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A distinção entre “sacro” e “profano”

Catedral

Jar.ciurus/Wikipedia | CC BY-SA 3.0 pl

Pe. José Eduardo - publicado em 24/04/23

Essa distinção é representada, por exemplo, pelo átrio ou portal dos templos, ou pelos ritos de tirar o sapato, cobrir ou descobrir a cabeça, que marcam a passagem de um certo “caos” cosmológico para uma “ordem” transcendental

A distinção entre “sacro” e “profano” pertence à estrutura antropológica mesma, como demonstrou exaustivamente Mircea Eliade. Segundo o renomado antropólogo, essa distinção é não apenas importante, mas fundamental, pois o ser humano não consegue dar um sentido para a sua vida sem transcendê-la dos fatos concretos para um significado simbólico mais elevado. É justamente essa distinção que é representada, por exemplo, pelo átrio ou portal dos templos, ou pelos ritos de tirar o sapato, cobrir ou descobrir a cabeça, que marcam a passagem de um certo “caos” cosmológico para uma “ordem” transcendental.

Quando o protestantismo quis abolir a distinção entre sacro e profano com a pretenção de sacralizar toda a ordem criada, a única coisa que conseguiu foi profanar a ordem sacra, dessacralizando-a pela austeridade puritana até despojar-se num vazio espiritualista que os movimentos místicos posteriores preencheram justamente com expressões artísticas emprestadas do universo profano (o pop acabou se tornando expressão de culto) ou mesmo pagão (veja-se o reteté, por exemplo).

A inquietação por uma ritualidade fez com que os movimentos pentecostais tentassem criar uma representação para-litúrgica simbólica e quase sacramental, mas que nunca conseguiu se estabilizar, justamente pela incongruência doutrinal que sempre joga o espontâneo contra o ritual.

Hostilizada como “religiosa” (o termo assumiu conotação negativa nos círculos protestantes liberais e até mesmo mais espiritualistas), a ritualidade não é percebida justamente como um fator exigido pela própria natureza humana tal como criada por Deus. Ninguém suporta a necessidade de inventar tudo o tempo todo, o espontaneísmo é cansativo, o amor possui uma linguagem expressiva que é estruturalmente a mesma para todos nós… Esses e outros elementos nos mostram como a tentativa de abolição do “sacro” apenas é uma precipitação tola, oriunda de certo idealismo inocente.

Querer contrapor o “sacro” ao “santo” é outra sandice das mais absurdas, pois ”santo” significa justamente “separado”, “dedicado”, “consagrado”… E tudo isso redunda na necessidade de demarcar muito bem uma distinção de âmbitos, o que não implica nenhuma contradição ou isolamento entre os mesmos. O próprio Cristo expulsou os vendilhões do Templo chamando-o de “casa de oração” e, portanto, sublinhando a diferença entre este e um mercado profano qualquer…

Se o ritmo dos ritos nos fala dessa repetição antifonal característica do eterno e até a realidade do Templo e da liturgia de Israel e da Igreja é entendida como cópia das realidades celestes, nada mais sublime do que a sacralidade do culto, a sua majestade e elevação, a solenidade e dignidade que extasiam a alma causando nela aquele estupor e maravilhamento que a eleva da terra para algo que é possível experimentar do céu.

Pe. José Eduardo de Oliveira, via Facebook

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