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Documentário traça retrato profundo e sensível do astro Val Kilmer

VAL KILMER; CINEMA

lev radin / Shutterstock.com

Octavio Messias - publicado em 10/08/21

Disponível no Amazon Prime, Val aborda da infância do autor às complicações do câncer

Estreou no último fim de semana simultaneamente no site de streaming Amazon Prime e no festival de Cannes o documentário Val, que narra de maneira delicada e verdadeira a trajetória do astro de Hollywood Val Kilmer, conhecido por suas atuações em filmes como Top Gun – Ases Indomáveis (1986), The Doors – O Filme (1991) e Batman Eternamente – (1995). 

Depois de um período de decadência cinematográfica a partir de 2005, o ator foi diagnosticado em 2005 com câncer na garganta e perdeu a voz devido à radiação dos tratamentos invasivos. Ele hoje fala, em uma sonoridade difícil de escutar, com o auxílio de um aparelho instalado em seu esôfago e acionado por um botão acoplado a um buraco em sua garganta. De modo que a narração do filme ficou por conta de seu filho, Jack Kilmer, e as imagens de cobertura consistem em mais de 40 anos de vídeos amadores que o ator tem o hábito de filmar desde a infância.  

Estrela em ascenção 

O filme começa abordando a infância do astro em Los Angeles, quando seus pais se separaram e um de seus dois irmãos morreu afogado em uma banheira. Em 1981, tornou-se o mais jovem aluno a ingressar na prestigiada escola de interpretação Juilliard, em Nova York, onde foi colega de turma de Sean Penn e Kevin Bacon, com os quais encenou uma peça na Broadway.

Depois de alguns papéis menos relevantes, o ator finalmente teve sua grande oportunidade em Hollywood ao interpretar o piloto Iceman, ao lado de Tom Cruise, no sucesso de bilheteria Top Gun – Kilmer fez uma participação na continuação do longa, Top Gun: Maverick, já finalizado, à espera de lançamento. No documentário, Kilmer revela que não queria fazer o filme de 1986, pois achava o roteiro fraco e o personagem desinteressante, mas fora obrigado pelo contrato com o estúdio. 

Conhecido mundialmente, o ator começou a gravar testes por conta própria na espectativa de trabalhar em filmes que se tornariam clássicos de grandes diretores, como Nascido para Matar (1987), de Stanley Kubrick, e Os Bons Companheiros (1990), de Martin Scorcese. A tática deu certo quando descobriu que Oliver Stone dirigiria uma cinebiografia de líder do The Doors, Jim Morrison. Kilmer conta que passou um ano na pele do personagem, falando, se comportando e se vestindo como o rockeiro, e escutando incessantemente às músicas da banda, para desespero de sua esposa, a atriz Joan Whalley. O esforço foi recompensado e a semelhança entre o ator e Van Morrison é impressionante, inclusive em sua voz ao cantar as músicas, o que foi reconhecido pelos demais integrantes dos Doors.   

Frustrações

O documentário também resgata a época em que Kilmer foi convidado para protagonizar Batman Eternamente, de Joel Schumacher, papel que aceitou mesmo sem ler o roteiro, pois ser o Homem-Morcego era um sonho que cultivava desde que seu pai o levou ao set de produção do programa de TV nos anos 60. Na pele do personagem, no entanto, a história foi outra. Kilmer diz que por conta do traje não conseguia escutar nem se movimentar direito, e ficou frustrado ao perceber que as boas interpretações couberam aos coadjuvantes encenados por Tommy Lee Jones, Jim Carrey e Nicole Kidman. Tanto que recusou atuar no filme seguinte da franquia, papel que sobrou para George Clooney. Outro sonho que não deu tão certo na prática foi contracenar com Marlon Brando em A Ilha do Dr. Moreau (1996), filme que teve uma troca de diretores e vários problemas de produção que prejudicaram as performances dos astros.

Honestidade

Kilmer diz que suas pretensões artísticas foram finalmente realizadas quando encenou, por conta própria, um monólogo interpretando o escritor Mark Twain. Enquanto estava em turnê com o espetáculo, foi diagnosticado com câncer e precisou interromper um filme que estava dirigindo sobre o projeto. No documentário, o autor não tem medo de expor a dor e o sofrimento que o acompanham nos últimos anos.

Relegado a um estilo de vida mais modesto, o ator passou a viver de eventos em que, como ele mesmo diz, rememoram seu antigo eu, tal qual uma exibição especial do faroeste Tombstone (1993), que estrelou com Kevin Costner. Ele diz não ter vergonha desses momentos, que são uma oportunidade de conhecer seus fãs. Em uma passagem angustiante de Val em que ele está assinando pôsteres de Batman na feira nerd Comic Con, Kilmer passa mal devido a quimio, vomita em um cesto de lixo, e é tirado em uma cadeira de rodas, coberto por uma manta para não ser registrado pelos paparazzi.

Kilmer expõe sua intimidade, fala abertamente sobre como encara o possível fim de sua carreira e até a morte, que diz não temer. Cristão fervoroso, ele passou a se dedicar à pintura, tendo Deus como uma temática frequente, e abriu um estúdio, aberto a outros artistas, chamado Helmel. “Aqui na Terra, a distância entre o céu e o inferno é a diferença entre a fé e a dúvida”, diz ele. “A cura não vem da vaidade, ela vem da honestidade. Honestidade vem do amor puro e amor é a cura mais divina, a mais doce, a mais sagrada e a mais eficaz.”

Ao assistir Val, é difícil não se emocionar ao perceber como tudo é passageiro, como de uma hora para a outra pode se perder aquilo que mais valorizamos, e como a vida passa rápido. Terminada sua bem-sucedida carreira em Hollywood, Kilmer talvez tenha realizado o filme que será seu maior legado. Um documentário sobre a vida, sobre o amor, sobre honestidade Um artefato que traduz muito mais coragem do que o super-herói, o rockstar, o piloto de caça ou o caubói que interpretou em seus tempos de glória.  

Tags:
ArteCinema
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