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A ciência e o cristão: amigos e aliados por vocação

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Alexandre Zabot - publicado em 11/09/15

Três grandes motivos para o cristão conhecer mais a ciência em vez de temê-la

Para o homem do século XXI, tudo envolve tecnologia; nada acontece na sua rotina diária sem estar relacionado a ela. Esta, por sua vez, é irmã gêmea da ciência, que não é tão nova, mas só há pouco tempo tem começado a impactar de fato a vida do cidadão comum. Apesar de tanta importância, uma parte considerável das pessoas ainda não compreende o que realmente significam a ciência e a tecnologia. Alguns, motivados por declarações falsas da mídia ou de cientistas que vão além de suas competências e as apresentam como base para o ateísmo, colocam-se contra estas duas ferramentas maravilhosas da nossa era, acreditando que, assim, defendem a sua fé. Esta postura, entretanto, é a pior possível. Podem-se enumerar ao menos três grandes motivos para o cristão se dedicar a conhecer mais sobre ciência – e deles derivam muito outros.

O primeiro motivo é a sobrevivência.

Se estamos num mundo tecnológico, só quem é capaz de lidar com ela pode ter um emprego e uma vida digna em termos de remuneração: todos precisam, hoje, conhecer em maior ou menor grau a ciência e a tecnologia para desempenharem seus trabalhos. A ninguém hoje é dado o direito de alienar-se e, ainda assim, ter uma condição social minimamente aceitável. Se alguém, não importa por que razão, se coloca a priori contra a ciência, como pode estudá-la satisfatoriamente para se desenvolver profissionalmente? Esta pessoa está fadada à hipocrisia de quem é contra algo, mas aceita esse mesmo algo por interesses próprios; ou ao completo fracasso profissional e, consequentemente, social. Certamente, não é o que Deus espera de um filho seu!

O segundo motivo para um cristão conhecer a tecnologia e, especialmente, a ciência, é a apologia cristã, ou seja, a defesa da fé.

Se no mundo abundam afirmações de cunho ideológico que tentam atacar a fé usando a ciência, cabe a nós protestar contra esse uso indevido da ciência. O papa Leão XIII refundou o Observatório do Vaticano em 1891. Já no primeiro parágrafo do motu proprio de refundação, ele deixa bem claras as suas motivações, falando dos que atacam a Igreja:

“… Os filhos das trevas tomaram o costume de deprimi-la [a Igreja] em público, com insensata calúnia, e, trocando a noção das coisas e das palavras, de chamá-la amiga do obscurantismo, sustentáculo da ignorância, inimiga da luz, da ciência e do progresso”.

Por construção e estrutura, a ciência é neutra em relação a Deus. É preciso que os cristãos se dediquem a compreender isto para não terem sua fé atacada sem base alguma por ateus que se dizem grandes defensores da “verdade científica”. No mesmo documento, o papa deixa claro que é este o papel esperado dos padres do Observatório do Vaticano:

“Que todos possam ver claramente que a Igreja e seus pastores não se opõem à ciência sólida e verdadeira, quer humana ou divina, mas a encorajam e promovem com a máxima dedicação possível”.

Creio que este também é papel dos leigos.

O último dos três motivos é, de certa forma, o mais nobre. Trata-se de trocar conhecimentos entre a teologia e a ciência e a tecnologia para o bem das três áreas.

O amado papa São João Paulo II falou-nos muito sobre isso:

“O que é criticamente importante é que cada disciplina [Ciência e Teologia] deve continuar a enriquecer e nutrir a outra, para que ela seja mais plenamente o que pode ser” (Carta ao diretor do Observatório do Vaticano, 1988).

A fé pode ser enriquecida, pois “o desenvolvimento do espírito crítico a purifica de uma concepção mágica do mundo e de reminiscências supersticiosas, e exige uma adesão cada vez mais pessoal e ativa à fé, o que torna numerosos aqueles que atingem um sentido mais vivo de Deus” (Gaudium et Spes). A ciência e, principalmente, a tecnologia são neutras moralmente e precisam da ética para não se voltarem contra o homem. Exemplos concretos não faltam: tecnologias militares usadas para destruição em massa e a própria crise ecológica são realidades terríveis vividas atualmente por todos.

Colocadas estas três principais razões para um cristão conhecer a ciência, finalizo citando Santo Agostinho, para quem “… mesmo um não cristão sabe alguma coisa sobre a Terra, os céus e outros elementos deste mundo …” e, por isso, é vergonhoso “ouvir um cristão que tira conclusões precipitadas a respeito do sentido das Sagradas Escrituras e diz bobagens sobre esses tópicos; devemos empregar todos os meios para evitar esse tipo de situação constrangedora” (Comentário ao Gênesis).

Não é razoável, portanto, que um cristão se coloque contra teorias científicas (como as do Big Bang e da Evolução, por exemplo) por motivos puramente religiosos. Se quiser fazê-lo, que o faça em termos científicos, não teológicos – por respeito próprio e de toda a cristandade.

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O prof. Alexandre Zabot, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), é físico e doutor em Astrofísica. Aleteia lhe agradece pela generosidade de compartilhar conosco os seus artigos sobre as relações entre fé e ciência e convida os leitores a conhecerem o rico blog do professor, AlexandreZabot.

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CiênciaReligião
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