Aleteia logoAleteia logoAleteia
Quarta-feira 01 Maio |
Aleteia logo
Atualidade
separateurCreated with Sketch.

Paquistão: Jovem cristão é condenado à morte por blasfêmia por ver desenhos de Maomé

Prześladowani chrześcijanie w Pakistanie

K.M. Chaudary/AP/East News

Reportagem local - publicado em 11/06/23

O caso ocorreu em 2019 mas só agora o tribunal de Bahwalpur, no Punjab, anunciou a sentença: Nouman Asghar, um jovem cristão de 23 anos, e um seu primo, foram condenados à morte por blasfémia por terem alegadamente visto no smartphone imagens do profeta Maomé

“É muito perigoso ser cristão no Paquistão”, dizia o Arcebispo de Lahore há pouco mais de uma semana, em Évora, durante a inauguração de uma exposição promovida pela Fundação AIS nesta cidade alentejana. D. Sebastian Shaw referia-se essencialmente aos problemas causados pelas falsas acusações de blasfémia e também ao drama das raparigas e mulheres cristãs que sistematicamente são raptadas e violentadas e forçadas a converterem-se ao Islão, e tudo isto perante o silêncio cúmplice da sociedade paquistanesa. Poucos dias depois, era conhecido mais um caso relacionado com a Lei da Blasfémia.

Desta vez, a sentença de morte proferida pelo tribunal de Bahwalpur, no Punjab, caiu sobre Nouman Asghar, um cristão de 23 anos, e o seu primo Sunny Mushtaq, da mesma idade. O crime? Terem alegadamente visto imagens consideradas “blasfemas” do profeta na aplicação WhatsApp do telemóvel. A decisão do juiz de primeira instância foi tomada a 30 de Maio, apesar de ambos os jovens terem sido presos pela polícia em 2019, quando tinham apenas 19 anos de idade. O juiz invocou o artigo 295-C do código penal, que pune ofensas ao profeta Maomé. Apesar de o julgamento ter terminado em Janeiro, só a 30 de Maio é que a sentença foi proferida. A família do jovem cristão nega em absoluto a acusação, dizendo que se tratou apenas de uma brincadeira e que as imagens foram enviadas por um amigo, por sinal pertencente até à comunidade muçulmana. 

Tempos sombrios e difíceis

Este caso está naturalmente a inquietar os cristãos paquistaneses, tendo Joel Amir Sohatra, um antigo membro do Parlamento Provincial do Punjab, enviado uma mensagem para a Fundação AIS em que dá conta do medo e do sentimento de ameaça que está a alastrar pela comunidade. “Condenamos veementemente a utilização abusiva da lei da blasfémia no Paquistão. Esta cria insegurança e é um instrumento especialmente fácil de utilizar contra as minorias religiosas do Paquistão”, disse Sohatra na mensagem escrita enviada para Lisboa. Para este destacado militante cristão paquistanês, “as minorias já estão a viver sob o medo e a ameaça”, pelo que se exige “a abolição desta lei ou a introdução de algumas alterações”.

De fato, Joel Amir Sohatra pede à União Europeia para “exercer mais pressão” sobre as autoridades locais, “ajudando as minorias religiosas neste domínio” em concreto. A questão é complexa e leva até a olhar com desconfiança para o próprio sistema judicial. Segundo o portal de notícias do Vaticano, a advogada Aneeqa Maria Anthony, da ONG ‘The Voice Society’, que cuida da defesa jurídica de Asghar e Mushtaq, “o magistrado ignorou todos os procedimentos e ignorou todas as provas a favor do acusado. Quis somente cumprir o seu ‘dever sagrado’ de punir um suposto blasfemador. Pensamos que o mesmo destino caberá a Sunny Mushtaq. Eles foram presos por uma brincadeira entre adolescentes. Suas famílias estão a sofrer muito. A nossa equipa jurídica do ‘The Voice’ está a fazer todo o esforço necessário para lhes garantir justiça, ajudando as suas famílias e estando ao seu lado nestes tempos sombrios e difíceis”. 

O tormento das falsas acusações

A questão das falsas acusações de blasfémia, que acabam por se transformar num tormento e, como neste caso em concreto, em condenações à morte, são um dos mais graves problemas que a comunidade cristã enfrenta actualmente no Paquistão. O Padre Emmanuel Yousaf, parceiro de projectos da Fundação AIS neste país e também Director da Comissão Nacional de Justiça e Paz, referiu, em 2021, em declarações à Ajuda à Igreja que Sofre, que “os casos de blasfémia afectam 52% das minorias religiosas e 14,5% destes casos dizem respeito especificamente aos Cristãos”. Porém, como a comunidade cristã representa menos de 1,3% da população, este número acaba por ser extraordinariamente alto. E com tendência para crescer.

“Com base na nossa experiência, que se fundamenta em casos de blasfémia documentados desde 1987, verificamos um aumento alarmante de acusações de blasfémia nos últimos anos, especialmente depois do aumento da utilização das redes sociais como Facebook, Twitter e WhatsApp”, disse o sacerdote. Um aumento que está a levar muitas famílias cristãs a pensar em abandonar o Paquistão… Joel Amir Sohatra diz, na mensagem enviada para a Fundação AIS, que “as pessoas não querem ficar no país [pois] não se sentem seguras e até existe um forte sentimento de que os cristãos estão a ser privados dos seus direitos constitucionais”.

“Toda a aldeia foi atacada…”

De fato, as falsas acusações de blasfémia podem transformar a vida dos cristãos e de suas famílias num autêntico inferno. O Padre Emmanuel Yousaf refere que até a própria comunidade acaba por ser, muitas vezes, vítima de violência criminosa. “Uma acusação falsa a uma pessoa não se limita apenas à própria vítima ou à sua família, mas toda a localidade e vizinhança são afectadas. Até as casas e as igrejas são atacadas e queimadas.” E deu vários exemplos: “No incidente em Shanti Nagar, uma aldeia cristã próxima da cidade de Khanewal, toda a aldeia foi atacada por causa de uma pessoa acusada falsamente, Baba Raji. Da mesma forma, sete pessoas foram queimadas vivas em Gojra, uma cidade perto de Faisalabad, e Joseph Colony, uma aldeia nos arredores da cidade de Lahore, foi atacada por uma turba furiosa que atou fogo a mais de 150 casas…”, referiu. O Padre Emmanuel Yousaf sublinha ainda que mesmo nos casos em que se documenta e prova que a vítima foi falsamente acusada, “mesmo depois de absolvida, não pode regressar ao seu bairro, aldeia ou mesmo à sua cidade natal”. Ou seja, são vidas ameaçadas para sempre…

(Com AIS)

Tags:
MuçulmanosPerseguiçãoViolência
Top 10
Ver mais
Boletim
Receba Aleteia todo dia