Aleteia logoAleteia logoAleteia
Sábado 25 Março |
São Procópio de Sázava
Aleteia logo
Atualidade
separateurCreated with Sketch.

Aborto no Brasil: não é uma questão religiosa, mas política e jurídica

brasil-aborto

Creative Commons

Aleteia Brasil - publicado em 14/12/16

Interesses sectários, financeiros e ideológicos por trás da legalização do aborto: uma grave ameaça para o futuro de todos nós

Precisando de uma ideia para a esmola quaresmal?

Ajude-nos a difundir a fé na internet! Você poderia fazer uma doação para que possamos continuar criando conteúdos gratuitos e edificantes?

Faça aqui uma doação de Quaresma

Não é de hoje que a infamante tentativa de legalização do aborto espreita de maneira detestável a ordem pública.  E se a sua horrenda prática é repugnante quando defendida por uma militância que não sabe como anda e respira ao mesmo tempo, o que dizer quando a tentativa de legitimá-la parte de autoridades que, por dever de ofício, deveriam garantir a estabilidade e segurança social, com três agravantes: o fazem ao arrepio da lei, de forma sorrateira e num dia em que a nação inteira foi abatida pela notícia de um trágico acidente aéreo?

Afinal, o que esperar de um país que promove a morte de inocentes?

A resposta não é tão simples e, por mais louvável que seja observar e concluir que a sociedade, hoje, em muitos aspectos, se assemelha a determinados contextos da história do povo de Israel, é urgente compreender como a legalização do aborto ameaça, gravemente, o futuro de todos nós e, por isso, é tão necessário combatê-la.

O discurso definitivamente não é religioso, mas, antes de tudo, político e jurídico.

Não é recente a realização de seminários que tratam de estratégias para a descriminalização do aborto no Brasil, importando destacar que as organizações não governamentais, que defendem a sua legitimação, são financiadas por indústrias interessadas em que cada vez mais mulheres adiram à prática.

Por essa razão, é comum que tais ONGs não empenhem esforços na defesa e promoção de políticas públicas que beneficiem, efetivamente, o sexo feminino, sua dignidade e singularidade sob o ponto de vista humano e social, limitando-se a colocar as mulheres sempre em dicotomia com o sexo masculino, como se, por imposição social, restassem a elas apenas duas opções: se rebelarem contra o “sistema”, negando a sua natureza feminina, que é geradora de vida em todos os sentidos, ou submeterem-se às mais diversas sortes de violência.

A verdade nua e crua é que os argumentos pró-aborto geralmente são pautados em pesquisas falaciosas, desenvolvidas sem qualquer critério científico, repletas, comprovadamente, de erros técnicos (e éticos), por entidades partidárias de um determinado segmento comercial; esses argumentos ignoram o perfil procriador do sexo feminino, mutilando, assim, a sua integridade, já que faz parte do negócio incentivar a mulher a repudiar aquele ser que ela concebeu, na plenitude de si, espoliando por via indireta os direitos de um e de outro, que devem ser acolhidos e protegidos pela sociedade.

O problema da decisão no Supremo Tribunal Federal

O contexto processual que levou à liberação dos médicos abortistas – assim chamados porque de fato praticaram o aborto e não foi pela primeira vez –, além de “sugerir” a descriminalização do aborto até o terceiro mês de gestação, aconteceu nos autos de um habeas corpus em que se discutia a legalidade técnica da manutenção da prisão preventiva dos acusados, ou seja, o tipo penal ao qual respondiam os impetrantes não fazia parte do libelo.

É fato que a “sugestão”, embora não vincule em outras decisões, inclusive em instâncias inferiores, foi levada a termo e abriu, de forma intencional, um precedente argumentativo que fere o entendimento da norma positiva, promovendo uma prevaricação jurídica de grande monta, pois, claramente, carece de embasamento jurídico, processual, ético e científico, pondo em risco toda a sociedade.

Não abordamos aqui, especificamente, a questão da ausência de legitimidade dos julgadores quanto à questão da ilegalidade do ato de tomar para si a competência de legislar, em afronta ao princípio da independência dos poderes, posto que se trata de uma aberração à parte.

