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O bilhete da mãe que abandonou seu filho autista de 5 anos é para cada um de nós

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Polícia de Hangzhou / Reprodução

Reportagem local - publicado em 20/05/19

Os dramas que se escondem por trás de outros dramas - e o quanto as "políticas para a família" estão errando o foco em todos os recantos do planeta

Um menino autista de 5 anos de idade foi abandonado pela mãe em uma lanchonete da rede internacional KFC localizada em uma estação de trem de Hangzhou, na China. O caso ocorreu na semana passada e foi divulgado pela imprensa chinesa na última sexta, 17.

As fotos acima, da mãe e do menino, foram divulgadas pela polícia de Hangzhou.

Os funcionários da lanchonete estranharam o longo tempo que o menino passou sozinho em sua mesa e tentaram conversar com ele, mas não conseguiram. Acionada, a polícia foi até o local e encontrou no bolso do pequeno um bilhete doloroso.

Era uma breve e triste carta da mãe. Ela explicava, primeiro, que o filho é autista e não fala. Contava ainda que resolveu deixá-lo ali porque não tinha mais condições de pagar a terapia do menino, já que ela própria tinha sido abandonada pelo marido em 2016. O peso de arcar com todos os custos e responsabilidades a estava abalando emocional e fisicamente.

Graças às câmeras de segurança da lanchonete, a polícia conseguiu identificar a mulher e localizá-la na quarta-feira passada. Nas imagens, pode-se ver que ela entra com o filho, fica um pouco de tempo ao lado dele e, num momento em que o menino se afasta, aproveita para ir embora.

Em seu depoimento, a mãe contou o porquê da decisão drástica de abandonar o filho e acrescentou informações bastante relevantes, que, do ponto de vista ético, ajudam a contextualizar o caso e a promover uma reflexão necessária sobre os dramas que provocam outros dramas.

Ela recordou, por exemplo:

  • que os orfanatos chineses só acolhem crianças abandonadas, mas não as que os pais tentam lhes entregar diretamente;
  • que escolheu a lanchonete porque sabia que ali o menino estaria em maior segurança e seria rapidamente abordado pelos funcionários;
  • que o governo da China não cobre nenhuma terapia para crianças autistas, cabendo todos os custos aos próprios pais;
  • que tanto ela quanto o filho morreriam de fome se continuassem juntos, porque o salário dela não pode sustentar os dois;
  • que pensou em alternativas durante muito tempo, mas só viu esta opção como viável para que ambos sobrevivessem.

O menino foi levado para um orfanato e a mãe está respondendo pelo crime de abandono de incapaz.

Família: um desafio em todos os países

As investigações avaliarão a veracidade das alegações da mulher, mas, independentemente de serem verdadeiras ou falsas, o fato claro é o quanto a família, nos mais diversos contextos sociais, culturais, políticos, econômicos e religiosos, está suplicando por efetiva atenção em todos os recantos do nosso planeta.

A China é um caso emblemático: não falta dinheiro; não falta poder ao Estado; não falta propaganda de “saúde e renda universal”. Não faltaram sequer “políticas” para a família: a famigerada “lei do filho único”, recentemente suavizada, foi uma suposta tentativa de garantir melhores condições de vida para a população, mas, após décadas de aplicação repressiva e taxativa, não apenas não resolveu as dificuldades econômicas de milhões e milhões de chineses como ainda gerou uma catástrofe social com um desequilíbrio populacional inédito na história da humanidade entre homens e mulheres, decorrente do massivo aborto seletivo de meninas.

Se não faltaram “políticas” para a família, o que faltou foi família para as políticas. Família como valor universal, a ser declarado e honrado sem tergiversações; família como instituição básica da sociedade, a ser amparada e priorizada sem relativizações; família como realidade natural, a ser reconhecida e custodiada sem manipulações.

Boa parte das calamidades de uma nação, se não todas, se originam, direta ou indiretamente, do quanto essa nação despreza na prática o valor universal e o caráter institucional da família natural em suas políticas educacionais, econômicas, sanitárias, de segurança. O resto serão sempre tentativas de consertar o estrago, errando necessariamente o alvo em todas as vezes.

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