Aleteia logoAleteia logoAleteia
Terça-feira 19 Março |
Aleteia logo
Atualidade
separateurCreated with Sketch.

“Tchau, papai”: as últimas palavras que Maurício ouviu do bebê Murilo antes da chacina em Saudades

Bebê anjo

SHUTTERSTOCK

Reportagem local - publicado em 07/05/21

"Perguntei pelo meu filho e descobri que estava morto": quando um pai tenta descrever o indescritível

“Tchau, papai”: estas foram as últimas palavras que o eletricista Maurício Massing, de 35 anos, ouviu do pequeno Murilo, de 1 ano e 9 meses, na manhã em que a barbárie perpetrada na escola infantil Aquarela, em Saudades, chocou o Brasil.

Maurício estava indo para o trabalho de carona com a esposa, Kerli da Silva, de 28 anos, que logo depois levaria o menino para o que deveria ser mais um dia normal e pacato na escolinha. Quando saiu do carro, aproximadamente às 7h15 da manhã, Maurício ouviu as últimas palavras que Murilo lhe diria nesta vida – e que deveriam ser apenas as palavras normais de uma despedida provisória de poucas horas: “Tchau, papai!“.

Por volta das 10h20, Kerli também estava no trabalho, a pouca distância da creche, quando a irmã lhe avisou que a creche tinha sido atacada. Fazia somente dois meses que Murilo frequentava a escolinha, e apenas no período matutino: até então, Kerli tinha cuidado do filho em casa durante mais de um ano e meio. À tarde, ele ficava com a avó materna.

A despedida da mãe

Em declarações ao jornal O Globo, Kerli recordou que Murilo tinha acordado cedo e tomado seu leite ainda na cama, com o irmão. Ao terminar, foi até a cozinha levando as mamadeiras dos dois. Pouco depois, quando a jovem mãe deixava o menino na porta da escola, perguntou se ele queria lhe entregar a chupeta. Murilo disse que não. E, também para ela, suas últimas palavras foram as que tinha dito ao pai logo antes: “Tchau, mamãe!“.

A tragédia

Quando Kerli recebeu a notícia do massacre, a gerente da loja onde trabalha a levou até a escola. No cenário de gritaria e choque das pessoas, com viaturas e ambulâncias já contrastando gritantemente com a rotina de uma cidade pequena, pacífica e segura, Kerli tentou entrar na creche, mas um policial a barrou no portão e declarou que as crianças tinham sido levadas para as casas vizinhas. Ela foi em busca de Murilo.

“Estava todo mundo muito desesperado, chorando muito, correndo de um lado pro outro”.

Kerli tinha chegado praticamente no mesmo instante em que o pai de outra das vítimas, a pequena Sarah Luiza Mahle Sehn, 1 ano e 7 meses. Ele conseguiu entrar pelos fundos, e, quando tentava fazer o mesmo, Kerli ouviu uma professora gritar que Murilo tinha sido levado para o hospital, situado a menos de cinco minutos da creche. A mãe correu para lá, mas voltou a ser barrada na porta. O nervosismo era tamanho que a mãe desesperada sequer conseguia recordar qual era a roupa que Murilo usava naquela manhã. Só conseguiu informações sobre o pequeno quando foi vista por uma amiga que trabalha no hospital. Foi quando Kerli recebeu a notícia devastadora: seu filhinho já tinha chegado sem vida.

“Tchau, papai”

Maurício só viria a saber da tragédia quase uma hora depois, porque, pelo trabalho, tinha ido à cidade vizinha de Pinhalzinho. Quando voltou a Saudades, lhe disseram para ir direto ao hospital. A esposa estava sendo amparada porque tinha passado mal.

“Perguntei pelo meu filho e descobri que estava morto”.

À reportagem de O Globo, o pai tentou descrever o indescritível:

“A dor é insuportável (…) É inexplicável (…) Minha dor é tão grande que nem consigo sentir revolta ainda. O luto pelo Murilo não sai da cabeça”.

Tags:
FamíliaFilhosMortepaisViolência
Top 10
Ver mais
Boletim
Receba Aleteia todo dia