O fato é que o aborto é um crime contra a vida, conforme o normativo constitucional (art. 5º), o Pacto de São José, do qual o Brasil é signatário e que declara a inviolabilidade da vida desde a concepção, e os Códigos Penal (art. 128) e Civil (art.2), não sendo lícito ao judiciário mudar este quadro nem mesmo sob o argumento da livre interpretação da lei.

Caso a opinião pública não se insurja contra tamanha afronta jurídica e humana, estaremos diante do horror da prática da eugenia institucionalizada. Assim, não é exagero afirmar que, uma vez legalizada a eugenia no Brasil, estaremos a poucos passos da legalização também da eutanásia.

O que tudo isto significa na prática? O que podemos esperar da desvalorização e descarte da pessoa humana?

Estaremos todos, desde a concepção até a morte, a mercê de interesses que definitivamente não nos protegem.

A contraposição à fé e o seu escárnio são, sem dúvida, instrumentos utilizados para se alcançar a meta ideológica de tais grupos, que, cada vez mais, investem em desestabilizar e destruir a família, alicerce da sociedade civil. Para eles, porém, não se trata de combater a fé pela fé, e sim de combater os valores absolutos e, portanto, sacros que nela estão inseridos.

E como a Igreja defende a vida, a dignidade da pessoa humana e a família, tornou-se um obstáculo para os organismos pró-aborto e de ideologia de gênero, o que explica a razão dos discursos que defendem, por exemplo, a retirada dos símbolos da fé cristã, em especial, dos órgãos públicos, sob a frágil alegação de que o Estado é laico e de que mantê-los expostos é prova de proselitismo religioso. No mesmo sentido vão a oposição ao ensino religioso confessional nas escolas e as tentativas de tornar igualitária a união de pares e o casamento.

A ação de tais grupos gira em torno da imposição de uma ditadura sectarista, com o objetivo de acabar com tudo o que remete à cultura judaico-cristã. Para isso, alguns militantes já ameaçam, expressamente, pegar em armas para alcançar seus objetivos sindicais.

Tais grupos usurpam a liberdade democrática e se articulam para que toda a base educacional, cultural e jurídica da sociedade seja desconstruída e, sobre ela, se crie uma nova realidade, na qual a submissão ao sistema, amparada em políticas populistas, silencie a população.

Reafirma-se, diante disso, que o discurso não é religioso: o que temos diante de nós é uma articulação de domínio político, que busca a sua legitimidade de forma ardilosa, numa afronta ao Estado Democrático de Direito e contra os valores sociais concebidos através da dinâmica histórica e cultural que permeia a nação brasileira.

Michelle Figueiredo Neves
Ministra do Acolhimento
Arquidiocese do Rio de Janeiro

Tags:
AbortoBrasilCultura do descarteIdeologiaJustiçaVida
Apoiar a Aleteia

Se você está lendo este artigo, é exatamente graças a sua generosidade e a de muitas outras pessoas como você, que tornam possível o projeto de evangelização da Aleteia. Aqui estão alguns números:

  • 20 milhões de usuários no mundo leem a Aleteia.org todos os meses.
  • Aleteia é publicada diariamente em sete idiomas: inglês, francês,  italiano, espanhol, português, polonês e esloveno
  • Todo mês, nossos leitores acessam mais de 50 milhões de páginas na Aleteia.
  • 4 milhões de pessoas seguem a Aleteia nas redes sociais.
  • A cada mês, nós publicamos 2.450 artigos e cerca de 40 vídeos.
  • Todo esse trabalho é realizado por 60 pessoas que trabalham em tempo integral, além de aproximadamente 400 outros colaboradores (articulistas, jornalistas, tradutores, fotógrafos…).

Como você pode imaginar, por trás desses números há um grande esforço. Precisamos do seu apoio para que possamos continuar oferecendo este serviço de evangelização a todos, independentemente de onde eles moram ou do quanto possam pagar.

Apoie Aleteia a partir de apenas $ 1 - leva apenas um minuto. Obrigado!

PT300x250.gif
Oração do dia
Festividade do dia





Envie suas intenções de oração à nossa rede de mosteiros


Top 10
Ver mais
Boletim
Receba Aleteia todo dia