A Lenda da Tropicália Caetano Veloso não aderiu à moda das Lives de imediato, embora desde o início da pandemia foi muito solicitado que o fizesse. Mas como elegância sempre foi uma constância na trajetória do cantor e compositor baiano, ele deixou para acatar o pedido na noite do seu aniversário.
A apresentação ao vivo – para telas de celulares, computadores e tablets – acontece nesta sexta-feira (7), a partir das 21h30, na plataforma GloboPlay. Para assistir à apresentação gratuita, que recebeu a hashtag #LiveALenda, não é necessário ser assinante, basta baixar o aplicativo ou se cadastrar no site (https://globoplay.globo.com/).
Aqui, o próprio Caetano Veloso ensina como fazer:
Como faz pra ver a #LiveALenda?
— Caetano Veloso (@caetanoveloso) August 4, 2020
Instala o aplicativo @globoplay ou faz o cadastro no site, NÃO precisa ser assinante. Vamos nos preparar? #Caetano78#Caetanoveloso dia 7/08 às 21h30 ❤️👈🏻 pic.twitter.com/nZzIKk4RH5
Em quarentena no seu apartamento no Rio de Janeiro, o aniversariante vai ser apresentar acompanhado pelos filhos, Moreno, Zeca e Tom Veloso, que também são músicos. Quanto ao repertório, Caetano faz mistério e, por enquanto, só adiantou duas canções: a belíssima Tigresa, do seu nono álbum de estúdio, chamado Bicho, de 1977; e Talvez, single inédito do novo disco de Tom, do qual o paizão participa.
No fim de semana do Dia dos Pais, ele dá um presente ao filho. E em seu aniversário, dá um presente aos fãs. Em post recentemente publicado em sua conta oficial no Instagram, o músico abriu uma enquete para descobrir o setlist perfeito para os seus seguidores. De modo que não devem faltar sucessos como Odara, Terra, Você É Linda, Deusa do Amor, Sampa e quem sabe até Alegria, Alegria. Apresentada no terceiro festival de MPB da Record, em 1967, a canção, considerada o marco inicial do movimento tropicalista – formado ainda por Gal Costa, Gilberto Gil e sua irmã Maria Bethânia, entre outros –, causou espanto nos puristas da música popular brasileira pela presença de guitarras elétricas. Caetano optou pelo formato de marcha inspirado por A Banda, que havia consagrado Chico Buarque na edição anterior do festival.
E Caetano também saiu consagrado perante o público do festival. Autodeclarada como antropofágica, a Tropicália incorporava elementos de outras culturas, como o rock’n’roll, popular à época, junto com suas referências de bossa nova e música de raiz brasileira. Alegria, Alegria entrou no álbum de estreia do músico, lançado no mesmo ano, e foi gravada com a banda de rock argentina Beat Boys. Alçou Caetano ao estrelato e tornou-se ainda um hino da resistência e da geração de contracultura brasileira – tal qual, nunca mais houve igual.
Tanto que hoje brinca-se que o Caetano Veloso da geração atual é Caetano Veloso (e o mesmo vale para seus contemporâneos), pois nunca mais houve um movimento de tamanha relevância para o zeitgeist nacional, tampouco artistas mais jovens se posicionaram em prol da democracia e da cultura como Caetano, Gil, Gal, Bethânia e Chico ainda se posicionam, com enorme contundência e lucidez.
Caetano não só conquistou o título de clássico, uma vez que sua obra resiste ao teste do tempo, como se manteve sempre a frente do seu tempo, sempre “canibalizando” as mais recentes evoluções musicais e tendências culturais. Um ótimo exemplo disso é o disco Cê, de 2006, que, aos 64 anos, Caetano gravou com alguns dos músicos mais proeminentes do Rio na década passada, soando como uma vigorosa banda de indie rock.
Até mesmo na era virtual e das redes sociais o quase octogenário está se sobressaindo. Os vídeos dos seus momentos de reclusão registrados por sua esposa, Paula Lavigne, e publicados em suas redes, são sucesso na internet.
Por essas e outras, vida longa a Caetano Veloso e parabéns pelos seus 78 anos. Além de muito obrigado pelos 53 anos de serviços prestados à música, à cultura e à democracia brasileiras.