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Papa Francisco concede entrevista ao vivo na TV

POPE FRANCIS CHE TEMPO CHE FA

Antoine Mekary | ALETEIA

Vatican News - publicado em 07/02/22

O Papa falou ao programa de televisão "Che tempo che fa", da RAI 3

O Papa Francisco conectou-se da Casa Santa Marta, no Vaticano, com o programa televisivo “Che tempo che fa”, conduzido por Fabio Fazio no canal RAI 3. O apresentador o interrogou sobre muitas questões: guerras, migrantes, a proteção da criação, a relação entre pais e filhos, o mal e o sofrimento, a oração, o futuro da Igreja, a necessidade de amigos.

Falando sobre as guerras, o Papa – perguntado sobre as tensões entre a Ucrânia e a Rússia – recorda as raízes desta horrível realidade que é “um contrassenso da criação” que remonta ao Gênesis com a guerra entre Caim e Abel, a guerra pela Torre de Babel. “Guerras entre irmãos” surgiram pouco depois da criação do homem e da mulher por Deus: “Há como que um anti-senso da criação, é por isso que a guerra é sempre destruição. Por exemplo, trabalhar a terra, tomar conta dos filhos, manter uma família, fazer a sociedade crescer: isto é construir. Fazer a guerra é destruir. É uma mecânica de destruição”.

Sofrimento

O Papa Francisco inclui o tratamento “criminoso” reservado a milhares de migrantes. “Para chegar ao mar sofrem tanto”, diz o Pontífice, e volta a denunciar as “lagers” na Líbia: “Quanto sofrem nas mãos dos traficantes aqueles que querem fugir”. Há filmes que mostram isto e muitos são conservados na seção migrantes e refugiados do Dicastério para o Desenvolvimento Humano. “Eles sofrem e depois arriscam-se a atravessar o Mediterrâneo”. Depois, por vezes, são rejeitados, pois alguém que, por responsabilidade local, diz “Não, aqui não vêm”; há estes navios que andam à procura de um porto, que voltam ou morrem no mar. Isto está acontecendo hoje”, reitera o Papa.

E, como em outras ocasiões, repete o princípio de que “cada país deve dizer quantos imigrantes pode acolher”: “Este é um problema de política interna que deve ser bem pensado e dizer “eu posso até este número”. E os outros? Existe a União Europeia, temos de concordar, para que possamos alcançar um equilíbrio, em comunhão”. Neste momento, em vez disso, apenas “injustiça” parece emergir: “Eles vêm para a Espanha e Itália, os dois países mais próximos, e não são recebidos noutro lugar. O migrante deve ser sempre acolhido, acompanhado, promovido e integrado. Acolhido porque há uma dificuldade, depois acompanhá-lo, promovê-lo e integrá-lo na sociedade”. Acima de tudo, integrá-lo a fim de evitar a guetização e os extremismos filhos de ideologias, como aconteceu na tragédia de Zaventem, na Bélgica, com os dois agressores “belgas”, mas “filhos de migrantes guetizados”. Além disso, os migrantes são recursos em países que registam um forte declínio demográfico. Por conseguinte, sublinha o Papa Francisco, “devemos pensar inteligentemente na política migratória, uma política continental”. E o fato de que “o Mediterrâneo é hoje o maior cemitério da Europa deve fazer-nos pensar”.

Divisão no mundo

Da mesma forma, o Papa, interpelado sobre isto pelo apresentador, exorta a refletir sobre o que parece ser uma tremenda divisão no mundo: uma parte desenvolvida onde se tem “a possibilidade de escola, universidade, trabalho”; outra, com as “crianças que morrem, migrantes que se afogam, injustiças que vemos também nos nossos próprios países”. A tentação “muito feia”, sublinha o Pontífice, é “a de olhar para o outro lado, não olhar”. Sim, há os meios de comunicação social que mostram tudo “mas nós tomamos distância”; sim, “queixamo-nos um pouco, ‘é uma tragédia!” mas depois é como se nada tivesse acontecido”. “Não basta ver, é necessário sentir, é necessário tocar”, insiste Francisco. “Sentimos falta de tocar as misérias e o tocar leva-nos ao heroísmo”. Penso nos médicos, enfermeiros e enfermeiras que deram as suas vidas nesta pandemia: tocaram o mal e escolheram ficar ali com os doentes”.

