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Covid na Índia matou 4 padres por dia só no último mês

Cristãos na Índia

Shutterstock | Zvonimir Atletic

Francisco Vêneto - publicado em 17/05/21

Mais de 120 padres católicos morreram de covid-19 na devastadora segunda onda que tem atingido o país

A covid na Índia matou 4 padres por dia só no período de 10 de abril a 14 de maio de 2021: mais de 120 sacerdotes católicos foram vitimados pela doença durante a segunda onda de contágios que tem varrido o país desde o mês passado.

Uma lista com 117 nomes, dioceses e congregações religiosas de sacerdotes falecidos nesse período foi publicada pelo frei Suresh Mathew, que é frade capuchinho e editor da revista Indian Currents. Ele próprio deixou claro, porém, que essa lista é incompleta e que o número é “obviamente” maior, pois ainda não obteve os dados de todas as 174 dioceses da Índia.

Mesmo assim, os números provisórios já são “muito alarmantes”, observa ele:

“Se quatro padres morrem a cada dia, esta é uma questão de grande preocupação para todos nós”.

Nessa lista prévia de 117 padres falecidos há sacerdotes diocesanos e pelo menos 48 pertencentes a ordens ou congregações religiosas. A congregação com mais vítimas é a dos jesuítas, que perdeu 19 padres na Índia só neste espaço de tempo. Há vítimas em todas as tradições católicas presentes no país: a latina, a siro-malabar e a siro-malankara.

Dom Gerald Almeida, bispo da diocese de Jabalpur, no estado de Madhya Pradesh, relata que muitos padres morreram por falta de atendimento médico, assim como milhares de cidadãos do país.

Covid na Índia matou 4 padres por dia só no último mês

O número de vítimas no clero é sintomático das dimensões da tragédia na Índia, já que o catolicismo em si mesmo já é uma minoria no país e, dentro desse grupo minoritário, as vocações religiosas são mais minoritárias ainda. Se a proporção de mortes dentro de um grupo reduzido já é grande, pode-se supor o tamanho a que chega o total de óbitos no conjunto de uma população superior a 1 bilhão e 300 milhões de pessoas, que, em sua esmagadora maioria, são bastante pobres.

A Índia já superou diversas vezes o alarmante número de 4.000 óbitos diários, assim como também ultrapassou mais de uma vez a dramática barreira de 400.000 novos contágios em apenas 24 horas. Mesmo essas cifras, no entanto, são quase unanimemente consideradas como subestimadas. Agências de informação ressaltam que, devido a uma taxa descomunal de subnotificação, o número real de óbitos já pode estar próximo de 1 milhão. Esta é também a estimativa levantada por um estudo da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos.

A respeito da subnotificação, Ramanan Laxminarayan, diretor do Centro de Dinâmica, Economia e Política de Doenças na capital indiana, Nova Déli, declarou conforme reportado pela rede CNN:

“É amplamente conhecido que tanto os números de casos quanto os números de mortes são contados a menos. Sempre foram. No ano passado, estimamos que apenas 1 em cerca de 30 infecções foi detectada por meio de testes. Os casos relatados são uma subnotificação séria do número verdadeiro de infecções. Desta vez, os números de mortes são provavelmente subnotificações graves, e o que estamos vendo é muito mais mortes do que o que foi oficialmente relatado”.

As ajudas da Igreja

Em meio ao drama que assola o país e ao colapso do sistema de saúde, a Igreja Católica vem agindo para suavizar o sofrimento dos indianos com todas as suas possibilidades. As próprias instalações de saúde católicas não têm mais capacidade para receber novos pacientes de covid e, por isso, as dioceses e outras organizações da Igreja estão buscando soluções alternativas. Segundo o Vatican News, o arcebispo de Bangalore, dom Peter Machado, vem capitaneando a adaptação de escolas e outras estruturas católicas para acolher doentes que não precisem de UTI por já terem passado da fase crítica da covid-19:

“Desta forma, podemos poupar leitos nos hospitais, deixando-os livres para os doentes mais graves que precisam de cuidados médicos imediatos e de apoios vitais. Os que superaram a fase crítica podem continuar recebendo os cuidados nesses centros temporários”.

Sobre as vítimas dentro da própria Igreja, o bispo dom Gerald Almeida comenta:

“O receio de morrer é muito alto entre nossos padres e freiras. Eu quero dizer que eles não estão sozinhos e que nós estamos com eles. Todos nós precisamos garantir que a sua saúde mental fique protegida e mantida positivamente para superar esta calamidade”.

A diocese de dom Almeida disponibilizou um centro de quarentena especial para padres e freiras visando melhorar as suas condições de tratamento, com quatro enfermeiras de plantão e um médico que faz uma visita diária. Ao menos 26 freiras e 14 padres estão em tratamento no local. Os demais religiosos da diocese receberam instruções para relatar imediatamente qualquer problema de saúde, mesmo que pareça pouco importante. Os que testam positivo para covid-19 são levados ao centro de quarentena. Somente pacientes críticos são levados a hospitais especializados.

Em declarações à UCA News, um sacerdote que não quis se identificar em público testemunhou que os padres em isolamento sofrem muito por não poderem manter contato com as pessoas:

“Apesar dos anos de preparação para o trabalho pastoral, eles são orientados a não ter contato com ninguém. Isso é chocante para muitos padres, porque muitos deles arriscaram a vida visitando famílias e prestando serviços pastorais na última Semana Santa, quando as restrições do governo tinham sido amenizadas, mas a pandemia continuava se expandindo”.

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