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Papa Francisco: “Aprendam a falar com Deus como um filho ao Pai”

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Ermolaev Alexander | Shutterstock

Reportagem local - publicado em 04/06/20

"Confiar numa promessa não é fácil, é preciso coragem. E Abraão confiou"

O tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral desta semana (quarta-feira, 3) foi “A Oração de Abraão“. O Papa começou a catequese afirmando:

“Há uma voz que ressoa de repente na vida de Abraão. Uma voz que o convida a empreender um caminho que parece absurdo: uma voz que o encoraja a sair de sua pátria, das raízes de sua família, para ir em direção a um futuro novo, um futuro diferente. Tudo isso baseado numa promessa, na qual apenas é preciso confiar. Confiar numa promessa não é fácil, é preciso coragem. E Abraão confiou”.

Francisco prossegue falando sobre a partida de Abraão:

“Abraão parte. Ele escuta a voz de Deus e confia na Sua palavra. Isso é importante: ele confia na palavra de Deus. Com essa partida nasce uma nova maneira de compreender a relação com Deus. É por esse motivo que o patriarca Abraão está presente nas grandes tradições espirituais judaica, cristã e islâmica como o homem perfeito de Deus, capaz de se submeter a Ele, mesmo quando a vontade d’Ele se revela árdua, se não até incompreensível. Abraão viveu a oração em contínua fidelidade a essa Palavra, que periodicamente aparecia ao longo de seu caminho”.

O Papa observou que, na vida de Abraão, a se transforma em história. Com sua vida e exemplo, ele nos ensina o caminho em que Deus não é mais visto só nos fenômenos cósmicos, como um Deus distante: Ele Se torna o “meu Deus”, o Deus da minha história pessoal, que guia os meus passos, que não me abandona, o Deus dos meus dias, o companheiro das minhas aventuras, o Deus Providência. Francisco então indagou:

“Nós temos essa experiência de Deus, do “meu Deus”, do Deus que me acompanha, do Deus da minha história pessoal, do Deus que guia os meus passos, que não me abandona, o Deus dos meus dias? Temos essa experiência? Pensemos um pouco…”

O Papa mencionou então o “Memorial“, de Blaise Pascal, importante texto de espiritualidade cristã que fala sobre “o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó”, que é também o “Deus de Jesus Cristo”:

“Esse memorial, escrito num pequeno pergaminho e encontrado depois de sua morte costurado dentro de um traje do filósofo, não expressa uma reflexão intelectual que um homem sábio como ele pode entender sobre Deus, mas o sentido vivido e experimentado de Sua presença. Pascal anota o momento preciso em que sentiu essa realidade, finalmente encontrada, na noite de 23 de novembro de 1654. Não é o Deus abstrato ou o Deus cósmico: não. Ele é o Deus de uma pessoa, de um chamado, o Deus de Abraão, de Isaac, de Jacó. O Deus que é certeza, que é sentimento, que é alegria”.

Francisco disse, evocando o Catecismo, que a oração de Abraão se expressa primeiramente com ações: ele é homem de silêncio e em cada etapa constrói um altar ao Senhor:

“Abraão não edifica um templo, mas espalha o caminho de pedras que recordam o trânsito de Deus, um Deus surpreendente, como quando o visita na figura de três hóspedes, que ele e Sara acolhem com zelo e que anunciam o nascimento de seu filho Isaac. Abraão tinha 100 anos e sua esposa 90, mais ou menos. E eles acreditaram. Confiaram em Deus, e Sara, sua esposa, concebeu. Com aquela idade! Este é o Deus de Abraão, o nosso Deus, que nos acompanha”.

Discutindo com Deus como filhos

O Papa acrescentou:

“Abraão se familiariza com Deus, discute com Ele, mas sempre fiel. Fala com Deus e discute. Até a provação final, quando Deus pede que ele sacrifique seu próprio filho Isaac, o filho da velhice, o único, o herdeiro. Abraão vive a fé como um drama, como um caminhar tateando à noite, sob um céu desta vez sem estrelas. Muitas vezes acontece conosco também, de caminhar no escuro, mas com fé. Deus detém a mão de Abraão pronta para golpear, pois viu a sua disponibilidade realmente total. Vamos aprender com Abraão a rezar com fé: ouvir o Senhor, caminhar, dialogar até discutir. Não tenhamos medo de discutir com Deus. Direi uma coisa que pode parecer uma heresia. Muitas vezes ouvi pessoas me dizerem: ‘Mas o senhor sabe, me aconteceu isso e eu fiquei bravo com Deus’. ‘E você teve a coragem de ficar bravo com Deus?’. ‘Sim, fiquei bravo!’. Esta é uma forma de oração, porque só um filho é capaz de ficar zangado com seu pai e depois reencontrá-lo. Aprendamos com Abraão a rezar com fé, a dialogar, a discutir, mas sempre dispostos a acolher a palavra de Deus e colocá-la em prática. Com Deus, aprendemos a falar como um filho a seu pai. Ouvi-lo, responder e discutir, mas transparente, como um filho com o pai. Assim Abraão nos ensina a rezar”.



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