Terra

O mesmo princípio se aplica à Terra. Mais uma vez, o Papa Francisco reitera o apelo a cuidar da Criação: “É uma educação que temos de aprender”. O Papa olha para a Amazônia e aos problemas de desflorestação, falta de oxigênio, mudanças climáticas: existe o risco de “morte da biodiversidade”, existe o risco de “matar a Mãe Terra”, afirma. Prosseguiu citando o exemplo dos pescadores de San Benedetto del Tronto, que encontraram cerca de 3 milhões de toneladas de plástico num ano e tomaram medidas para remover todos os resíduos do mar. “Temos de colocar isto na nossa cabeça: tomar conta da Mãe Terra”, diz o Papa. 

Francisco cita uma uma canção de Roberto Carlos na qual um filho pergunta ao seu pai “porque é que o rio já não canta. O rio não canta – o Papa destaca o Papa falando das mudanças climáticas – porque já não existe mais”.

Futuro

O futuro, do mundo e da Igreja, ocupa amplo espaço na entrevista. O futuro do mundo, como prefigurado na “Fratelli tutti”, com o homem no centro das economias e das escolhas. Esta é uma prioridade que o Papa diz partilhar com muitos chefes de Estado que têm bons ideais. Estes, contudo, colidem com “condicionamentos políticos e sociais, também na política mundial, que impedem as boas intenções”. Estas são “sombras” que exercem pressão sobre a sociedade, sobre o povo, sobre aqueles que têm papéis de responsabilidade, diz o Papa: “E depois é preciso negociar muito”.

Oração

Ele explica então a importância de rezar: “Rezar”, diz, “é o que uma criança faz quando se sente limitada, impotente [ela diz] ‘papai, mamãe’. Rezar significa olhar para os nossos limites, as nossas necessidades, os nossos pecados…. Rezar é entrar com força, para além dos limites, para além do horizonte, e para nós, cristãos, rezar é encontrar o ‘pai'”. “A criança”, insiste o Papa, “não espera pela resposta do papai, quando o papai começa a responder ela vai para outra pergunta. O que a criança quer é que o olhar do seu pai esteja sobre ela. Não importa qual seja a explicação, importa apenas que o papai olhe para ela, e isso dá-lhe segurança. Rezar é um pouco isso”.

Amigos

As perguntas tocam depois em áreas mais pessoais: “Alguma vez se sente só? O senhor tem amigos verdadeiros”, pergunta-se ao Papa. “Sim”, responde, “tenho amigos que me ajudam, eles conhecem a minha vida como um homem normal, não que eu seja normal, não. Tenho as minhas próprias anomalias, eh, mas como um homem comum que tem amigos; e gosto de estar com os meus amigos às vezes para lhes contar as minhas coisas, para ouvir as deles, mas de fato preciso de amigos. Essa é uma das razões pelas quais não fui viver no apartamento papal, porque os papas que lá estiveram antes eram santos e eu não sou tanto assim, não sou tão santo. Preciso de relações humanas, é por isso que vivo neste hotel de Santa Marta, onde se encontram pessoas que falam com todos, se encontram amigos. É uma vida mais fácil para mim, não tenho vontade de fazer outra, não tenho a força e as amizades dão-me força. Pelo contrário, preciso de amigos, eles são poucos, mas verdadeiros”.

(Fragmentos da entrevista, selecionados a partir do original de Vatican News)

Tags:
ComunicaçãoIgrejaPapa Francisco
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