A parábola do semeador, no fundo, não é tanto sobre o semeador e a semente quanto sobre o solo em que cai a semente lançada pelo semeador.
Jesus menciona quatro tipos de solo – e, nessas quatro categorias, todos nós podemos nos encontrar. O cardeal Carlo Maria Martini apontou o que significa hoje cada tipo de solo. As palavras dele não são fáceis de aceitar, porque expõem a verdade sobre o ser humano.
“Um semeador saiu a semear”…
1 | Uma parte das sementes caiu à beira do caminho
“…e vieram as aves e as comeram”.
Para o cardeal Martini, essa descrição se aplica às pessoas cuja vida é semelhante ao asfalto. Nada cresce no asfalto. As raízes não penetram no asfalto. Assim são aqueles que não se fazem quaisquer questionamentos sobre a fé, sobre os valores espirituais: nenhuma questão religiosa permeia a sua vida.
2 | Algumas sementes caíram em terreno pedregoso, com pouca terra
Elas “brotaram imediatamente, porque o solo não era profundo“, mas “quando o sol nasceu, queimou-as e elas secaram por falta de raízes“.
As “pessoas de solo pedregoso” são instáveis, cambiantes, internamente incoerentes, superficiais e individualistas, diz o cardeal Martini. Até são pessoas batizadas, que dizem acreditar em Deus, mas, na prática, não participam da paróquia nem da vida da Igreja. Elas se interessam pela religião na sua dimensão de cultura, folclore ou tradição, mas a essência da religião não toca a sua vida.
3 | Algumas sementes caíram entre espinhos
“…e os espinhos cresceram e as sufocaram”.
As “pessoas de solo espinhoso” são sufocadas por uma mentalidade consumista. Às vezes há referências a Cristo e à Igreja na vida dessas pessoas, mas elas vivem como os pagãos, indiferentes aos valores do Evangelho. O ritualismo externo é suficiente para elas. Pedirão o batismo, a primeira comunhão e a confirmação para seus filhos e, às vezes, até vão à igreja, mas não entendem a necessidade da fé na sua vida.
4 | Mas algumas sementes caíram em solo rico
“…e produziram frutos: cem, sessenta ou trinta vezes mais”.
As “pessoas de solo fértil”, continua o cardeal Martini, “são, apesar das aparências, muito diferentes entre si, porque há muita diferença entre colheitas de trinta e de cem vezes mais”. Os que produzem trinta vezes mais são pessoas que acreditam e praticam, mas precisam ser mais capazes de aceitar novas propostas. Os que produzem uma colheita de sessenta vezes são frequentemente zelosos, ativos em vários movimentos religiosos. Mas é o rendimento de cem vezes o objetivo pelo qual todos devemos esforçar-nos.
Conclusão
Ao relermos a parábola de Jesus e o comentário do cardeal Martini a seu respeito, podemos perguntar-nos qual é o grupo de pessoas que mais nos representa. Onde nos situamos hoje? A resposta a esta pergunta é crucial, porque ainda podemos mudar. Precisamos ser honestos com nós mesmos.
