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Miriam Hatibi: “os muçulmanos condenam os ataques terroristas”

MÍRIAM HATIBI-Twitter @miriamhatibi

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Míriam Hatibi.

Miriam Diez Bosch - publicado em 22/06/17

Uma analista de Big Data responde às dúvidas sobre o Islã

Jovem, muçulmana, especialista em análise de dados. E disposta a explicar mais uma vez, que existe um Islã silencioso, solidário e que condena o terrorismo.

Miriam é catalã, estudou Economia Internacional de Negócios e participa de inúmeros encontros internacionais e interculturais.

Nesta entrevista ela fala um pouco mais sobre sua vivência no Islã:

Que valor tem o chamado de centenas de imãs e representantes muçulmanos contra o terrorismo depois dos atentados da London Bridge?

Depois dos atentados, os imãs e diferentes representantes subiram o tom e lançaram uma mensagem unânime entre os que praticam esta religião. É que nós condenamos este tipo de ato e eles não nos representam, nem a nós como comunidade nem à nossa religião como filosofia de vida.

É uma mensagem que repetimos em todos os atentados que se têm produzido nos últimos anos em todas as partes do mundo, tanto em países de maioria muçulmana quanto no ocidente.

O objetivo do terrorismo é semear medo e dividir a sociedade. Por isso a mensagem dos imãs é muito importante; eles transmitem a importância da união dos cidadãos diante da tirania de alguns.




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Os líderes muçulmanos são acusados de não serem explícitos quanto à condenação do terrorismo. O que você pensa sobre isso?

Os meios de comunicação não dão espaço suficiente às vozes de nossa religião e focam apenas nos extremismos e más notícias, sem dar visibilidade às ações positivas que os muçulmanos fazem.

Depois de cada atentado, os muçulmanos condenam os ataques, rezam pelas vítimas, arrecadam fundos para as famílias e, das mesquitas e outras associações, prestam todo o apoio necessário.

Muitos se perguntam sobre o Islã moderado, porque não sabemos o que fazer. O Islã é plural, mas esta pluralidade e modernidade, às vezes não chegam…

Há um Islã praticado por milhões de pessoas no mundo, mas que não se vê refletido em nenhum lugar, porque é silencioso. É o Islã que nos leva a ser mais solidários, que nos leva a ajudar nossos vizinhos e companheiros e sermos justos em nossas decisões, sejam elas profissionais, pessoais ou de qualquer outro tipo.

O muçulmano ou a muçulmana que reza, jejua no Ramadã e se preocupa todos os dias em ser um cidadão melhor no seu país não chega aos meios de comunicação e, por isso, pensamos que isso é minoria, mas não é.

Nos meios de comunicação, séries ou filmes, a figura do “muçulmano normal” é invisível. Continuo esperando o dia em que Ahmed vai aparecer em algum filme não como terrorista, mas como advogado, professor, médico ou simplesmente figurante número 2. Mas, claro, se as pessoas não veem este muçulmano moderado, elas perguntam onde ele está e, inclusive, se ele realmente existe.

Na Noruega, está sendo lançada a série SKAM, uma série para adolescentes que conta a vida de um grupo de jovens e seus problemas do dia a dia. Uma das protagonistas é uma menina muçulmana com hijab. Há também um menino muçulmano no grupo. A aparição deles na série não é marcada pelo fato de eles serem ou não radicais, mas pelos problemas que quaisquer outros jovens podem ter. Isso tem feito com que muitos jovens se identifiquem com o personagem e aprendam a ver além do estigma da religião (algo violento ou que limita).

Nestes dias de Ramadã, a lembrança da importância de Deus se intensifica na vida de vocês, assim como o jejum os leva a se solidarizar com quem tem fome. No entanto, o Ramadã não é explicado suficientemente e as pessoas focam no debate sobre as exigências que este período provoca nas escolas, lugares de trabalho… O que está faltando?

Falta respeito. À diversidade cultural, religiosa ou de qualquer tipo. Antes de tentar entender nosso companheiro de trabalho que é diferente, já estamos pensando em como sua diferença vai nos afetar negativamente.

Buscamos um culpado para tudo aquilo que possa dar errado e, por ignorância, tudo que não é como o que temos ou somos nos assusta.

Qual é seu desejo neste mundo inseguro que vivemos?

Que as pessoas escutem mais, que façam mais perguntas e menos acusações.

Você é catalã, especialista em Big Data. Mas sempre dá entrevistas sobre o Islã e não sobre sua profissão. Isso cansa?

Não me cansa o fato de me entrevistarem sobre o Islã, pois é algo que devo fazer. Sempre disse que gosto quando me fazem perguntas e quando eu posso respondê-las, porque, se as pessoas têm dúvidas e se eu posso contribuir com um grão de areia para que elas nos entendam melhor, farei isso com muito gosto.

Eu não gosto é de que me classifiquem como “mulher jovem muçulmana” e nada mais. Nem sequer como mulher jovem, porque nunca me perguntaram sobre nenhum dos obstáculos que encontramos como mulher ou como jovem.

Classificar os muçulmanos como muçulmanos e nada mais faz com que as pessoas se questionem: como eles estão contribuindo exatamente com o mundo? A resposta é “muito”. Mas como essa contribuição às vezes é invisível, as pessoas pensam que ela é inexistente.

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