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Para construir a paz é preciso desarmar os conflitos

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Aleteia Vaticano - publicado em 16/06/14

Por que EUA e União Europeia vendem armas aos países do Oriente Médio?

Por Giustino Di Domenico, Città Nuova

“Todos querem a paz, mas olhando aquilo que acontece, vemos que a raíz do mal é o ódio e a ganância pelo dinheiro das fábricas e das vendas de armas”. As palavras usadas pelo Papa Francisco, diante dos refugiados da Síria, na recente viagem à Jordânia, são vistas com extrema serenidade. Quando fala espontaneamente, Francisco pergunta: “Quem está por trás de tudo isso, quem continua a dar as armas a todos aqueles que estão em conflito?”. Buscamos responder a esta precisa chamada de responsabilidade com a ajuda de Giorgio Beretta, analista do L’Osservatorio.

Qual é o estado do comércio das armas no Oriente Médio?

O Oriente Médio é a região do mundo à qual – segundo o instituto sueco SIPRI (Stockholm International Peace Research Institute) – está endereçada a maior parte de sistema militar: na última década foram enviados mais de 51 bilhões de dólares em armas, que representam mais de 20% de todas as transferências mundiais de armamentos. Um quinto de todos os aparatos militares vendidos no mundo terminam no Oriente Médio.

Quem são os vendedores?

Os Estados Unidos são em absoluto os maiores exportadores de armamentos para os países do Oriente Médio: na última década enviaram quase 25 bilhões, isto é, praticamente a metade de todo o fornecimento de armas ao Oriente Médio é de proveniência dos EUA. Segue a Rússia, mas com cifras distantes (cerca de 5,5 bilhões de dólares) e depois uma série de países da União Europeia: a França (mais de 5 bilhões), a Alemanha (3,3 bilhões), o Reino Unido (3,1 bilhões) e a Itália (mais de 1 bilhão).

Destes dados, que tipo de conclusão se pode tirar?

Quem, mais do que qualquer outro, está armando o Oriente Médio não é qualquer estranho “país desonesto”, mas as maiores potências ocidentais e, entre estas, também os países da União Europeia: somando a transferência de armamentos de todos os países da UE para o Oriente Médio, superam-se os 15 bilhões de dólares.

Qual é hoje o papel da Rússia?

A Rússia foi por dez anos a maior exportadora de armamentos para a Síria, à qual forneceu um amplo arsenal que vai de mísseis a bombas. Moscou também é a maior fornecedora de sistemas militares para o Irã, mas também a China tem fornecido. A Rússia parece ter assinado, no último mês de fevereiro, um acordo com o general e atual presidente egípcio al-Sisi para fornecer caças, sistemas de defesa anti-mísseis, armas leves e munições.

Pode-se interromper o fluxo desta troca comercial?

O problema não é interromper um simples fluxo, mas colocar um freio àquilo que na região do Oriente Médio se tornou uma verdadeira corrida armamentista. Para além dos países já mencionados, lembramos o Qatar, que recentemente anunciou que encomendou 23 bilhões de dólares em armamentos e empreendeu um braço de ferro com a Arábia Saudita para a liderança em uma região instável como as próprias “primaveras árabes”. A grande parte dos países da área, graças ao dinheiro do petróleo, tem uma proporção de gastos militares em relação ao PIB entre as mais altas do mundo. Para contrastar a ameaça representada por Teerã, os Estados Unidos autorizaram novos e grandes fornecimentos de armamentos às monarquias sauditas: tudo isso preocupa o governo de Israel que, a sua volta, pede e obtém de Washington fornecedores para sistemas militares ainda mais sofisticados. 

Como se explica, ao seu ver, esta corrida pelas armas em uma área tão perigosa?

Este agravamento de armamentos não depende apenas – e por certos aspectos talvez nem mesmo principalmente – da instabilidade da região do Oriente Médio. A crise econômica que há anos está assolando as economias ocidentais e a consequente restrição dos orçamentos para o setor de defesa estão, de fato, levando diversos governos, e de modo particular os da UE, a incentivar as exportações de armamentos com o propósito de sustentar as próprias indústrias militares, tanto que diversos ministros e funcionários da Defesa dos Países europeus são conhecidos como explícitos promotores das indústrias deste setor. Se não se enfrentar, ao menos entre os países da UE, o nó central da política de segurança e de defesa comum e, consequentemente, do necessário e talvez urgente redimensionamento das indústrias nacionais dos armamentos, esta tendência continuará se agravando.

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