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O Advento em que os céus choraram sobre Chapecó: a vida, a morte e a chuva

Sob chuva, avião traz corpos das vítimas da tragédia da Chapecoense

Reportagem local - publicado em 26/11/20

"Rorate Caeli", o sublime canto gregoriano de preparação para o Natal, e o adeus às vítimas da tragédia da Chapecoense

O Advento em que os céus choraram sobre Chapecó completa já quatro anos. O período litúrgico de preparação e expectativa para o Nascimento do Senhor tinha acabado de começar quando os céus fechados da cidade se abriram para devolver-lhe os filhos mortos sob as chuvas de outro céu, lá nas montanhas da Colômbia.

Na manhã de sábado de 3 de dezembro de 2016, quando os dois aviões da Força Aérea Brasileira surgiram nos céus de Chapecó trazendo cinquenta corpos de vítimas da tragédia, as lágrimas que milhões de pessoas do mundo inteiro não conseguiram conter se misturaram à chuva que os mesmos céus derramavam sobre a cidade.

Avião da FAB com vítimas da tragédia da Chapecoense
Captura de Tela / YouTube

Poucos símbolos são mais eloquentes e poéticos do que a chuva, nem mais ricos em significados aparentemente contraditórios. Assim como a água e o fogo, a chuva é símbolo de vida e de morte, de força e impotência, de renascimento e agonia, de alívio e de angústia, de beleza e horror. Como no ciclo da vida, as faces da chuva se misturam e se confundem, intercalando-se e unificando-se.

O Advento em que os céus choraram sobre Chapecó

A mesma chuva que caíra na Colômbia no momento da tragédia, dificultando os esforços de resgate, caía também no momento da despedida, unindo-se às lágrimas que lavavam as almas. Há clichês inevitáveis porque são profundamente espontâneos: era como se os céus também chorassem.

O choro dos céus é uma imagem forte do Advento. Um dos cânticos mais belos e sublimes não só desse período, mas de todo o repertório litúrgico da história do cristianismo, suplica em seu refrão baseado no livro do profeta Isaías (45, 8):

“Que os céus, das alturas, derramem o seu orvalho; que as nuvens façam chover a vitória; abra-se a terra e brote a felicidade e, ao mesmo tempo, ela faça germinar a justiça! Sou eu, o Senhor, a causa de tudo isso”.

Trata-se do “Rorate Caeli”, o hino magistral do Advento, inspirado pelos clamores do Antigo Testamento para que Deus nos resgatasse e nos mandasse o Messias. O “Rorate Caeli” consegue representar com sublimidade o espírito de súplica e expectativa do Advento: um espírito de espera e confiança na promessa de Deus, apesar da desolação que chove sobre a nossa alma.

Assista neste vídeo a uma interpretação desta obra-prima do canto litúrgico cristão e confira logo abaixo o texto original em latim, acompanhado da tradução em português.

Rorate Coeli

Rorate Caeli desúper et nubes plúant justum
(Derramai, ó céus, o vosso orvalho do alto, e as nuvens chovam o Justo)

Ne irascáris Dómine, ne ultra memíneris iniquitátis
Ecce cívitas Sancti facta est desérta
Sion desérta facta est, Jerúsalem desoláta est.
Domus sanctificatiónis tuae et gloriae tuae
Ubi laudavérunt Te patres nostri.
(Não vos ireis, Senhor, nem vos lembreis da iniquidade.
Eis que a cidade do Santuário ficou deserta:
Sião tornou-se deserta; Jerusalém está desolada.
A casa da vossa santificação e da vossa glória,
Onde os nossos pais vos louvaram)

Rorate Caeli desúper et nubes plúant justum.
(Derramai, ó céus, o vosso orvalho do alto, e as nuvens chovam o Justo)

Peccávimus et facti sumus tamquam immúndus nos,
Et cecídimus quasi fólium univérsi
Et iniquitátes nostrae quasi ventus abstulérunt nos
Abscondísti fáciem tuam a nobis
Et allisísti nos in mánu iniquitátis nostrae.
(Pecamos e nos tornamos como os imundos,
E caímos, todos, como folhas.
E as nossas iniquidades, como um vento, nos dispersaram.
Escondestes de nós o vosso rosto
E nos esmagastes pela mão das nossas iniquidades)

Rorate Caeli desúper et nubes plúant justum.
(Derramai, ó céus, o vosso orvalho do alto, e as nuvens chovam o Justo)

Víde, Dómine, afflictiónem pópuli tui
Et mitte quem missúrus es
Emítte Agnum dominatórem terrae
De pétra desérti ad montem fíliae Sion
Ut áuferat ipse jugum captivitátis nostrae.
(Olhai, ó Senhor, para a aflição do vosso povo,
E enviai Aquele que estais para enviar!
Enviai o Cordeiro dominador da terra
Da pedra do deserto ao monte da filha de Sião
Para que Ele retire o jugo do nosso cativeiro)

Rorate Caeli desúper et nubes plúant justum.
(Derramai, ó céus, o vosso orvalho do alto, e as nuvens chovam o Justo)

Consolámini, consolámini, pópule meus
Cito véniet salus tua
Quare moeróre consúmeris, quia innovávit te dolor?
Salvábo te, noli timére
Ego énim sum Dóminus Deus túus Sánctus Israël, Redémptor túus.
(Consola-te, consola-te, povo meu,
Em breve há de vir a tua salvação!
Por que te consomes na tristeza, se a dor te renovou?
Eu te salvarei, não tenhas medo!
Porque Eu sou o Senhor, teu Deus,
o Santo de Israel, o teu Redentor)

Rorate Caeli desúper et nubes plúant justum.
(Derramai, ó céus, o vosso orvalho do alto, e as nuvens chovam o Justo)




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Tags:
AdventoLiturgiaTragédia
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