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Iraque: é preciso impedir que as sementes da perseguição cresçam, diz bispo

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© I.MEDIA/Hugues Lefèvre

Reportagem local - publicado em 01/08/21

O que se passou no Iraque em Agosto de 2014 não terminou com a derrota mais tarde dos jihadistas

“É muito difícil recuperar a dignidade dos que foram humilhados como seres humanos”, disse, num discurso curto mas emotivo, D. Bashar Warda durante a Cimeira Internacional sobre a Liberdade Religiosa que decorreu em Washington entre os dias 13 e 15 de Julho e contou com mais de 700 representantes de instituições e organizações, nomeadamente da Fundação AIS.

O Arcebispo de Erbil centrou a tónica da sua intervenção na necessidade de a comunidade internacional não só impedir o crescimento, de novo, da ameaça jihadista, representada no Iraque pelo Daesh, o grupo Estado Islâmico, mas também na importância da criação de condições para que os cristãos possam regressar e viver nas suas terras de origem em segurança e com estabilidade.

A memória do que aconteceu em Agosto de 2014, há precisamente sete anos, quando as terras bíblicas da Planície de Nínive foram atacadas e ocupadas pelos militantes terroristas, continua presente como uma ferida que está ainda em aberto. 

Para D. Bashar Warda, a segurança da Planície de Nínive é um tema crucial, pois continuam a registar-se incidentes, assim como a criação de empregos e o relançamento económico da região. Falando sobre o impacto social da perseguição que afectou toda a comunidade cristã, D. Warda lembrou que, “embora os edifícios possam ser reconstruídos rapidamente, a restauração da dignidade dos que foram brutalmente marginalizados e humilhados como seres humanos é uma tarefa muito mais difícil…”

Convocar o mundo para a urgência desta tarefa e para a importância da defesa dos cristãos como uma comunidade minoritária mas essencial no Iraque, tem sido uma das missões que o prelado tem assumido com mais energia. A presença nesta enorme Cimeira nos Estados Unidos revelou-se uma oportunidade ímpar para denunciar uma vez mais a situação crítica que se vive no seu país. 

“Os custos ocultos” da dignidade das pessoas afectadas pelos ataques, pela perseguição, “são muito maiores do que qualquer reconstrução física”, alertou, lembrando que “a restauração da dignidade exige dos parceiros de ajuda internacionais algo mais do que a simples métrica de dólares gastos e de projectos concluídos”. Para que essa ajuda seja completa, é preciso “o respeito de todas estas pessoas como seres humanos…”

Na intervenção, o Arcebispo de Erbil recordou o impacto brutal da invasão e ocupação da Planície de Nínive pelos jihadistas, que classificou como “genocídio contra os cristãos” e lembrou que “milhares de famílias ficaram desabrigadas”, com os pais “impotentes para cuidar” dos filhos, pessoas que se viram “transformadas, da noite para o dia, em mendigos”.

O que se passou no Iraque em Agosto de 2014 não terminou com a derrota mais tarde dos jihadistas. Há uma sombra negra que permanece e que continua a ser ameaçadora para a tranquilidade e presença cristã neste país. 

Se não se restabelecerem a confiança, a segurança e as condições económicas para o dia-a-dia destas comunidades, alerta o Bispo, isso conduzirá “à inquietação, ao colapso da família, ao desespero da dependência e, finalmente, ao êxodo. E tudo começa quando permitimos que as sementes da perseguição cresçam, quando começamos a roubar a dignidade uns dos outros….”

Outro país em grande destaque na Cimeira foi a Nigéria, com testemunhos do padre Joseph Fidelis, um colaborador dos projectos da Fundação AIS na Diocese de Maiduguri, assim como, entre outros, do Bispo D. Matthew Kukah, de Sokoto, e de Joy Bishara, uma jovem que contou como foi a experiência em cativeiro após ter sido raptada em 2014 juntamente com mais 275 raparigas de uma escola de Chibok. 

Bishara conseguiu escapar dos jihadistas do Boko Haram mas 111 colegas continuam prisioneiras, como é o caso também de Leah Sharibu, uma jovem cristã que ficou em cativeiro há quatro anos para não ter de renunciar à sua fé e cuja história a Fundação AIS tem denunciado a nível internacional. 

Momento forte foi também os testemunhos de Mariam Ibrahim, uma cristã condenada à morte no Sudão por apostasia do Islão, assim como o de Irene Weiss, uma sobrevivente do campo de extermínio de Auschwitz.

(AIS)

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