Aleteia logoAleteia logoAleteia
Terça-feira 30 Maio |
Bem-aventurado Otão Neururer
Aleteia logo
Religião
separateurCreated with Sketch.

Papa: abandonemos a preocupação excessiva conosco mesmos

000_9MR4TX.jpg

Photo by Tiziana FABI / AFP

Reportagem local - publicado em 13/09/21

"Uma grande tentação: considerar melhor um pouco de cebolas do que o cansaço e o risco da liberdade"

O Papa Francisco afirmou hoje que as pessoas devem abandonar a preocupação excessiva consigo mesmas para assim conseguirem mergulhar na vida real.

Em seu encontro com o clero da Eslováquia, na Catedral de São Martinho, em Bratislava, o Papa deu orientações para que os católicos consigam responder à pergunta: o que se espera da Igreja atualmente?

O Papa dividiu sua resposta em três tópicos, ou melhor, em “três palavras” que lhe “vieram à mente”: liberdade, criatividade e diálogo.

1. Liberdade

Primeiramente, o Papa explicou que sem liberdade não há verdadeira humanidade, porque o ser humano foi criado livre e para permanecer livre.

No entanto, de acordo com o Santo Padre, a liberdade não é uma conquista automática, que permanece igual duma vez por todas.

Não o é! A liberdade é sempre um caminho, por vezes cansativo, que se deve retomar continuamente, lutar diariamente por ela. Para ser verdadeiramente livre, não basta sê-lo exteriormente ou nas estruturas da sociedade. A liberdade chama cada um a ser responsável pelas próprias opções, a discernir, a levar por diante os processos da vida. Isto é cansativo, isto assusta-nos. Às vezes, é mais cómodo não se deixar envolver pelas situações concretas e continuar a repetir o passado, sem se empenhar de coração, sem correr o risco da decisão: é melhor arrastar a vida fazendo aquilo que outros – talvez a maioria ou a opinião pública, as coisas que nos impingem os mass-media – decidam por nós.

Mas isso “é errado”, prosseguiu o Papa.

Hoje tantas vezes fazemos as coisas que os mass-media decidem por nós. E perde-se a liberdade. Recordemos a história do povo de Israel: sofria sob a tirania do Faraó, era escravo; depois é libertado pelo Senhor, mas para se tornar verdadeiramente livre, e não apenas liberto dos inimigos, tem de atravessar o deserto, um caminho cansativo. E vinha-lhe ao pensamento: «Quase era melhor antes; pelo menos tínhamos um pouco de cebolas para comer…». Uma grande tentação: considerar melhor um pouco de cebolas que a fadiga e o risco da liberdade. Esta é uma das tentações. Ontem, ao dirigir-me ao grupo ecuménico, lembrava «O grande inquisidor» de Dostoievski. Cristo volta secretamente à terra e o inquisidor repreende-O por ter dado a liberdade aos homens. Um pouco de pão e qualquer outra coisinha bastam; um pouco de pão e algo mais é o suficiente. Sempre a mesma tentação: a tentação das cebolas. Melhor um pouco de cebolas e pão do que a fadiga e o risco da liberdade. Deixo isto à vossa reflexão.

Igreja

Nesse sentido, o Papa disse que também na Igreja pode surgir esta ideia: “ter todas as coisas predefinidas, as leis a observar, a segurança e a uniformidade, é melhor do que ser cristão responsável e adulto, que pensa, interpela a própria consciência e se deixa questionar. É o princípio da casuística: tudo regulado”.

Na vida espiritual e eclesial, há a tentação de procurar uma falsa paz que nos deixa tranquilos, em vez do fogo do Evangelho que nos desinquieta, que nos transforma. A segurança das cebolas do Egito é mais confortável que as incógnitas do deserto. Mas uma Igreja que não deixa espaço para a aventura da liberdade, mesmo na vida espiritual, corre o risco de se tornar um lugar rígido e fechado. Talvez alguns se habituaram a isto; mas muitos outros, sobretudo nas novas gerações, não são atraídos por uma proposta de fé que não lhes deixa liberdade interior, não são atraídos por uma Igreja onde é preciso pensarem todos da mesma maneira e obedecerem cegamente.

Igreja, fonte de esperança

O Papa pediu que o clero não tenha medo de “formar as pessoas para uma relação madura e livre com Deus”.

É importante esta relação. Talvez isto nos dê a impressão de não poder controlar tudo, de perder força e autoridade; mas a Igreja de Cristo não quer dominar as consciências e ocupar os espaços, quer ser uma «fonte» de esperança na vida das pessoas. É um risco, é um desafio. Digo-o sobretudo aos Pastores: vós exerceis o ministério num país onde muitas coisas mudaram rapidamente e tiveram início muitos processos democráticos, mas a liberdade ainda é frágil. É-o sobretudo no coração e na mente das pessoas. Por isso encorajo-vos a fazê-las crescer livres duma religiosidade rígida. Que saiam disto e cresçam livres! Que ninguém se sinta oprimido. Possa cada um descobrir a liberdade do Evangelho, entrando gradualmente na relação com Deus, com a confiança de quem sabe que Lhe pode apresentar a sua própria história e as suas feridas sem medo nem fingimento, sem se preocupar em defender a própria imagem. Poder dizer: «sou pecador», mas dizê-lo com sinceridade. Não bater no peito e, depois, continuar a crer-se justo. A liberdade. Que o anúncio do Evangelho seja libertador, nunca opressivo; e a Igreja, sinal de liberdade e acolhimento.

