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O papa, os mafiosos e a oferta que não dá para recusar – ou dá?

Pope Francis 703 – pt

Gabriel Bouys/AFP

Pope Francis delivers his speech at Copacabana beach to participate in a re-enactment of the 14 Stations of the Cross -- scenes of Jesus carrying the cross to his crucifixion -- in Rio de Janeiro, on July 26, 2013. Pope Francis, who is in Rio for the weeklong gathering of young Catholics World Youth Day, took his high-octane mission to &quot;shake up&quot; Catholic faith back to the streets of Brazil Friday, greeting throngs of pilgrims, meeting convicts and hearing youngsters confess their sins. AFP PHOTO / GABRIEL BOUYS&nbsp;<br /> <br /> <br /> KEYWORDS:&nbsp;WORLD YOUTH DAYS; CATHOLIC; RELIGION; CATHOLIC RELIGION; HORIZONTAL; NIGHT; CEREMONY; RELIGIOUS CEREMONY; POPE; PROFILE; CLOSE-UP; PORTRAIT; PORTRAIT-CLOSE-UP; SERIOUS

Pe. Dwight Longenecker - Aleteia Vaticano - publicado em 28/03/14

Francisco fez uma oferta à máfia – e a nós também

No clássico “O Poderoso Chefão”, don Vito Corleone mandava fazer aos seus inimigos “ofertas que eles não pudessem recusar”. Era um jeito discreto de mandar usar a força para “convencê-los”.

Ao discursar durante um encontro de oração com as vítimas do crime organizado, o papa Francisco fez os mafiosos uma oferta que eles sim podem recusar: o inferno. Depois de reconfortar os membros de famílias vítimas da violência da máfia, o papa disse abertamente aos criminosos: "Esta vida que vocês levam não vai satisfazer vocês. Não vai lhes dar alegria nem felicidade. Dinheiro manchado de sangue, poder manchado de sangue, vocês não podem levar nada disso com vocês para a outra vida. Arrependam-se. Ainda há tempo para não acabar no inferno, que é o que espera vocês se vocês continuarem seguindo este caminho".

A clara mensagem cristã é que o inferno pode ser evitado. É uma oferta que pode ser recusada. Rejeitar o caminho do inferno e trilhar o caminho do céu é a escolha que está no coração do chamado ao arrependimento.

A palavra "arrependimento" significa "voltar-se para outro lado", reorientar-se em direção a Deus em vez de ao prazer egoísta. O arrependimento não é uma prática sombria e pessimista, mas alegre, pois, aos nos arrepender, nos afastamos da morte, do ódio e das trevas e rumamos para a vida, para o amor e para a luz.

Mas, espere aí: este não era o papa que ia falar menos sobre pecado, arrependimento e julgamento? Não é ele o papa que ficou famoso por dizer "Quem sou eu para julgar?". Em face do crime organizado, Francisco não tinha que dar de ombros e dizer "Quem sou eu para julgar?".

É evidente que o papa Francisco sabe que faz parte do seu papel, como faz parte do papel de todo sacerdote católico, falar do pecado e alertar sobre a realidade e os riscos do inferno. E para que ninguém pense que o papa Francisco só fala dos males do crime organizado, ele também falou sem rodeios dos males do aborto, da guerra e das imoralidades de todo tipo. Os mafiosos não são os únicos em risco de inferno se não se arrependerem.

Na verdade, todo mundo é chamado ao arrependimento, não só os assassinos, ladrões e bandidos. O Novo Testamento é bem claro: "Todos pecaram e caíram da glória de Deus". E quem precisa se arrepender mais é justamente quem não acha que precisa. A “autojustificação” e a minimização do pecado são um caminho certo para baixo.

O arrependimento não é só um modo de evitar o inferno e de ir para o céu. Nós não nos arrependemos só porque o papa mandou. O arrependimento é um passo adiante na dinâmica de uma vida saudável. O arrependimento de coração consiste em dizer: "Eu errei. Eu não sei tudo. Eu ainda sou um trabalho em execução e preciso de ajuda". É difícil admitir isso. Mas só quando admitimos que não temos todas as respostas é que podemos começar a encontrar as respostas. Só quando admitimos que a nossa vida é vazia é que podemos começar a descobrir como preenchê-la.

A segunda etapa dinâmica do arrependimento é parar de culpar os outros e aceitar a nossa culpa. Este é um passo vital em direção à maturidade: ao parar de culpar os outros, começamos a assumir a nossa própria responsabilidade.

O arrependimento nos ajuda a ver que não somos vítimas. Não estamos presos numa teia de ações e reações que fogem ao nosso controle. Não estamos destinados ao crime nem à miséria. Não é verdade que "nascemos assim" e assim continuaremos. Pelo contrário: o dom do arrependimento nos lembra que nós temos livre arbítrio. Podemos optar por Deus ou por nos afastar de Deus.

Esta foi a oferta que o papa Francisco fez, e não apenas para os criminosos, mas para toda a humanidade. A oferta do inferno pode ser recusada, e o papa Francisco, como um verdadeiro “padrinho”, nos convida a rejeitar o inferno e a nos arrepender, para sermos perdoados e vivermos.

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