"Ah, padre, mas o senhor não está se contradizendo? Não está usando o mesmo meio de comunicação que está condenando?". Não, eu não estou condenando nada nem ninguém. Nós, jesuítas, fomos pioneiros no Ministério da Palavra durante séculos e vamos continuar usando todos os meios bons e oportunos para alcançar as pessoas. Mas alcançá-las não é suficiente. Para onde vamos levá-las? Como é que podemos ajudar a formá-las? Na correria das mídias sociais, essas questões parecem esquecidas. Assim que atrairmos a atenção das pessoas, como vamos satisfazer as suas necessidades humanas e espirituais autênticas? Todas as pessoas, mas especialmente a nossa juventude, têm fome de comunidade genuína, de valores verdadeiramente compartilhados e de interesses cultivados em comum. Vou dar dois exemplos.
Duas ou três vezes por semestre, eu organizo a "Noite jesuíta de leitura" para os meus alunos. Fazemos um jantar simples, nos reunimos em torno da mesa e jantamos como uma família. O ponto alto da noite é quando, ainda ao redor da mesa, recitamos poesias: às vezes nossas, às vezes de outros, às vezes lidas, às vezes de memória. Passamos horas na mesma sala, conversando uns com os outros, mantendo contato visual, formando um tesouro de memórias e de vínculos. Sem eletrônicos. A única reclamação dos participantes é que eu não organizo esses jantares com mais frequência.
Aos domingos, depois da missa, eu convido os alunos para um café local, onde avaliamos a minha homilia (tanto na forma quanto no conteúdo), discutimos as escrituras do dia (textos “ligeiramente anteriores” ao surgimento da internet, conforme eu costumo recordar) e falamos do que Deus está fazendo em nossas vidas. São horas de conversa, de contato olho no olho e, novamente, de formação de memórias e vínculos. Sem eletrônicos.
Nas duas situações, nós escolhemos viver como católicos que amam o Senhor, que amam a linguagem falada e escrita e, mais importante, que se esforçam muito para aprender a amar uns aos outros – em pessoa. Esse trabalho duro, com as suas muitas alegrias, também pode ser frustrante, às vezes. E sempre exige tempo. Mas é assim que as comunidades reais se formam. Os meus alunos, muito embora influenciados pelo mundo eletrônico, deixam de lado o prazer e o glamour dos seus aparelhos durante esses encontros e prestam atenção aos outros e à presença de Deus que se percebe ali no meio. Tudo isso é bem diferente dos brilhos e barulhos e da fragmentação da atenção que experimentamos na internet, na televisão, nas mídias sociais e nas comunidades virtuais.
Para terminar, quero propor uma imagem (com emoção, espero) que, ao contrário do que foi dito pelo jovem mencionado no início deste texto, será comunicada precisamente via texto, sem recurso a vídeo nem a áudio. Certa noite, eu li de cabo a rabo um entusiasmante e popular livro sobre a Igreja e as novas mídias. Ao finalizar a leitura, me perguntei se as mídias sociais poderiam ser a base para a evangelização e para a formação de comunidades, tal como o autor tinha prometido. De repente, acabou a luz. Eu me vi sozinho no escuro.
No meu próximo texto, vou abordar algumas formas muito eficazes que foram sendo usadas para garantir que os nossos jovens não se tornem católicos maduros. Enquanto isso, vamos continuar rezando uns pelos outros.
Ah, sim. E agora, desligue um pouco o seu computador e vá conversar com alguém real.