2. Criatividade

O Papa afirmou então a evangelização não é jamais uma simples repetição do passado.

Como pano de fundo temos uma rica tradição cristã, mas hoje, na vida de muitas pessoas, permanece a lembrança dum passado que já não lhes fala deixando de orientar as opções da sua existência. À vista da perda do sentido de Deus e da alegria da fé, não adianta lamentar-se, entrincheirar-se num catolicismo defensivo, julgar e acusar o mundo de ser mau. Não ajuda! O que ajuda é a criatividade do Evangelho. Atenção! O Evangelho não foi encerrado ainda; permanece aberto! É vigoroso, está cheio de vigor, continua.

O Papa citou então o tema das homilias.

E aqui abro um parêntese. A pregação. Alguém me disse que, na Evangelii gaudium, me detive demasiado na homilia. Fi-lo, porque é um dos problemas deste tempo. É verdade que a homilia não é um sacramento, como pretendiam alguns protestantes, mas é um sacramental! Não é um sermão de Quaresma; é uma coisa diferente. Está no coração da Eucaristia. E pensemos nos fiéis, que têm de ouvir homilias de 40 minutos, 50 minutos, sobre temas que não compreendem, que não os tocam… Por favor, padres e bispos, pensai bem como preparar a homilia, como fazê-la, para que haja um contacto com as pessoas e sejam inspiradas pelo texto bíblico. Uma homilia, habitualmente, não deve ultrapassar os dez minutos, porque as pessoas, depois de oito minutos, perdem a atenção, a não ser que seja muito interessante. Mas o tempo deveria ser de 10 a 15 minutos; não mais. Tive um professor de homilética que dizia que uma homilia deve possuir coerência interna: uma ideia, uma imagem e um afeto; que as pessoas saiam com uma ideia, uma imagem e algo que tocou no seu coração. Assim, simples, é o anúncio do Evangelho! Assim pregava Jesus, que tomava como exemplo os pássaros, os campos… coisas concretas, mas que as pessoas entendiam. Desculpai por ter voltado a este tema, mas preocupa-me… [aplausos] Permiti-me uma observação maliciosa: os aplausos começaram pelas irmãs, que são vítimas das nossas homilias!

3. Diálogo

Segundo o Papa, uma Igreja “que forma para a liberdade interior e responsável, que sabe ser criativa mergulhando na história e na cultura, é também uma Igreja que sabe dialogar com o mundo”.

A unidade, a comunhão e o diálogo são sempre frágeis, especialmente quando à retaguarda existe uma história de sofrimento, que deixou cicatrizes. A recordação das feridas pode fazer-nos cair no ressentimento, na desconfiança e até no desprezo, levando-nos a erguer barreiras contra quem é diferente de nós. Mas as feridas podem também ser passagem, abertura que, imitando as chagas do Senhor, fazem passar a misericórdia de Deus, a sua graça que muda a vida e nos transforma em obreiros de paz e reconciliação. Sei que tendes este provérbio: «A quem te atira uma pedra, tu dá-lhe um pão». Isto serve-nos de inspiração. É muito evangélico! É o convite de Jesus a romper o círculo vicioso e destruidor da violência, apresentando a outra face a quem nos bate, para vencer o mal com o bem (cf. Rm 12, 21). Impressiona-me um detalhe da história do Cardeal Korec. Era um cardeal jesuíta, perseguido pelo regime, encarcerado, forçado a trabalhar duramente até que adoeceu. Quando foi a Roma no Jubileu do ano 2000, deslocou-se às catacumbas e acendeu uma vela pelos seus perseguidores, implorando para eles misericórdia. Isto é Evangelho! Isto é Evangelho! Cresce na vida e na história através do amor humilde, através do amor paciente.

Tags:
IgrejaPapa Francisco
Apoiar a Aleteia

Se você está lendo este artigo, é exatamente graças a sua generosidade e a de muitas outras pessoas como você, que tornam possível o projeto de evangelização da Aleteia. Aqui estão alguns números:

  • 20 milhões de usuários no mundo leem a Aleteia.org todos os meses.
  • Aleteia é publicada diariamente em sete idiomas: inglês, francês,  italiano, espanhol, português, polonês e esloveno
  • Todo mês, nossos leitores acessam mais de 50 milhões de páginas na Aleteia.
  • 4 milhões de pessoas seguem a Aleteia nas redes sociais.
  • A cada mês, nós publicamos 2.450 artigos e cerca de 40 vídeos.
  • Todo esse trabalho é realizado por 60 pessoas que trabalham em tempo integral, além de aproximadamente 400 outros colaboradores (articulistas, jornalistas, tradutores, fotógrafos…).

Como você pode imaginar, por trás desses números há um grande esforço. Precisamos do seu apoio para que possamos continuar oferecendo este serviço de evangelização a todos, independentemente de onde eles moram ou do quanto possam pagar.

Apoie Aleteia a partir de apenas $ 1 - leva apenas um minuto. Obrigado!

PT300x250.gif
Oração do dia
Festividade do dia





Envie suas intenções de oração à nossa rede de mosteiros


Top 10
Ver mais
Boletim
Receba Aleteia todo dia