3% dos consagrados franceses cometeram abusos, mas os outros 97% pagam o pato

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Francisco Vêneto - publicado em 08/10/21
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É inquestionável a realidade vergonhosa dos abusos sexuais; mas não se combate este mal com acusações falsas contra religiosos inocentes

Gerou devastação nesta semana o estarrecedor relatório elaborado ao longo de 32 meses de investigações pela Comissão Independente sobre os Abusos na Igreja Católica na França (CIASE). O documento registrou que, de 1950 até 2020, cerca de 330 mil menores de idade teriam sido vítimas, só na França, de padres criminosos, religiosos criminosos ou leigos católicos criminosos, em ambientes relacionados com a Igreja. Veja mais sobre o relatório na matéria sugerida ao final deste artigo.

Ao se manifestar sobre o conteúdo das investigações, o Papa Francisco declarou "tristeza, pesar e vergonha" diante do sofrimento imposto por membros da Igreja Católica a centenas de milhares de vítimas de abusos sexuais. Ele afirmou que a Igreja teve uma "incapacidade excessivamente longa" de colocar as vítimas "no centro das suas preocupações" e, reiterando que "este é o momento da vergonha", encorajou "os bispos e superiores religiosos a continuarem fazendo todos os esforços para garantir que dramas semelhantes não se repitam".

O relatório estimou que cerca de 3% das pessoas consagradas na França estiveram envolvidas nos crimes de abusos sexuais. Portanto, 97% deles não perpetraram esses crimes.

Acontece que, muito injustamente, a totalidade do clero católico é com frequência acusada pelos crimes de alguns, mediante generalizações que desprezam os fatos, às vezes de propósito.

O Papa Francisco fez questão de demonstrar solidariedade para com os bons religiosos, bons sacerdotes e bons leigos católicos franceses, garantindo a todos a sua "proximidade e apoio paternal diante desta provação, que é dura, mas saudável". Ele também exortou os fiéis católicos, como comunidade unida, a se comprometerem com afinco para fazer da Igreja "uma casa segura para todos".

É inquestionável a vergonhosa realidade dos abusos sexuais perpetrados por pessoas católicas consagradas. São bandidos e devem responder canonicamente e civilmente por cada um dos atos criminosos que, comprovadamente, tenham praticado. Ao longo dos últimos vinte anos, aumentou consideravelmente o número de padres expulsos do estado clerical pela Igreja por acusações e comprovações de crimes de abuso sexual, mas também ficou claro que muitos deles morreram impunes e, em vida, contaram com o acobertamento no mínimo culposo de superiores eclesiásticos omissos ou abertamente cúmplices.

Por outro lado, também aumentou exponencialmente a quantidade de acusações falsas contra clérigos inocentes, o que também é crime e igualmente deve ser combatido.

Houve casos particularmente graves de calúnias contra sacerdotes que redundaram em prisões injustas e até em mortes trágicas. Estes episódios reforçam que é imprescindível zelar pela objetividade e pela imparcialidade no combate aos crimes de abusos sexuais para não cometer injustiças paralelas.

Entre os casos de calúnia contra sacerdotes, com sérias consequências, está, por exemplo, o do pe. Antonio Molina, de El Salvador, que chegou a ser expulso do estado clerical após as falsas acusações de Isaí Ernesto Mendoza, que depois admitiu ter mentido.

Ou o caso do pe. Adam Stanisław Kuszaj, da Polônia, que, trabalhando pastoralmente na descristianizada República Tcheca, foi levado aos tribunais sob a acusação de assédio sexual contra uma jovem de 16 anos. O pe. Adam também foi expulso do estado clerical e da sua congregação religiosa, além de ser condenado civilmente. Ele teve a pena suspensa pela justiça, mas passou anos marcado pelo estigma de uma acusação abominável e só conseguiu se sustentar porque arrumou emprego como operário. Finalmente, após 9 anos de calvário, o padre foi inocentado porque um grupo de amigos da suposta vítima revelou que ela tinha inventado as acusações contra ele. O que veio à tona, ao final das investigações, foi que a mulher queria se vingar do padre porque ele tinha se negado a lhe dar dinheiro.

Naturalmente, a notícia da inocência destes e de vários outros padres injustamente condenados passou quase em brancas nuvens pelas manchetes dos mesmos "grandes" veículos de comunicação que os tinham usado com espalhafato e sensacionalismo, visando moê-los de forma irresponsável em troca de audiência.

Entre os muitos relatos semelhantes, porém, é provável que o mais espantoso e indignante episódio de injustiça contra padres falsamente acusados e condenados por crimes que não cometeram seja o dos três sacerdotes e um professor da arquidiocese da Filadélfia, nos Estados Unidos, que foram presos devido às grosseiras falsidades do ex-coroinha Daniel Gallagher. O rapaz se tornara conhecido no país como "Billy Doe" e era tratado como vítima inocente de supostos padres pedófilos quando, na realidade, era ele o criminoso carrasco dos verdadeiros inocentes.

Uma das vítimas das calúnias doentias de Daniel Gallagher chegou a morrer na cadeia: o pe. Charles Engelhardt faleceu em novembro de 2014, após ter um pedido negado pela justiça para se submeter a uma cirurgia cardíaca.

A influente revista Newsweek publicou extensa reportagem sobre a série de falsidades do ex-coroinha. Confira o relato completo deste caso criminoso no seguinte artigo: