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Tragédia do coroinha assassinado em 2018 na Nicarágua volta a despertar comoção

SANDOR DOLMUS

Cortesía

Francisco Vêneto - publicado em 11/10/22

Recente onda de compartilhamentos deste caso nas redes sociais do Brasil gerou certa confusão

A tragédia do coroinha de 15 anos de idade que foi assassinado em 2018 na Nicarágua voltou a despertar comoção recentemente por ter sido recordada como um precedente da perseguição exacerbada que o regime de Daniel Ortega está promovendo na atualidade contra a Igreja Católica no país.

O adolescente Sándor Dolmus, coroinha da catedral de León, foi assassinado por paramilitares em 14 de junho de 2018, no contexto dos graves distúrbios sociais que se intensificavam na Nicarágua desde abril daquele ano em protesto contra o governo de Ortega.

A recente onda de compartilhamentos deste caso nas redes sociais do Brasil gerou certa confusão, pois, dada a polarização política da própria sociedade brasileira às vésperas da eleição presidencial, o caso foi citado em grupos anti-Lula como um exemplo do que está ocorrendo sob o regime esquerdista de Ortega, enquanto grupos anti-Bolsonaro acusaram os oponentes de descontextualizar um fato ocorrido há 4 anos e que, a seu ver, não teria relação com a atual perseguição à Igreja Católica na Nicarágua.

Precedentes

Entretanto, já se verificavam em 2018 episódios “isolados” de violência contra sacerdotes e locais católicos, embora ainda não fossem vistos como especificamente direcionados à Igreja, e sim como “incidentes” num contexto mais “genérico” de distúrbios sociais.

Gradualmente, porém, o ditador foi intensificando a repressão anticatólica por considerar a Igreja como uma inimiga do seu governo – e assim declará-lo explicitamente em diversas ocasiões, acusando o clero católico de golpista.

Tiro no peito

Naquele 14 de junho de 2018, Sándor Dolmus caminhava pela rua, nas proximidades da igreja de São José, em León, quando foi baleado no peito.

O irmão Holman Espinoza, do Instituto de Vida Consagrada Missionários Marianos, ajudava o jovem no processo de discernimento vocacional. “Ele queria ser religioso na nossa comunidade”, relatou, à época. Segundo Espinoza, “não dava para andar nas ruas” em León: “Há disparos o tempo todo. Há muito perigo”.

Regime de Ortega responsabilizado

Outro testemunho relevante sobre a morte de Sándor veio de Byron Estrada, membro do Movimento 19 de Abril, de León. O jovem atribuiu ao regime de Daniel Ortega a responsabilidade direta pelo assassinato do coroinha:

“Infelizmente, a Frente Sandinista, junto com seus paramilitares, é hoje a culpada por isso. E eu continuo apelando, como estudante, como membro do movimento: não queremos mais sangue derramado na nossa Nicarágua e muito menos em León”.

Tragicamente, não foi o que aconteceu: o regime iria se tornar ainda mais repressivo com o tempo, culminando na perseguição aberta que se verifica hoje na Nicarágua.

Reações da Igreja

Ainda em 2018, o bispo auxiliar de Manágua, dom Silvio José Báez, registrou o seu repúdio ao assassinato de Sándor Dolmus:

“A mensagem que acabo de receber me fez chorar. Os sacerdotes me informaram sobre a dolorosa e indignante notícia de que os paramilitares assassinaram um coroinha da catedral de León (…) Ele tinha 15 anos de idade. Foi assassinado com um tiro no peito. Basta! Quanta dor! Que Deus console a sua família e acolha no altar do céu o nosso irmão coroinha Sándor Dolmus”.

No mesmo contexto, o cardeal Leopoldo Brenes, arcebispo de Manágua, denunciou que os grupos paramilitares ligados ao regime de Daniel Ortega vinham perpetrando ataques contra a população e contra a Igreja.

Entre as violências da época, haviam repercutido, por exemplo, o episódio em que mascarados atacaram com um morteiro a Universidade Centro-Americana (UCA) da Nicarágua, administrada pelos padres jesuítas, ou as ameaças de morte contra o pe. Vicente Martínez Bermúdez, da diocese de Matagalpa – a mesma cujo bispo seria preso ilegalmente em 2022.

À época do assassinato de Sándor Dolmus, a repressão do regime de Ortega já tinha causado a morte de mais de 140 pessoas durante os protestos populares em várias cidades do país.

“Senhor Jesus, coloco nas tuas mãos o teu país”

No mesmo dia 14 de junho, Sándor Dolmus tinha compartilhado no Facebook a sua última publicação. Aquele que se tornaria conhecido como “o coroinha da Nicarágua” escreveu:

“Senhor Jesus, coloco nas tuas mãos o teu país, a Nicarágua, especialmente León; não nos abandones, dá-nos a paz. Eu sei que nunca abandonaste ninguém. Ajuda a tua cidade de León; ajuda-nos a vencer o mal”.

Tags:
ditaduraIdeologiaPerseguiçãoPolíticaViolência
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