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Morre o irmão Jean-Pierre, o último sobrevivente de Tibhirine

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FADEL SENNA / AFP

Frère Jean-Pierre Schumacher.

Francisco Vêneto - publicado em 22/11/21

Aos 97 anos, ele era o último companheiro vivo dos sete mártires do mosteiro trapista da Argélia

Partiu para a eternidade na manhã deste domingo, 21, em plena festa de Cristo Rei do Universo, o irmão Jean-Pierre Schumacher, de 97 anos. Último sobrevivente de Tibhirine, ele era companheiro dos mártires do mosteiro trapista da Argélia que foram covardemente sequestrados e executados por terroristas islâmicos em março de 1996.

O irmão Jean-Pierre completaria 98 anos em fevereiro próximo. Francês nascido em 1924, ele tinha se mudado para a Argélia em 1967, já como monge. Ele faleceu no mosteiro de Notre-Dame de l’Atlas, em Midelt, nas encostas do Atlas marroquino, último reduto trapista do norte da África.

“Foi tão lindo”, dizia ele emocionado ao relembrar os anos de vida compartilhados com os confrades do mosteiro de Thibirine. Na noite de 26 para 27 de março de 1996, o superior Christian de Chergé e outros seis confrades do irmão Jean-Pierre foram sequestrados. O irmão Jean-Pierre, assim como o irmão Amèdèe, falecido em 2008, não foi raptado porque naquela noite lhe cabia o plantão na portaria, situada numa construção adjacente ao mosteiro. Passados dois longos e dolorosos meses desde a noite do sequestro, as cabeças decepadas dos 7 monges sequestrados foram achadas à beira de uma estrada.

Os autores da brutal chacina jamais foram identificados com plena certeza. Segundo a tese oficial, a responsabilidade seria de facções ligadas ao Grupo Islâmico Armado, uma organização terrorista criada em 1991 após a recusa do governo argelino a reconhecer eleições que haviam sido favoráveis ​​às forças islâmicas. No entanto, investigações independentes apontavam possível envolvimento dos serviços secretos militares argelinos no rapto e no martírio dos sete monges.

Juntamente com outros 12 mártires da Argélia, os trapistas executados em 1996 foram beatificado em 8 de dezembro de 2018.

O último sobrevivente de Tibhirine

Quatro anos após o martírio dos confrades, o irmão Jean-Pierre se transferiu para o vizinho Marrocos, onde passou a ser o prior da comunidade de Notre-Dame de l’Atlas. Ele relatou em diversas ocasiões o peso de uma pergunta excruciante: “Por que o Senhor me permitiu sobreviver?”. Com o tempo, entendeu que a sua missão de “sobrevivente” coincidia com a de “testemunha” do que tinha ocorrido em Tibhirine e de como era a experiência de comunhão entre os monges e os irmãos muçulmanos, uma experiência que ele continuou levando em frente no mosteiro marroquino.

Jean-Pierre e Amédée se definiam como o “pequeno remanescente” de Tibhirine. Eles testemunharam que seus confrades não alimentavam a expectativa de tornar-se mártires, mas, fiéis à vocação monástica, queriam sofrer junto com o povo argelino o risco da violência cega que ensanguentava o país durante aqueles anos de guerra civil. Os massacres de inocentes, aliás, não eram incomuns. Eles, como franceses, tinham o direito de deixar o país, mas optaram por ficar.

“Os sinos do mosteiro tocavam e os muçulmanos nunca nos pediram para silenciá-los. Nós respeitamos o próprio coração da nossa vocação comum: adorar a Deus”.

O irmão Jean-Pierre continuou testemunhando até a morte a experiência monástica de professar corajosamente o nome de Cristo entre os filhos de Maomé:

“No Marrocos, vivemos esta comunhão na oração quando nos levantamos à noite para rezar na mesma hora em que os nossos vizinhos muçulmanos são acordados pelo muezim. A fidelidade ao compromisso de oração é o segredo da nossa amizade com os muçulmanos”.

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