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O cristianismo é uma deturpação do Evangelho?

Pe. José Eduardo de Oliveira

Pe. José Eduardo de Oliveira

Pe. José Eduardo - Reportagem local - publicado em 20/07/22

O pe. José Eduardo Oliveira responde à acusação de que o cristianismo seria uma "invenção constantiniana"

O cristianismo é uma deturpação do Evangelho? Há quem diga, até mesmo, que o cristianismo seria uma “invenção” do imperador romano Constantino, desviando-se da verdadeira doutrina de Cristo.

O pe. José Eduardo Oliveira respondeu a essas acusações mediante o seguinte comentário que publicou em sua rede social:

“Com certa frequência, escuto alguns pregadores enaltecendo o ‘evangelho’ em detrimento daquilo que eles chamam de ‘cristianismo’, o qual, segundo eles, seria uma ‘invenção constantiniana’ (sic!).

Rezando a liturgia das horas, deparei-me com um texto de Santo Inácio de Antioquia, que foi bispo desta cidade aproximadamente entre os anos 68 e 100 (os mais modernos dizem que 107 ou 110). Em todo caso, ele foi mártir e discípulo de ninguém menos que São João Evangelista, o último apóstolo a morrer.

Em sua Carta aos Magnésios, ele afirma: ‘É absurdo falar de Jesus Cristo e viver como judeu. O cristianismo não depositou sua fé no judaísmo, mas o judaísmo no cristianismo, junto ao qual se reuniram todas as línguas que creram em Deus’ (Carta aos Magnésios 10,3). Vale lembrar que essas cartas eram consideradas por parte da Igreja como inspiradas e eram até lidas na liturgia; foi bastante depois que a Igreja definiu que não fariam parte do cânon do Novo Testamento.

Fui olhar o texto grego e, interessantemente, ali aparece exatamente a palavra Χριστιανισμος (cristianismos), de modo que a tradução faz uma simples transliteração.

Não é de se admirar que as coisas sejam assim, visto que são os próprios Apóstolos que instruem os fieis a permanecerem nas ‘palavras da fé’ e na ‘boa doutrina’ (‘logois tes pisteos’ e ‘kales didascalias’, 1Tm 4,6) e na ‘palavra da verdade’ (‘logon tes aletheias’, 2Tm 2,15).

Em outras palavras, a ideia de que o ‘evangelho’ seria uma nova ‘consciência existencial’ que leva apenas a uma prática pode soar poético aos ouvidos dos nossos contemporâneos, mas é muito estranha para a tradição apostólica. De fato, a pregação dos Apóstolos constitui um corpo de ideias que pode ser adequadamente chamado de ‘cristianismo’, sim, como o faz Santo Inácio, possivelmente por tê-lo ouvido do seu próprio Mestre, São João Evangelista”.

Cristianismo versus Evangelho?

O padre prossegue:

“De onde, então, provém essa tentativa de dicotomizar o Evangelho e o Cristianismo?

Rastrear a história dessas pretensões a uma pureza espiritual mais arcaica e originalmente cristã nos levaria longe demais. Contudo, esse joguinho de palavras não é algo tão antigo. Obviamente, quem reproduz o esquema a maior parte das vezes não é consciente do background de suas próprias ideias e, ignorantemente, papagaia um conjunto de conceitos apressados, forjados em sua imaginação fértil.

Ernst Laclau, em sua ‘Estratégia e hegemonia socialista’, desenvolve a doutrina de Lênin de que o maior número de contradições internas é o que provoca a ruptura revolucionária. Segundo ele, ‘o processo revolucionário somente pode ser concebido como uma articulação política de elementos dessemelhantes’ (Intermeios, 2015, p. 123).

Portanto, para diluir o cristianismo numa ética genérica e pós-moderna é preciso, segundo essa técnica, antagonizá-lo desde dentro, criando dialéticas internas que o levam è disrupção. É disso que se trata. A estratégia verbal já é a assimilação da técnica em malabarismos desconstrucionistas dignos de um Derridas”.

O padre conclui:

“A essa verborreia, São Paulo chamou de ‘loquacidade frívola’ (1Tm 1,6) e quase profeticamente mandou a Timóteo: ‘guarda o que te foi confiado, evitando os falatórios inúteis e profanos e as contradições do saber, como falsamente lhe chamam’ (1 Tm 6,20) e exortou-o a não dar ouvidos a ‘contendas de palavras’ (1Tm 6,4).

Joguinhos de palavras. É disso que se trata. E com a finalidade de esvaziar a fé para dilui-la numa sopa herética e com gosto mundano”.

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