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Quando você não está presente: a lição de Tomé

Cristo resucitado – pt

© pedronchi / Flickr / CC

Carlos Padilla Esteban - publicado em 29/04/14

Tomé sofreu por não ter estado presente na primeira aparição de Jesus ressuscitado, mas Cristo voltou para demonstrar-lhe seu amor

Há momentos na vida em que não estamos no lugar certo. Não estamos presentes quando acontece algo importante. E nos lamentamos depois.

São Tomé teve o mesmo problema. Justamente no momento em que o Senhor chegou, na hora em que Ele se fez presente, Tomé não estava lá.

Precisamente quando Tomé precisava experimentar o amor de Jesus, tocar suas feridas, escutar suas palavras, receber sua paz… ele estava ausente. Como deve ter sido grande sua dor! Talvez ele tenha sentido angústia diante de um Deus que se faz presente e não sente falta dele; um Deus que parece ter escolhido o dia e a hora errados; um Deus que desce e não conta com ele. Porque tudo aconteceu enquanto ele estava ausente.

Os outros tampouco sentiram sua falta. E quantas vezes isso acontece conosco também! Queremos estar, queremos que as coisas aconteçam quando estamos presentes, queremos ser protagonistas. Queremos que tudo gire ao nosso redor. Estar a par de tudo, saber tudo, estar informados.

O erro de Tomé não foi tanto não acreditar que Jesus havia ressuscitado, e sim não se conformar com o fato de Jesus aparecer sem que ele estivesse presente. Porque é difícil alegrar-nos pelo outro. Precisamos aprender a sair de nós mesmos e ver o outro com alegria; aprender a agradecer pelo que acontece com o outro, ainda que eu não participe disso, ainda que não tenha sido graças à minha ajuda.

Tomé não foi capaz. Sua ferida doía demais. Por que isso aconteceu justamente quando ele não estava lá? Ele não merecia isso. Como é difícil lidar com a indiferença! É muito doloroso constatar que não se lembraram de nós.

Foram 8 dias entre a primeira e a segunda aparição de Jesus. Oito dias durante os quais Tomé se sentiu excluído da alegria e da esperança dos outros apóstolos. Ele certamente acabou fechando seu coração e isolando-se.

Quando estamos tristes, a alegria dos outros parece nos doer mais. Talvez Tomé preferisse que Jesus não tivesse aparecido, que não estivesse vivo, ao invés de que isso tudo acontecesse sem que ele estivesse presente. Isso é inveja, ciúme. Nossa autorreferência.

Sempre me impressionam essas pessoas que se preocupam com os outros sem pensar nelas mesmas. Que se alegram de coração, oferecendo sua renúncia com simplicidade, sem esperar o agradecimento. Essas pessoas amam como Jesus, como Maria. E fazem do mundo um lugar melhor.

Precisamos trabalhar os sentimentos do coração. Cada um de nós tem seu lugar na vida, sua missão. Precisamos nos educar, e pedir ajuda a Maria, para cuidar do lugar do outro e proteger sua missão. Admirar o outro pelo que ele é. Agradecer pela vida dos mais próximos.

“Nós vimos o Senhor”, disseram a Tomé. Os apóstolos quiseram compartilhar com ele o que tinham vivido, sua alegria. Eles certamente lhe contaram tudo com entusiasmo, talvez sem perceber o quanto isso lhe doía.

Tomé não confiou nos outros. Como é importante aprender a confiar nas experiências dos outros, ainda que eu não as viva! Porém, Tomé queria tocar Jesus. A experiência dos outros não era suficiente. Queria ser ele. Ele queria tocar as feridas de Jesus.

Mas Jesus já não estava presente. Tomé havia abandonado tudo para seguir Cristo. Ele amava Jesus, mas, agora que tanto precisava dele, o Senhor não estava presente, e Tomé não sabia o que fazer. Sua vida não tinha mais sentido. E, ainda por cima, os outros ficavam dizendo que tinham visto o Senhor.

Tomé não esteve lá e não acreditou. Não conseguia acreditar. Foram os 8 dias mais difíceis da sua vida. Ele se sentia sozinho. Antes, desde a morte de Jesus até agora, ele havia compartilhado seu medo com os outros apóstolos, sua falta de paz. Mas agora sua alegria o incomodava. Ninguém o compreendia. E ele desejava, com todas as suas forças, acreditar e estar com Jesus.

Mas Jesus sempre volta, sempre nos surpreende. Após 8 dias, Tomé estava presente. Todos estavam lá. E Jesus voltou por causa dele, porque o amava. Olhou para ele com ternura, vendo-o tão fraco.

Jesus viu, por trás dessa incredulidade e dureza, o anseio de Tomé por estar com o Senhor. Viu o quanto Tomé precisava dele. Viu a necessidade que ele tinha de tocar para crer – não só na ressurreição, mas no seu amor. E então se adaptou ao seu pedido, ao seu capricho de criança frágil. À sua pequenez.

E Tomé o tocou. Aproximou sua mão. Reconheceu o Senhor em suas feridas.

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AmorJesusRessurreição
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