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A separação de Sandy e Lucas consterna milhões de fãs: o que isto diz sobre o conceito de casamento?

Lucas Lima e Sandy

Lucas Lima | Instagram

Lucas Lima e Sandy

Reportagem local - publicado em 26/09/23

Entre as necessárias manifestações de respeito à privacidade da família e à sua liberdade, é observável também a surpresa e a consternação de milhões de pessoas. Estará inscrito no coração humano, de modo natural, em algum grau, um espontâneo reconhecimento do casamento indissolúvel como um bem desejável e pelo qual se tende a torcer?

Uma das características mais admiradas – e ao mesmo tempo mais bombardeadas – do matrimônio católico é a sua indissolubilidade.

O sacramento do matrimônio não imprime caráter indelével na alma, como ocorre, por exemplo, com o batismo – o matrimônio católico não é indissolúvel para toda a eternidade, mas sim “até que a morte os separe”, tanto que a pessoa viúva pode livremente receber de novo este sacramento se atender aos seus demais requisitos.

O caso é que, enquanto os cônjuges viverem, o seu matrimônio não poderá ser desfeito nesta vida por nenhuma outra causa além da morte: “o que Deus uniu, o homem não separe”, determinou Jesus. E, aliás, é basicamente por conta desta ordem expressa do próprio Cristo que a Igreja não tem autoridade para modificar a doutrina sobre o matrimônio indissolúvel. Cabe-lhe cumpri-la.

Um grau de exigência extraordinário

É compreensível que, do ponto de vista humano, um grau tão sublime de comprometimento pareça inspirador quando comemorado por casais privilegiados de anciãos que celebram as suas bodas de diamante junto aos filhos, netos e bisnetos, mas também pareça irrealista quando apresentado como diretriz a ser posta em prática, sem exceções, por todo e qualquer casal católico, em toda e qualquer circunstância. Mesmo assim, continua não sendo da alçada da Igreja dissolvê-lo: Cristo não lhe deu essa autoridade – ao contrário, impôs-lhe que o pregue como indissolúvel, independentemente dos tempos e lugares.

Não custa reforçar, porém, que o indissolúvel é o sacramento do matrimônio e não necessariamente a convivência dos cônjuges. É por isso que, embora não tenha a permissão de Cristo para abençoar segundas núpcias de quem já está sacramentalmente casado com outro cônjuge ainda vivo, a Igreja permite, sim, que um casal se separe e cada um siga a sua vida, desde que castamente – afinal, eles continuarão casados do ponto de vista sacramental e, portanto, cometeriam adultério ao se relacionarem com outros parceiros, mesmo estando separados de facto.

Sim, o casamento católico é extremamente exigente.

E sim, a Igreja tem consciência de que nem todos os casais conseguem viver à risca e pelo resto da vida esse grau de exigência. Também é por isso que, além de aceitar (e às vezes até recomendar) a separação conforme descrita pouco acima, a Igreja também se disponibiliza a receber e analisar pedidos de reconhecimento de nulidade matrimonial – o que, por sua vez, requer muito cuidado para não cair na banalização, mas este já seria tema para outro artigo.

A indissolubilidade é um bem naturalmente desejável?

O fato é que a Igreja não vai mudar a doutrina da indissolubilidade do matrimônio e o motivo fundamental é simples: ela não pode.

Ocorre que este motivo, de natureza dogmática, não é nem pode ser o único.

Mesmo que seja da perspectiva da tão propalada “riqueza da diversidade”, é positivo que pelo menos uma grande instituição de alcance mundial continue defendendo o ideal do casamento indissolúvel no meio de sociedades cada vez mais fluídas e repletas de modelos alternativos. É democrático que uma instituição bimilenar exerça o seu direito de defender um ideal desafiador de relacionamento, natural e ao mesmo tempo sobrenatural, duradouro até a morte, entre um homem e uma mulher abertos à geração da vida, que se amem sem depender da oscilação das paixões e que não o façam por pressão ou conveniência, mas, se não pela sincera e feliz convicção da fé, ao menos pela convicção humana de que a família é um bem objetivo, no qual vale a pena investir pelo resto da vida, apesar dos altos e baixos do relacionamento conjugal.

Este modelo de radicalidade no compromisso matrimonial parece ter perdido “popularidade” em ritmo alucinado nas últimas décadas, mas também é inegável que, mesmo numa sociedade aceleradamente secularizada e cada vez mais submetida a pautas avessas ao Evangelho, esse mesmo modelo ainda desperta uma ampla “torcida” para que “dê certo”. Será que não está inscrito no coração humano, ou no seu subconsciente, ou no seu consciente, de modo natural, em algum grau, o reconhecimento espontâneo de que o casamento indissolúvel é um bem desejável?

Essa hipótese parece manifestar-se com particular contundência quando observamos as reações de surpresa e consternação do público diante do anúncio de que um casal famoso está se separando após anos ou décadas de casamento. Não é preciso que sejam casais católicos. Basta que sejam casais. William Bonner e Fátima Bernardes. Brad Pitt e Angelina Jolie.

Sandy e Lucas

Nesta semana, o fenômeno se repete, no Brasil, com o anúncio do fim do casamento da cantora Sandy e do músico Lucas Lima, que assim se manifestaram via rede social:

“Não foi uma decisão fácil, nem impulsiva. Foram praticamente 24 anos de relacionamento e 15 anos de casados. Com altos e baixos, às vezes mais felizes, às vezes menos, mas sempre inteiros e dispostos a fazer o nosso melhor. E fizemos. Não teve briga, mágoa, traumas… a gente conseguiu enxergar que esse era o melhor caminho e vamos deixar de ser um casal do mesmo jeito que a gente foi um: com muito amor, respeito e amizade infinita. A família que a gente construiu é pra sempre. E o nosso amor também. E a gente sabe que é pedir demais, mas vamos pedir mesmo assim: por favor, respeitem nosso momento, nossa família. A gente tem um filho lindo de 9 anos que precisa de todo nosso amor e cuidado. Precisamos que esse momento tão íntimo, difícil e particular seja vivido com a mesma discrição com que a gente viveu nosso relacionamento tão feliz, tão bem-sucedido. Obrigado pela compreensão e pelos pensamentos positivos que a gente sabe que vai receber de quem gosta da gente. Vai demorar um pouquinho, mas vai ficar tudo bem”.

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Os dilemas das torcidas humanas

É o mínimo da civilidade respeitar a vida privada da família. E certamente haverá essa grande torcida para que “fique tudo bem”, conforme eles mesmos esperam, assim como também havia uma torcida para que o casamento de Sandy e Lucas fosse indissolúvel, e assim como haverá uma torcida para que eles reatem. No fim das contas, são torcidas generosas, porque desejam o bem do próximo.

E são torcidas que exemplificam os complexos e fascinantes dilemas humanos com que a Igreja também lida todos os dias: por um lado, é, sim, imprescindível exercer o respeito à privacidade das pessoas, às suas fases, às suas dores, à sua liberdade; por outro, é irrenunciável exercer também o direito e o dever de continuar convidando o mundo a um ideal matrimonial que parece inatingível, mas que a própria torcida natural de milhões de pessoas confirma que está inscrito, também naturalmente, em algum grau, em algum lugar do espírito humano.

Que Deus conceda sempre o dom da sabedoria aos casais para tomarem as suas decisões à luz do Espírito Santo, com paz na alma e livremente alicerçados na riqueza e na profundidade das informações disponíveis sobre o matrimônio e sobre as suas complexidades tão desafiadoras – e tão sublimes.

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CasamentoDivórcioSacramentos
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