Em uma cena de Pretend It’s a City, nova série documental do Netflix, a escritora e humorista Fran Lebowitz se queixa da falta de atenção dos pedestres, que se deslocam sem consideração pelos demais transeuntes, então ela diz: “Finja que é uma cidade” (ou “pretend it’s a city”, em inglês). Este é o mote do programa, dividido em sete episódios, criado e dirigido por ninguém menos que Martin Scorsese (Taxi Driver, Touro Indomável, Os Bons Companheiros, entre outros clássicos).
Formato inovador
Esqueça a obra do cineasta, assim como qualquer seriado que você já tenha assistido, mesmo os documentais. Pretend It’s a City tem um formato bem particular. A série está estruturada em entrevistas de estilo talk show com Scorsese e o também cineasta Spike Lee, conversas mais descontraídas com os atores Alec Baldwin e Olivia Wilde, andanças da humorista pelas ruas e pela rede de metrôs da cidade, imagens de arquivo, além de cenas nas quais ela caminha por uma impressionante maquete, pouco mais alta do que ela, que reproduz fielmente cada edifício de Nova York, a verdadeira protagonista da série.
Testemunha ocular
Cada episódio da série tem um tema, como cultura, trânsito e até mesmo as bibliotecas da cidade. As memórias de vida de Fran Lebowitz se misturam à história da principal capital dos Estados Unidos, e como uma senhora de 70 anos que vive por lá desde 1969, pode-se dizer que ela foi testemunha ocular dos principais acontecimentos da cidade nos últimos 50 anos. Desde a lembrança da época em que se mudou para lá, quando Nova York era conhecida pela violência, pela degradação e até mesmo pelo desabamento de edifícios sem manutenção, até a gentrificação e especulação imobiliária dos dias atuais, passando pelo silêncio fúnebre após os ataques de 11 de Setembro.
Curiosidades
Com humor áspero, até mesmo ranzinza, a autora relembra de suas noites de juventude na icônica casa de shows Max Kansa’s City, onde costumava ver shows da banda New York Dolls, revela um episódio hilário em que o baixista de jazz Charles Mingus (1922–1979), que era amigo dela, a perseguiu correndo do clube de Village Vanguard até o sul da ilha de Manhattan, só para depois a levar para jantar. Ela ainda se recorda de uma vez em que tomou café da manhã com Mingus e o também lendário jazzista Duke Ellington, a única pessoa, segundo ela, para quem o baixista “baixava a cabeça”.
Pretend It’s a City é uma boa atração não só pelo humor e pelo talento incontestável de Fran Lebowitz, como para conhecer mais sobre uma cidade tão fascinante, como tanta cultura e tanta história como Nova York.
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