Aleteia logoAleteia logoAleteia
Sexta-feira 26 Abril |
Aleteia logo
Atualidade
separateurCreated with Sketch.

“Os soldados russos que não saberão por que morreram ou foram mortos”

Soldados russos

@lapatina_ / Twitter

Soldado russo recebe alimento e vê a mãe em uma chamada de vídeo

Francisco Vêneto - publicado em 10/03/22

Muitos russos, civis e soldados, têm pagado com a liberdade e com a vida o preço de dizerem não à guerra de Vladimir Putin

Nesta semana, repercutiu com força nas redes sociais católicas a carta aberta do pe. Pedro Opeka, missionário lazarista em Madagascar, nascido na Argentina de família eslovena, indicado nada menos que cinco vezes ao Prêmio Nobel da Paz. Com quase 50 anos de trabalho pelos mais pobres de Madagascar, ele construiu Akamasoa, uma verdadeira cidade dedicada aos menos favorecidos e que abriga hoje 25.000 habitantes perto da capital do país. Akamasoa também é o nome da associação responsável pela obra, fundada pelo pe. Opeka, e que já ajudou 500.000 pessoas.

A carta aberta do pe. Opeka foi dirigida “ao meu irmão Vladimir Putin”. O leitor tem acesso ao conteúdo integral nesta matéria.

Em mais do que um dos poderosos trechos da carta, o missionário que dedicou a vida a lutar pela paz coloca o tirano russo diante da verdade de que ele não está martirizando apenas estrangeiros inocentes, mas também seus próprios cidadãos russos, a começar pelos soldados obrigados a lutar uma guerra que não é deles:

“É fácil obrigar soldados cidadãos russos, que se recusariam a lutar e, portanto, incorreriam na penalidade de acusá-los de serem traidores da Pátria, a atacar e matar irmãos e irmãs de outra nação sob falsos pretextos”.

E ainda:

“Como podemos aceitar hoje a dramática morte imposta aos soldados ucranianos ou russos? Todos esses soldados têm famílias, têm irmãos e irmãs que os lamentarão se morrerem. Penso nos soldados russos que não saberão por que morreram ou por que foram mortos”.

Os russos que não querem uma guerra que não é deles

Têm abundado relatos sobre soldados russos que se entregam voluntariamente ao exército ucraniano, ou que sabotam os tanques de combustível dos próprios veículos de guerra, porque não querem atacar e matar seus irmãos eslavos em nome da insanidade do seu ditador.

Comoveu o mundo, por exemplo, o vídeo que mostra um soldado russo capturado, recebendo água e comida de voluntários ucranianos: ele cai em prantos quando lhe permitem telefonar para a mãe. Um dos repórteres que divulgou as cenas frisou:

“Muitas dessas tropas [russas] são apenas de adolescentes, sem absolutamente nenhuma ideia do real motivo dessa guerra”.

Há notícias, de fato, de que mães de soldados russos estão denunciando que o envio de seus filhos a uma guerra que não é deles foi feito de modo forçado e, portanto, inconstitucional. A própria representação oficial da Ucrânia na ONU reproduziu um áudio enviado por um soldado russo à própria mãe, antes de ser morto na guerra, no qual afirmava, assustado, que o exército russo estava sendo forçado a atacar civis da nação irmã.

Milhares de cidadãos russos já foram presos em suas próprias cidades porque tiveram a coragem de protestar publicamente contra esta guerra que não é deles. Milhões de cidadãos dos dois países diretamente envolvidos na guerra têm família e amigos em ambos os lados da fronteira e querem a paz entre seus povos.

Católicos russos têm se arriscado em campanhas de oração ininterrupta pela paz na Ucrânia, mesmo “avisados” pelo seu governo de que todo cidadão russo que afirmar que existe uma guerra em curso poderá ser condenado a 15 anos de cadeia por divulgar “fake news” contra o próprio país – oficialmente, o regime russo nega que esteja em guerra e obriga a mídia do país a usar o termo “operação militar especial”.

“Na guerra, a primeira vítima é sempre a verdade”

Sim, há milhões de russos que, enganados pela narrativa poderosa do regime de Putin, se negam a crer que o seu exército esteja guerreando contra os ucranianos, devastando suas cidades e matando sua população civil: eles deverão responsabilizar-se pelo próprio juízo errôneo, mas é preciso registrar que, mesmo errados, eles não concordam com a guerra, já que nem sabem ao certo a extensão real do que seu governo impõe que seja descrito como “operação militar especial”.

Atribui-se a vários autores a frase “Na guerra, a primeira vítima é sempre a verdade”. Quem quer que a tenha cunhado, lapidou uma verdade insofismável. Para cessar as guerras de hoje e evitar as de amanhã, portanto, é sempre crucial defender a verdade – o que, neste momento, também significa não despejar sobre as costas arcadas de todo o povo russo a responsabilidade que muitos deles não têm sobre a insanidade do seu governante.

Tags:
GuerraIdeologialiberdadePolíticaUcrânia
Top 10
Ver mais
Boletim
Receba Aleteia todo dia