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Luzes e sombras do projeto dos EUA sobre o mapa do cérebro humano

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Aleteia Vaticano - publicado em 10/04/13

Estudioso da Academia Alfonsiana fala sobre o “Brain Activity Map” de Obama

O projeto de pesquisa científica sobre o cérebro humano chamado "Brain Activity Map", anunciado pelos Estados Unidos com a promessa de um financiamento substancial – estimam-se 100 milhões de dólares por ano, além do financiamento privado – abre um cenário de luzes e sombras, com grandes esperanças para a saúde humana, mas também limitações relacionadas às aplicações técnicas e implicações éticas e sociais do projeto.

A Aleteia conversou sobre isso com monsenhor Vincenzo Viva, da Academia Alfonsiana de Roma.

Quais são os aspectos positivos deste projeto?

Por um lado, há grandes esperanças relacionadas com uma das preocupações mais fortes das sociedades ocidentais sobre a saúde das pessoas: demência (Alzheimer), depressões e Parkinson. Decifrar os segredos do cérebro poderia trazer soluções clínicas para essas patologias e também outras, como esquizofrenia, autismo, epilepsia, esclerose lateral amiotrófica ou a recuperação das funções cerebrais normais após acidentes ou ictus. Nos países ocidentais, onde o número de idosos aumenta constantemente, as enfermidades neurodegenerativas representam um grande desafio. Este projeto de estudos sobre o cérebro integra um macro-projeto que já dura décadas.

Quais são os limites? 

Podemos recordar o que aconteceu com o “Projeto Genoma Humano”, de que tanto se falou nos anos 90. Apesar dos muitos méritos científicos, não foram satisfeitas tantas expectativas. Muitas inovações no campo científico se tornaram pesadelos no campo das aplicações técnicas. Basta recordar as manipulações genéticas ou as novas ameaças à vida nascente. Acrescentam-se ademais as dificuldades metodológicas de se estudar os mais de 80 bilhões de neurônios de que o cérebro está formado, além da política que guiará a distribuição dos recursos financeiros.

Do ponto de vista ético-moral, como avalia o projeto?

É extremamente importante que a ciência e a política façam todas as perguntas profundas que estão em jogo e que estão relacionadas com o futuro que queremos para a humanidade. 

Do ponto de vista ético, é necessário recordar que no âmbito da pesquisa sobre o cérebro há progressos relacionados com o fortalecimento da capacidade de nosso cérebro (enhancement), com as técnicas de leitura do pensamento (lie-detection), com a robótica humanóide ou as aplicações no campo militar para a manipulação da emotividade ou da intencionalidade dos sujeitos.

Especialmente nesse setores, a ética, seja a cultivada no âmbito filosófico ou de inspiração teológica, tenta conversar com quem está implicado na pesquisa e nas aplicações técnicas. Trata-se de oferecer à comunidade científica as perguntas importantes que reconduzem o sentido da pesquisa e da ação; as perguntas e as orientações que pretendem, portanto, ajudar também as neurociências a se colocar verdadeiramente a serviço da humanidade.

Qual é o limite entre ciência e ética?

Referente ao tema do “fortalecimento do cérebro” (enhancement), há, por exemplo, perguntas relacionadas à justificação moral de seu emprego e as de justiça social, ou seja, o acesso a determinadas possibilidades por parte dos sujeitos mais poderosos em relação aos mais pobres. Por enhancement se entende, de fato, um aumento da qualidade de resposta e/ou função de uma faculdade específica do cérebro (como a memória ou a atenção).

E os efeitos sociais?

Se acrescentarmos as perspectivas de dependência inclusive patológica de tais mecanismos ou as pressões sociais, por exemplo, no mercado de trabalho, que poderia impor contínuas melhorias de performance, à custa da saúde psicofísica dos sujeitos. A lógica do lucro, o individualismo exasperado, o conflito no interior da sociedade e entre as nações não podem ser o preço a pagar em nome de um progresso que se quer realizar a todo custo.

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